Sobreviver ao bombardeio neoliberal, em busca de saúde mental

Imagem: Freepik

Por Douglas Kovaleski, para Desacato. info.

Muitas vezes é difícil trazer algo de positivo para a organização societária crítica e engajada com uma sociedade mais justa. Nos dias atuais, vivemos um ataque atrás do outro em termos de perdas de direitos e de medidas que intensificam a exploração da classe trabalhadora e deterioram suas condições de vida.

Em Florianópolis, não bastando o desmonte dos serviços públicos, agora Gean agride, ameaça e mente para a população para semear o ódio e o medo, por meio de mais uma milionária campanha publicitária.

Precisamos intensificar a luta e unir todos os setores da sociedade em defesa do serviço público de Florianópolis e do Brasil e, dessa forma, barrar a sangria de recursos públicos para os grupos financeiros e empresariais que comandam a real política no país. No entanto, temo pela desesperança em não conseguirmos visualizar a possibilidade de uma vida boa após a luta que estamos travando contra os governos neoliberais. O sentimento de impotência diante da opressão colocada pelos aparelhos de Estado causa desânimo, tristeza, depressão e suicídios. Isso em um processo complexo que envolve aspectos individuais e coletivos, todos mediados por um sistema que explora e separa as pessoas e as comunidades.

No Brasil, ao menos 11 mil pessoas tiram a própria vida a cada ano. Supõe-se que exista subnotificação. O país é o oitavo país onde mais pessoas se suicidam no mundo. De 2011 para 2015, os óbitos pularam de 10.490 para 11.736 (mais 12%). Foram 32 por dia. Na faixa etária de 15 a 29 anos, o suicídio é a quarta maior causa de mortes (crescimento perto de 10% de 2002 para 2014). No planeta, 800 mil pessoas de todas as idades se suicidam a cada doze meses, uma morte a cada 40 segundos.

O suicídio é rodeado de estigma social, no entanto está relacionado diretamente às condições materiais de vida. Quanto maior a exploração no trabalho, a insegurança com relação à renda, emprego e às condições de manter-se e de manter a própria família, maior é o índice de suicídio. A queda na condição socieconômica também é fortemente ligada ao suicídio. Suicídios de policiais militares são comuns. De 1995 a 2009, 58 PMs no RJ se suicidaram. O risco de um PM fluminense se suicidar é quatro vezes maior do que o do conjunto da população.

Na Grande SP, a pobreza extrema aumentou 35% em 2016. Onde mais de 180 mil seres humanos decaíram ao limite da subsistência no Estado brasileiro mais rico. O desemprego subiu para 13,1% em março e atingiu 13,7 milhões de pessoas. Essa elevação acontece pelo terceiro trimestre consecutivo. Em comparação com o encerrado em dezembro, surgiram mais 1,379 milhão de desempregados. Jamais o índice de trabalhadores com carteira assinada foi tão baixo. O investimento público caiu para 1,17% do PIB, menor nível em 50 anos.

O Estado brasileiro, apesar da elevada carga tributária, não provê condições mínimas de vida para a sua população ou sequer uma segurança mínima compatível com a vida. O que Gean Loureiro está fazendo com a população de uma das cidades mais belas e ricas do Brasil é uma violência. Violência do Estado que desrespeita as pessoas, a história de luta dos movimentos sociais e de cada trabalhador e trabalhadora dessa cidade. Este governo desafia a inteligência da população, pois consome muitíssimos impostos e não os devolve para a população. Usa desses recursos para beneficiar seus amigos.

De acordo com o sistema de informações do SUS (DATASUS), o número de suicídios em Florianópolis cresce acima da média nacional. Precisamos pensar em outros modos de conduzir nossas vidas, pois na direção em que estamos não podemos continuar. E para começar essa mudança é necessário romper com o ciclo de exploração colocado nessa cidade.

A luta está posta, estamos sendo violentamente agredidos de forma direta (pelas mãos da polícia) e de forma indireta pelo medo e pelo desrespeito às regras colocadas pelo próprio Estado. Pois estas, quando não lhes convém, são esquecidas.

Ou tomamos o destino pelas próprias mãos ou estaremos fadados a conviver com uma situação de sofrimento que piora a cada dia.

 

Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.

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