Por Nilson Cesar Fraga*, para Desacato. info.
Em tempos de morte, ódio, negacionismo e de falta de perspectivas vivida no Brasil desde os últimos anos, se faz necessário expor uma ação humanitária que vai de encontro com a realidade do individualismo e da sensação de abandono vivenciada nesses meses tomados pela pandemia da Covid-19. Trata-se de uma narrativa sobre as ações de construção de uma casa para uma senhora e seu filho, na região do Contestado, concluída durante os dias mais violentos do novo Coronavírus sobre o território nacional brasileiro, em 2021. Os relatos estão direcionados aos amigos/as colaboradores/as e partícipes da ação humanitária que permitiu construir a casa de Dona Mariazinha e seu filho Capitulino.
A contestadense-catarinense Maria Francisca Alexandre Simão, ou Maria Simão, ou ainda Mariazinha, como é conhecida, é uma das poucas cidadãs que traz na memória fatos bastante contundentes sobre a Guerra do Contestado e o sofrimento vivido pelo povo caboclo. Seu documento de identidade data de 1989 e se estiver certo, ela teria 94 anos. Mas os parentes dizem que ela tem mais de 100 anos. Como prova, apontam que na carteira de identidade de Ana Alexandra Simão, irmã mais nova de Mariazinha, estaria hoje com 100 anos. Ambas foram registradas muitos anos depois do nascimento. Mas as idades imprecisas são marca comum dos registros humanos do povo sertanejo brasileiro, pois Dona Mariazinha é mais importante do que a necessidade de desvendar seus longos anos de vida. Sua importância maior está na memória sobre a guerra e a vida cabocla no Contestado, cujas lembranças, ultrapassam mais de um século.
Dona Mariazinha possui um forte espírito de rebeldia manifesto na sua história de vida na luta e na resistência à opressão, uma profunda marca nas terras e nas almas caboclas de toda a Serra Acima catarinense.
Dona Mariazinha menciona que é neta de uma indígena e de um avô brasileiro. Viveu todas as agruras possíveis na região do Contestado, podemos dizer que ela viveu um pouco de tudo o que aconteceu na região depois da guerra. Teve vários filhos, muitos já se foram, vive com Capitulino Martins dos Santos – ele cuidando dela, e ela dele. Viveram por longos anos numa casinha bem simples, mas muito simples mesmo, próxima da BR 116, em Santa Cecília, no Contestado catarinense. A casa foi perdida em um incêndio e, nos últimos dois anos, viviam em um barraco de três metros quadrados com chão batido. Nos períodos chuvosos viviam de botas por conta da lama dentro de casa, que também vivia infestada de ratos. Viviam na mais profunda miséria e abandono. Em dezembro de 2020 decidi construir uma casa nova para ela e ele, cujos trabalhos foram realizados entre janeiro e março de 2021, que seguem neste relato, na condição de ser o último diário da construção, foram produzidos 13 no decorrer das obras e, ao mesmo tempo, serve de prestação de contas para as pessoas que ajudaram na ação.
Depois de erguermos a casa entre os dias 14 e 30 de janeiro de 2021, mediante muitas chuvas que atrasaram as obras, mãe e filho passaram a viver, desde 31 de janeiro, no novo lar que estava quase pronto. Depois disso, tivemos de esperar quarenta dias para que a madeira secasse para podermos concluir o que faltava, principalmente as caixas de ventos e as mata-juntas, além de ajustes no sistema hidráulico e elétrico. Foram dias e dias de enormes desafios, mas chegamos ao final desta ação humanitária, isso tudo em um momento tão difícil para milhões de compatriotas com o avanço da pandemia, o desemprego, a inflação que corrói a capacidade de compras de alimentos de milhões de pessoas neste país desgovernado e dominado pelas milícias. Mas, em meio a todos os infortúnios vividos no Brasil, conseguimos construir e mobiliar uma casa no Contestado para uma senhora que carrega na alma e na memória uma história de vida de miséria, sofrimento e trabalho para subsistir. Agora ela e o filho vivem bem e felizes na casa nova. Como esses últimos dias de trabalho foram corridos, não tive tempo de fazer diários, portanto, segue este descrevendo o trabalho final e a entrega da obra para Dona Mariazinha e Capitulino. No final, farei a prestação de contas do investimento, bem como o memorial das pessoas que, de uma maneira ou de outra, nos ajudaram, desde dezembro de 2020. Sexta, dia 12 de março, terminei de carregar a Cabocla (meu carro) e saí de Londrina às 3h30, pois queria chegar cedinho e avisar que iríamos concluir as obras.
Ao chegar, encontrei Capitulino picando lenha e Dona Mariazinha estava sentada em uma cadeira ao lado da pia da cozinha; de longe me viu chegando e se colocou em pé. Era uma linda manhã de sol, quase um milagre, depois dos dias chuvosos das obras de janeiro. Aquele terreno que antes era um lamaçal, agora estava seco, todo capinado, organizado e limpo – havia uma sensação de vida nova no quintal, mesmo que seja um morrote e impregnado de matacões. Descarreguei a Cabocla com Capitulino, ele carregando as caixas mais pesadas, pois não dou conta de erguer mais de seis quilos com estes braços parafusados.
A viagem havia sido lenta, pois a Cabocla veio carregada com o enxoval de cama, mesa e banho, além de louças e panelas, bacias e um estoque de alimentos e material de limpeza para estocarem para os próximos meses. Me despedi logo depois de passar a agenda de trabalhos dos dias seguintes. Então peguei a estrada para Timbó Grande, onde me hospedaria novamente e, no dia seguinte, levaria Francisco e Valdecir, os construtores, para a conclusão das obras, os mesmos que havia contratado para erguer a casa naquele janeiro das chuvas. Eu estava bastante angustiado, desde a viagem, acho que se deve ao fato de estar concluindo o projeto – a ação humanitária, cuja decisão havia tomado em dezembro de 2020.
Logo cedo, no dia 13 de março, levantei e, mesmo sem café, pois o café no hotel é servido a partir das 6 horas da manhã, ainda noite, pois o fim do verão faz a noite se estender um pouquinho mais, fui buscar os construtores e seguimos os 57 km que nos separavam da obra. Ao chegarmos, mãe e filho já estavam com a casa aberta, o material da obra colocado no quintal e o céu já estava azul e sem nuvens, em nada fazia lembrar os dias de janeiro. Então pedi que eles iniciassem pelas caixas de ventos, depois as mata-juntas, nessa ordem, até as pequenas coisas que envolveriam o interior da casa. Dona Mariazinha desceu a ladeira até a sombra, ficaria sentadinha por muitas horas durante as obras, pois as marteladas lhe causam dor de cabeça, e teríamos muitas marteladas, pois todas as mata-juntas foram colocadas, mais de seis dúzias, além do madeirame das caixas de vento. Então fui na cidade buscar o café da manhã, que foi servido perto das 8 horas da manhã. Depois fui até o Trombudo do Contestado (Lebon Régis) buscar a geladeira nova, um presente para a casa nova, doada por Edna Pereira da Silva, Izabel Nascimento, Regina Braga, Sandra Accordi, secretárias do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Londrina, já que a pia da cozinha, a mesa com cadeiras, a cômoda do quarto e o colchão foram doados por Maria Cleide Baldo e Hélio da Silveira, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, de Campo Mourão e Universidade Estadual de Maringá, do curso de Geografia. Um homem que passava na rua ajudou Carlos Nedi Veiga da Silva, meu amigo que recebera a geladeira em sua casa, em colocá-la sobre a Cabocla. Conversamos por alguns minutos sobre as ações e eventos caboclos/as para 2021 e, depois, peguei estrada até as obras, cuja ida e volta custou-me 86 km. Já era perto do meio-dia, Francisco e Valdecir levaram a geladeira para cima, com Capitulino, tiraram os invólucros e Capitulino foi buscar sua mãe para ver o eletrodoméstico. De imediato, a velhinha falou: “Era para eu estar morta, agora tenho uma geladeira”. Foi um momento muito emocionante. Então fui ao posto de gasolina buscar nossas marmitas para almoçarmos – nessa fase final das obras, não teria tempo para preparar almoços.
A comida do restaurante anexo ao posto de combustíveis é bem caseira e muito saborosa: a marmita continha arroz, feijão preto, macarrão caseiro (maravilhoso), carne de frango, de porco e de gado, além de batatas ou aipim frito – mesmo que variasse no decorrer dos dias, o básico sempre estava presente. Acredito que a marmita pesava mais ou menos um quilo de comida, então falei ao atendente: “Deixa que eu preparo a minha, pois não como tanto e não podemos jogar comida no lixo” – no final, a minha ficava com 350 ou 400 gramas de comida. Nos alimentamos sentados à mesa da casa nova. Havia uma marmita para Capitulino, homem que trabalha muito e quase de maneira ininterrupta. Dona Mariazinha havia almoçado antes, pois como uma criança, ela possui seus horários de fome – geralmente uma sopa, algo mais leve e macio, isso por conta da idade e da falta de dentes. Em menos de 30 minutos depois do almoço, reiniciaram os serviços de fixação das mata-juntas – a velhinha já estava distante da obra e do barulho, sentada numa cadeira e, com a mão segurando o queixo, observava as frestas das paredes sendo fechadas com muitas marteladas e preguinhos. Então retornei para Santa Cecília, fui na loja de material de construção comprar os materiais que faltavam para concluir as obras. Além de pregos, era preciso comprar mais três dúzias de mata-juntas. O dia havia chegado ao fim e não foi possível concluir as paredes externas. Mas teríamos mais dois dias de trabalho. Então nos despedimos e voltamos para Timbó Grande, era preciso descansar.
Cinco da manhã de domingo já estava saindo do hotel e passando na casa dos construtores. Chegamos bem cedinho nas obras, o dia estava começando e os trabalhos também. Fui rapidinho na cidade buscar o café da manhã, pois o dia de trabalho seria longo. Café tomado, observei que o fogão a lenha velho estava se desmontando. Depois de passar anos na lama e na umidade, ele havia soltado o concreto interno e havia furos no fundo por onde caíam brasinhas nas tábuas do assoalho. O velho fogão me deixou apreensivo com a segurança dos dois e da casa. Cheguei ao hotel, quando havíamos terminado os trabalhos do dia 14 de março, pois havíamos, ainda, instalado seis prateleiras na casa, para material e roupas, cujos suportes havia trazido de Maringá. Estava com forte azia, era um pouco de ansiedade por conta da situação do fogão. Então, por meio de alguns contatos passados pelo Francisco, no domingo mesmo verifiquei os preços dos fogões a lenha na cidade – os menores custavam algo em torno de 1.250 reais. E decidi comprar o fogão na segunda, para instalar na cozinha, já que o antigo não tinha mais condições de uso, a casa precisava estar segura. Então, na segunda, comprei o fogão que, com desconto, custou R$ 1.099. Os vendedores colocaram na caçamba da Cabocla. Aproveitei o fato de estar na cidade e comprei sessenta pás de areia e de brita, além de cimento, pois era preciso concluir o caminho seguro da casa até a terra plana, evitando tropeços e possíveis acidentes com a velhinha. Fui até a obra com a Cabocla carregada com uns 700 kg de material de construção e mais o fogão, além do Francisco e do Valdecir a bordo. Descarregamos o material. Já era segunda, dia 15 de março. Descarregado o material, voltei à cidade para comprar alguns materiais para corrigir o sistema hidráulico, pois havia pouca água na pia da cozinha e do banheiro, assim como no chuveiro – era preciso gerar mais pressão na água, e conseguimos isso com canos de 25 milímetros. O sistema de esgotamento sanitário havia sido concluído também, foi conectado ao da igrejinha evangélica abandonada, por meio de canos, curvas e Ts. Voltei à cidade à tarde para comprar/confeccionar duas chapas galvanizadas de 1 x 1,5 metros para o assoalho onde o fogão novo ficaria, assim como para a parede detrás, ampliando a segurança de ter um fogão a lenha dentro de uma casa de madeira sendo usado por uma velhinha e seu filho, cuja idade deve estar próxima dos setenta anos, além de sua condição especial. Para além do meio da tarde, o céu ficou escuro e ouvíamos trovões distantes.
Dona Mariazinha estava ansiosa e cansada, aliás, muito cansada, pois era seu terceiro dia sentada nas sombras do terreno e distantes dos barulhos das marteladas. Foi concluída a colocação das mata-juntas da parede divisória interna, assim como as da parede lateral dos fundos da casa. Nessa hora eu havia preparado o alargamento da rampa de descida da porta da cozinha com tijolos e outros entulhos de construção. Nesse momento, Capitulino e Valdecir estavam preparando a massa para cobrir, assim como dar continuidade ao caminho de decida da casa até a terra plana. Francisco preparava o suporte para a cobertura da porta, tipo uma varandinha, protegendo a entrada da casa, assim como a porta, das chuvas e do sol. Eis que caiu uma forte chuva com trovões que durou uns 20 minutos – era uma despedida para nos fazer lembrar das chuvas de janeiro. Tivemos de parar por uns instantes, o dia estava terminado e trabalhávamos desesperadamente para findar as obras e entregar a casa 100% concluída.
Passada a chuva rápida de verão, já estávamos espalhando a massa de concreto sobre o caminho, eu mesmo esticava a massa enquanto eles faziam e traziam em baldes até o local. Antes das 19h30 as obras estavam concluídas. Estava pronta e entregue a casa para que Dona Mariazinha e Capitulino possam viver em paz, segurança e conforto. A velhinha disse que não era para dizer que estávamos indo embora, pois quem vai embora é porque morreu, ela disse: “a gente se despede para se ver outro dia, quando vocês virem aqui tomar um café”. Em uma conversa com ela nesse dia, me disse que estava aliviada de não precisar mais usar as botas pesadas, pois agora, longe da lama, podia usar calçados leves, como se tivesse tirado as pedras que estavam grudadas em suas pernas.
Vencido estava o grande desafio; esse final foi maior ainda, pois tínhamos que nos cuidar e, principalmente, manter a velhinha distante de nós, pois estamos no olho do furacão da Covid-19 aqui no Sul do Brasil. Mas ela ficou longe todo o tempo, e sempre aplicava álcool nas mãos e nas coisas, com certo exagero – ela sabia da importância do distanciamento e do álcool, inclusive mostrou duas máscaras novas que tinha, caso precisasse sair de casa. Outra lição de vida dada por uma secular senhora, quando nos dava indicações de como se proteger e de como proteger os que estão próximo numa situação de peste como a que estamos vivendo e que o povo caboclo viveu durante a Guerra do Contestado, com cólera e tifo. Triste país que abandona seus idosos, cujas memórias poderiam servir para que a população, de forma geral, se comportasse nesses doze meses de pandemia que assola o país, já tendo eliminado mais de 280 mil vidas no Brasil. Mas história, geografia e outras ciências humanas no Brasil não parecem ter significado de importância para parte da massa populacional, parte da burguesia e parte da elite – o negacionismo tomou proporções assustadoras. Da mesma forma que negam a cultura cabocla, os fatos e atos da Guerra do Contestado e, hoje, impedem a coexistência dos povos que coabitam as terras do Contestado, negam o poder destrutivo de uma pandemia. Mas é preciso seguir, lutar diuturnamente para superar essa era da ignorância, da imbecilidade e da governança nacional por milícias, que pouco se diferem das milícias que eliminaram a maior parte da população cabocla durante a guerra civil de pouco mais de cem anos passados.
Agora, mais formalmente, passo a prestação de contas dos investimentos para erguer a casa segura e confortável de Dona Mariazinha e Capitulino, uma missão, cuja ação humanitária, não teria dado conta sem o auxílio de vocês, cujas doações de 15, 50, 100, 500, 1.000, 2.000, 3.000… reais foram mais do que importantes, foram fundamentais para alcançar os objetivos e chamamentos de ajuda que fiz em meados de dezembro passado. Muito obrigado. Não duvidem que a velhinha, assim como seu filho, católicos fervorosos com traços do catolicismo xucro do Contestado caboclo, muito oraram por vocês e seguem orando, isso ficou claro na “despedida”. Entre as obras de janeiro a março, sem considerar as compras de alimentos e material de limpeza e higiene, investimos R$ 24.324,68 e recebemos de doações R$ 19.595,00 e a casa está pronta, com madeiras novas e todo o conforto mínimo necessário para terem uma vida em segurança e felicidade. Muito obrigado pela ajuda de Todos e Todas. Mas preciso agradecer o suporte material e de conforto que recebi dos/as queridos/as amigos/as Dom Luiz Carlos Eccel, Ir. Lorena Teresinha Sozim, Maria Cleide Baldo e Hélio da Silveira, que estiveram ao meu lado no decorrer desses meses, inclusive me ouvindo nos momentos mais difíceis e quando a fé (sou homem de pouca fé) e a esperança para finalizar os trabalhos pareciam estar mais distantes – vocês quatro foram os seres de luz que me permitiram chegar ao final deste desafio e promover uma ação que não se resume em valores, mas em esperança, a mesma esperança que possuía o povo caboclo quando sonhava em viver em felicidade.
Conseguimos, vencemos! Meu muito obrigado não resume meu carinho, minha admiração e meus laços de irmandade caboclas com vocês! Registro, como memorial, pessoal que auxiliou na construção da casa, os nomes estão em ordem alfabética e os agradecimentos se estendem desde os cafés de final de dia, até a ajuda financeira para construir a casa: Adão de Souza, Adão dos Santos, Aline Bazzo, Ana Paula Ferreira Motta, Angela Maria de Sousa Lima, Antonio Joares Cardoso, Carlos Nedi Veiga da Silva, Cedival Alves Guedes, Célia Regina De Bortoli, Cidnei Raul Soares, Cleusi Teresinha Bobato Stadler, Dal-Mas Matérias de Construção, Daniel Ari Collere, Danielle Moveis e Eletro, Denise Araújo, Denise Setti Bernaldo de Lara, Dom Luiz Carlos Eccel, Edinaldo Luiz, Edna Pereira da Silva, Eduardo Henrique, Eveli S. D´Avila,Francisco Schepanski Neto, Hélio da Silveira, Ian Navarro de Oliveira Silva, Ir. Lorena Teresinha Sozim, Izabel Nascimento, Jolinda de Moraes Alves, José C. S. de Me (..), Josué da Costa Silva, Juscelino Pires dos Anjos, Juscelino Pires dos Anjos, Lisiane Freitas de Freitas, Loja Avesso, Mandato Deputado Estadual Professor Lemos PT/PR, Marcelo Ribeiro, Marcia Oliveira, Maria Alice Oliveira Collere, Maria Armênia, Maria Cleide Baldo, Maria das Graças Silva Nascimento Silva, Marli Mendes Gomes Soares, Olegna de Souza Guedes, Paulo Adeildo Lopes, Regina Braga, Rodrigo Maiberg, Rosa Maria Totti, Rosana de Oliveira, Rosane Cordeiro da Silva, Rui Giovano da (…), Sandra Accordi, Sandra Maria Almeida Cordeiro, Sergio F. da Silva, Serli Aparecida de Lima da Silva, Tadeu Veneri, Deputado Estadual PT/PR, Tânia Welter, Thais Cristine Pinheiro, Valdecir Barbosa, Valdecir da Silva (Fraiburgo), Weliton Luiz de Souza e Wilmar Schmidt.
O texto/narrativa da ação já está enorme, é preciso findar esse momento final desta obra iniciada em dezembro de 2020 e concluída em março de 2021.
Ontem, antes de seguir viagem de retorno para o meu mundo acadêmico remoto, passei para me despedir de Dona Mariazinha e Capitulino, chegando à casa deles por volta de 9h20. A velhinha estava sentada na sombra que a casa proporciona na parte da frente pela manhã, seu filho estava com escovão, detergente, baldes e panos, lavando a casa nova, pois a partir do dia 15 de março de 2021, passaram a viver em uma casa completa, funcional, limpa, segura e confortável. Não consegui entrar, nem podia, pois estava tudo em processo de uma limpeza necessária depois de findadas as obras. Conversamos por cerca de trinta minutos, nos abraçamos, nos despedimos e fixamos garantias de visitas futuras, para um café e, segundo ele e ela, quando precisar terei pouso na casa dele e dela. Isso resume os objetivos da ação: construir uma casa digna para duas pessoas que viviam em um barraco de três metros quadros impregnados de lama e sendo corroído pelos ratos. Agora estão bem e seguirão bem, pois as pessoas precisam apenas de uma casinha segura para ter uma vida de felicidade e paz. A partir de agora a vida é dele e dela, nossa parte foi concluída, que consigam viver muitos anos sobre o novo lar, com momentos de alegria, sem se preocuparem com a chuva, a lama, os ratos e o perigo da exposição. Quem dera esse país permitisse uma casinha limpa, segura e digna para todas as pessoas, pois um lar digno pode ser erguido com menos de 25 mil reais, valores bem inferiores aos desvios (corrupção) de todas as ordens que envolvem os serviços públicos e privados deste país que possui uma alma profundamente moldada pela corrupção e pela riqueza acumulada nas mãos de pouco mais de uma dúzia de bilionários desta nação.
Muito obrigado pela ajuda possível de cada um e de cada uma de vocês! Construir possibilidades de felicidades não é algo intangível, somos a prova disso. Que São João Maria, santo popular caboclo, siga abrindo os caminhos que cada um de vocês percorre.
Concluo este relato, desde a cidade do Desterro, capital secular catarinense, em 16 de março de 2021, no segundo ano da pandemia, praticamente sem vacinas e sem um governo digno na República, assim como nas províncias mentais em que vivemos, tanto no Paraná como em Santa Catarina. Mas, em tempo, as mata-juntas que paguei R$ 36,00 a dúzia, em janeiro, já custava R$ 78,00 em março; enfim, o sonho dos cidadãos e cidadãs de terem uma casa, fica cada vez mais distante em dois anos deste desgoverno genocida miliciano. Roguemos para que o povo consiga se alimentar deste março em diante se sobreviver a pandemia, pois se apenas somarmos as mortes por Covid-19 nos dias de obras para a conclusão da casa nesse março, elas representam mais do que a metade do equivalente à população de Santa Cecília, município onde vive Dona Mariazinha e seu filho Capitulino. O município teria perdido mais da metade da sua população se os mortos pela Covid, nesses dias, fossem apenas nesse município, pois no período em que trabalhamos na conclusão da casa, o Brasil registrou mais de oito mil vidas ceifadas pela pandemia e a população de Santa Cecília é de 16.918 habitantes.
Preciso registrar, ainda, que durante as obras foram percorridos 5.156,9 km entre Londrina e Timbó Grande, destes, 2.804,9 km entre Timbó Grande, a Coletoria Velha (local da obra) e Santa Cecília, sendo que foi feita uma viagem até Lebon Régis para buscar a geladeira que foi entregue na casa do amigo Carlos Nedi.
Dedico a construção desta casa aos/as 294.042 brasileiros e brasileiras que perderam a vida até o momento nessa pandemia, principalmente, pela falta de políticas públicas mais eficientes para o controle do avanço da contaminação em território nacional, assim como pela ineficiência em adquirir os imunizantes necessários que garantiriam a esperança de milhões de pessoas que se sentem acuadas diante do descaso e da incapacidade governamental. Da mesma forma, dedico estes relatos para milhões de mariazinhas e capitulinos abandonados nos mais diversos rincões do Brasil, que seguem abandonados e esquecidos pelo Estado, pelos estados e pelos municípios.
É preciso reconstruir o Brasil pós-pandemia e pós-presidente inominável!
Seguem um álbum com fotografias das obras e da casa concluída, para registro da ação e agradecimento e comprovação!
Confira algumas fotos desse processo de construção:
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Nilson Cesar Fraga – Geógrafo/atua na Universidade Estadual de Londrina/Observatório da Região e da Guerra do Contestado/Laboratório de Geografia, Território, Meio Ambiente e Conflito.