Por Jailma Lopes e Wesley Lima.
“Sou uma mulher trans, Sem Terra, pedagoga e comprometida com a luta pela Reforma Agrária”, afirma Dê, do Coletivo de Juventude e Formação do MST no Mato Grosso, ao contextualizar sua participação dentro do Movimento e sua militância em defesa de uma sociedade mais justa e igualitária.
Com 25 anos e 19 de militância, Dê conta que desde criança já sabia a sua identidade de gênero, mas foi a partir dos 14 que conversou abertamente com a família e se reafirmou quanto sujeito LGBT.
Nascida e crescida numa família que possui como base política os princípios organizativos do MST, Dê conta que não é fácil ser uma mulher trans diante do preconceito e da violência que existe no campo. “Já ouvi muito: viado bom é viado morto!”, conta.
Ela diz ainda que o MST, enquanto organização de massa, tem como espaço de luta e centralidade de forças o Campo. Nesse sentido, aponta que o Movimento surge liderado por homens heterossexuais, a partir de setores progressistas, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), reproduzindo uma concepção patriarcal de família.
Neste contexto, “o nosso Movimento não nasce diferente, apesar do ideal libertário, e o campo das instâncias acaba se tornando um campo de disputa, que se reproduz o discurso sobre os padrões e determinamos o que é ser um dirigente”.
“Não é fácil discutir a diversidade dentro do Movimento. Olha quanto tempo demoramos para dialogar essas questões. Não tem como discutir Reforma Agrária Popular sem o protagonismo dos sujeitos que a constrói”, afirma.
Para ela, “é muito importante quando abrimos esse tema e falamos das relações de gênero e sexualidade, já que temos um grande acúmulo de lutas em defesa da Reforma Agrária. O Movimento não é uma caixinha, e quando se trata de relações de gênero temos muito para avançar”, explica.
Pensando nisso, ela diz que um dos pontos principais para o MST avançar nessa pauta é impulsionar e construir lutas contra o conservadorismo na estratégia política.
“Este debate dentro do Movimento surge a partir da auto-organização dos sujeitos LGBT Sem Terra presentes nas instâncias, sendo essa uma decisão acertada para construirmos a Reforma Agrária Popular”.
“Nós LGBTs estamos organizados desde a base do Movimento, nos assentamentos e acampamentos, até os setores que compõem a organicidade, como a educação e frente de massa. Mesmo assim, o nosso Movimento tem dificuldade em aceitar a diversidade”, diz.
Avanços
Os LGBTs Sem Terra vêm realizando diversas atividades de estudos e debates, a fim de acumular politicamente em torno das relações de gênero e como isso influencia diretamente nas vivências dos sujeitos nas áreas de Reforma Agrária.
Nacionalmente, o Movimento construiu o Seminário “MST e a Diversidade Sexual”, um grupo de estudos na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), e diversas intervenções políticas e espaços auto-organizados nos estados.
Diante dessas iniciativas, Dê acrescenta que precisamos continuar com as lutas e ocupar o MST com a diversidade, colorindo a Reforma Agrária Popular.
Visibilidade Trans
O dia da Visibilidade Trans no Brasil, comemorado em 29 de janeiro, é uma data simbólica destinada a lembrar à luta das pessoas transgêneras (travestis e transexuais) pelo respeito à identidade de gênero, orientação sexual e direitos básicos que são diariamente negados dentro da sociedade.
Fortalecendo essa luta nacional e construindo uma unidade política em defesa dos direitos da classe trabalhadora, o MST reafirma seu compromisso por uma sociedade livre de todas as opressões a partir do ensaio fotográfico “MST contra TRANSfobia”.
Neste sentido, a Dê afirma levantar a bandeira da diversidade e da luta popular, e diz que “Contra toda transfobia eu venho oferecer meu coração”.
—
Fonte: MST.