Por Luisa Fragão.
Tenente-coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo e pesquisador na área de Direitos Humanos e Violência Policial, Adilson Paes de Souza afirmou em entrevista ao Fórum Café desta segunda-feira (23) que existe uma “subcultura” no meio policial que nega o racismo estrutural no país.
“Nós temos uma subcultura policial que premia o racismo. O elemento a ser combatido é o negro, o pobre. Isso se chama sujeição criminal. Nós temos um sistema formal fraco, inconsequente, não transparente, que determina que o inimigo é o preto”, afirma.
O oficial aposentado também relata que, ao estudar em sua tese de mestrado os temas abordados na formação dos policiais militares, percebeu que a questão do racismo é tratada apenas sob a ótica da lei de cotas.
“O que é ensinado, quando consta o tema de racismo, eles se limitam a falar sobre a lei de cotas, como se a questão do racismo no Brasil fosse uma questão de lei de cotas. E sabe Deus como eles abordaram esse tema”, ironiza.
“A Declaração Universal dos Direitos Humanos tinha de três a quatro horas aula e se resumia a passar o organograma da ONU”, relata Adilson, em tom de crítica. “As autoridades negam o racismo no dia a dia”, completa.
Adilson então estende sua crítica ao sistema judiciário, especialmente quando julga casos de racismo como “injúria racial”.
“O Estado é racista quando o negro agredido chega na delegacia para fazer uma queixa e é registrado como injúria racial, e não racismo. Quando o juiz julga por injúria racial e não racismo, o Judiciário chancela esse racismo”, afirma.
O pesquisador então completa dizendo que, para ele, a investigação sobre o assassinato de João Alberto por seguranças do Carrefour de Porto Alegre “vai dar em nada”. “Daqui três a quatro meses esses senhores vão ser colocados em liberdade”, afirma.
Confira a entrevista completa: