Por Clarissa Peixoto.
Em 2002 entrei na universidade. Estudei em escola pública, depois numa escola filantrópica. Com uma única universidade federal na capital, estudar na UFSC não era somente uma questão de preparo para o vestibular. Além de uma concorrência de, em média, 20 candidatos por vaga para o curso de jornalismo, ainda era preciso garantir a sobrevivência em outra cidade. A solução? Estudar numa universidade comunitária perto de casa. Mas, como, se a faculdade é particular? Estudando a noite e trabalhando durante o dia.
O ensino superior no Brasil ainda é para poucos e, em 2002, era para bem menos gente. E muitos são os motivos que tiram da universidade a juventude brasileira. Na prática, pobre se vai para a universidade tem que fazer um curso de rentabilidade certa e rápida. E não tem que perder tempo com as letras – no máximo para dar aulas – e nem com as artes – onde já se viu pobre querendo ser artista. Isso ficou muito claro para mim quando tentei estudar cinema e depois migrei para o jornalismo. Essa sensação é perturbadora, como se você fosse um estranho no ninho. Por isso, para estar no ensino superior é preciso assistência e, mais que isso, é preciso autoestima para dar conta das diferenças sociais que ela acirra. E penso que os últimos 12 anos ampliaram a autoestima do povo brasileiro.
O estágio é outra passagem importante da vida na universidade. Em 2003, ainda era uma dureza. As bolsas, ao menos onde estudei, eram de R$ 200 por mês. Isso não era equivalente nem a metade do valor da mensalidade. Dava pra comprar uma calça jeans por ano e um “all star” a cada quatro. Em dezembro, recebíamos proporcionalmente aos dias trabalhados. Na semana do Natal, R$20 de desconto na bolsa-salário. Hoje há uma lei de estágio que prevê uma série de benefícios.
Em 2005, quando chegava ao fim do curso, algumas coisas começaram a refletir no dia a dia de gente, como eu, filha de professora primária: as universidades comunitárias, ainda resistentes, começaram a aderir ao Prouni. E, aí, outras filhas de professora puderam entrar na universidade e, com o dinheiro da mensalidade, passaram a frequentar cursinhos de idiomas. Outras universidades foram criadas. Santa Catarina hoje tem duas universidades federais, com cinco campi. É aumento real no número de vagas no ensino superior.
Tudo que escrevo aqui são memórias, não coletei dados em institutos, não entrevistei figurões, não busquei bibliografia. Falo da minha experiência dos últimos 12 anos, quando passei da juventude para vida adulta, tendo na universidade um divisor de águas. Para além de uma profissão pude compreender coisas do mundo, como a “roda gira”. Lá, ouvi falar de consciência crítica, de luta política, de disputa de ideias. Pude entender que lugar é esse a que pertenço, a injustiça desses lugares sociais e, principalmente, que a mudança é possível. E quanto mais pessoas puderem estar nesse lugar, tendo possibilidade de olhar para essas coisas, penso que estamos progredindo coletivamente. Essas, ainda pequenas e pontuais mudanças, transformam o indivíduo e, quando o fazem, mudam a vida do coletivo, dão ao todo perspectiva e otimismo. Sou de uma geração que pode sonhar mais, que pode rir mais, que pode aprofundar mais seu conhecimento sobre o mundo. Se ainda temos muito a conquistar, o faremos caminhando para frente.
Nessa perspectiva, meu voto é Dilma, na certeza de que os últimos 12 anos foram de mudanças. Talvez não todas as desejadas, mas de consideráveis impactos positivos na vida do povo brasileiro. Pela unidade latino-americana, pelos direitos democráticos e, sobretudo, porque a história é implacável com o recuo, meu voto é 13 dia 26 de outubro. Acredito no amor que vence o ódio.
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