Por Luiz Carlos, para Desacato. info.
O movimento “O Sul é o Meu País”, está alicerçado em bases oligárquicas conservadoras e retrógradas. O Sul do Brasil, e de uma maneira mais contundente o estado do Rio Grande do Sul, sempre teve uma identidade étnico-cultural muito marcante. Construiu-se, ao longo da história, um conjunto de razões e ideários que justificassem, prática e simbolicamente, o sonho de construção de uma nação, forjada em lutas e objetivos que, outrora, eram compreensíveis pelo fato das profundas diferenças e isolamento da região, além da falta de amparo governamental do império e da primeira república.
Com o passar do tempo, a força dos movimentos separatistas passou a oscilar de acordo com o momento econômico e político vivido pelo país, como todos os movimentos característicos da extrema direita, ou seja, ganham mais força e se tornam perigosos ao passo em que a situação econômica se deteriora.
O movimento atual, não tem praticamente nada a ver com os movimentos separatistas do período monárquico ou da República Velha, exceto a origem conservadora de alguns deles.
A consulta popular (não oficial) realizada no sábado, dia 07, que consultou os eleitores sobre seu posicionamento acerca de uma possível independência dos três estados do sul do Brasil, levou para as urnas 325.683 eleitores, segundo os organizadores. Desse total, 96,13% teriam se manifestado a favor da causa do movimento, o que aparentemente seria, se verdadeiramente traduzisse a vontade da população, um apoio maior do que o obtido pelos separatistas da Catalunha, na Espanha.
Contudo, é importante observar algumas situações. Por exemplo, que o número de eleitores que compareceram as urnas para a consulta popular é de apenas 1,6% (aprox.) do total de eleitores da região sul. Em termos de comparação, o plebiscito catalão reuniu 2,26 milhões de eleitores, de um total de 5,5 milhões, o que representa aproximadamente 40% do total. (fonte: g1.com)
Outro ponto a ser considerado é que os integrantes e adeptos do movimento elaboram propaganda através de redes sociais e utilizam mídias tradicionais como rádios e jornais locais, através de suas influências econômicas e políticas microrregionais. O que não está sendo feito pelos grupos que são contrários a ideia, ou seja, as manifestações contrárias ao movimento ainda não estão sendo manifestadas.
Enfim, é possível perceber claramente que, de fato, não há apoio maciço da população para uma eventual separação do sul.
O que este movimento está se propondo a fazer é criar uma ideia de solução “mágica” dos problemas regionais e assim angariar adeptos a causa. Se realmente houvesse um sentimento de revolta de insatisfação generalizada, que traduzisse os 96% da população, não haveria mais condições de conter uma ebulição social que estaria eminente. Me arrisco a dizer que os mais ansiosos apoiadores da ideia compareceram as urnas e, mesmo que entendêssemos que outro tanto dos mais fervorosos defensores do separatismo não puderam comparecer, ainda assim não seriam mais do que 3 ou 4% do total de eleitores.
O movimento é intelectualmente fraco e não possui bases argumentativas sólidas, além de ser baseado em valores preconceituosos e xenófobos, cujo resultado, aos poucos tende a ser a rejeição popular.
A segmentação nacional, é a busca covarde de uma solução e a ilusão de que os problemas só existem fora do próprio quintal. É a síndrome da crença do “problema isolado”, da crença do puritanismo racial, típica de grupos conservadores e autocráticos.