Por Movimento Ponta do Coral 100% Pública.
Em tempos de pandemia da covid-19, as atitudes do governo de SC chamam a atenção de todo o país, na contramão do que tem sido recomendado por profissionais da saúde e pela própria Organização Mundial da Saúde. Nas primeiras 3 semanas da pandemia, o governo até que começou bem, com medidas que visavam fortalecer o isolamento social em todo estado. Mas no início de abril, após forte pressão de entidades empresariais organizadas em torno do “movimento Reage SC” e do discurso negacionista da “gripezinha” do excelentíssimo genocida Presidente da República, o governador Moisés decidiu por afrouxar as medidas de isolamento social. Os critérios científicos e de saúde pública para preservar as vidas humanas foram ignorados pelo governador para atender os interesses empresariais e a base eleitoral bolsonarista que o ajudou a se eleger, sendo a construção civil um dos primeiros setores a serem beneficiados.
Seguindo os passos do Exmo Messias, embora a relação entre criatura e criador já não seja das melhores, Moisés foi, paulatinamente, afrouxando as medidas de isolamento, e, finalmente, liberando a atuação de Shopping Centers no dia 22 de abril. Shopping Centers que protagonizaram notícias de horrores que viralizaram por todo o país. A primeira notícia foi a chantagem feita por um empresário do ramo, em Balneário Camboriú, que pedia a liberação para a atuação do setor em troca da compra de respiradores que seriam doados ao Estado. Empresário da mesma cidade de imponentes arranha-céus, onde foram registradas as primeiras “carreatas” de carros importados, pilotados por aqueles que pressionavam pela abertura de seus negócios. E, por fim, a cena bizarra da contratação de um saxofonista para “alegrar” a reabertura de um shopping na cidade de Blumenau, em um sinal de volta para a “normalidade”. Nessa festividade, estava clara a aglomeração de pessoas sem os cuidados indicados para a pandemia, o que levou às manchetes a explosão de casos de Covid-19 na cidade, nos dias seguintes. Destaca-se que devido as características desses espaços de consumo, com ambientes fechados e de pouca ventilação e renovação de ar, os shoppings são considerados uns dos ambientes de maior risco de contágio viral.
Reabertura de Shopping em Blumenau
O decreto atual do governador mantem parques e praias “fechadas” até o dia 31 de Maio. Quem sabe é mais difícil de controlar o acesso a parques e praias do que ambientes fechados e vigiados por segurança privada, mas, para além do aspecto puramente prático, que poderia muito bem ser contestado, nos cabe olhar para a dimensão econômica e simbólica desta decisão.
Estes imensos templos do consumo oferecem a segurança e os espaços de lazer que muitas pessoas perderam em seus bairros, enquanto que para as classes mais altas, fornece o distanciamento e proteção de uma grande redoma com uma estética pasteurizada e vigilância permanente. Afinal,“Nessa cidade recriada entre paredes, fica de fora o que não agrada nos grandes centros ? não se vê pobreza, gente sem teto e passando fome, por exemplo”. No plano econômico, os proprietários de shoppings são normalmente grandes grupos de investidores, alguns fazem parte de redes multinacionais e construtoras. Portanto, não é a toa que esse segmento exerce pesada pressão junto aos governos, com promessas de geração de emprego e renda e recolhimento de impostos. Pouco importa se no meio do caminho da construção de um Shopping será necessário engolir dezenas de comércios populares com estética e cultura próprias e até residências, ou investir dinheiro público para ampliar vias e redes de esgoto para suportar a ampliação no fluxo de pessoas e carros, ou mesmo comprar licenças ambientais para construir sobre o mangue, como vimos acontecer em nossa cidade na Operação Moeda Verde[1][2][3][4][5].
AFP/Mauro PIMENTEL. Foto tirada no Rio de Janeiro, Março de 2020.
Em contraponto, os parques urbanos e praças são espaços públicos, refúgios de natureza e convívio necessários, em meio a tudo que temos vivido com a pandemia, e trazem inúmeros benefícios físicos, psicológicos e mentais à saúde da população, bem como promovem uma outra sociabilidade que não aquela do consumo individualista e da exposição de marcas. Para o sociólogo e urbanista Robert Park “a vizinhança é uma das formas mais estreitas de sociabilidade. É nela que podem se firmar sentimentos de amizade, de solidariedade, de lazer. Os parques e praças são promotores dessa sociabilidade ao permitir os encontros entre vizinhos, mesmo que desconhecidos. Ali, as crianças se unem para o futebol, negociam a ordem de quem desce primeiro no escorregador e, mesmo pequenas, acabam constituindo suas relações de vizinhança e diversas possibilidades de encontros mais próximos”. Abrir os shoppings e manter os parques fechados nos dá uma boa noção das prioridades deste governo, que encara cidadãos como dóceis consumidores em cidades cada vez mais entulhadas de aço e concreto.
Já o prefeito da capital, Gean Loureiro, se diferencia do governador apenas na qualidade da encenação, mais talentosa para disputar as eleições. No início da pandemia recomendou o isolamento e proibiu a abertura do comércio, mas depois cedeu para flexibilizar a quarentena e satisfazer a vontade do empresariado. Pouco fez para implementar políticas públicas de combate ao Covid19 junto à população mais vulnerável, como moradores de ocupações, comunidades, povos tradicionais, pessoas com deficiências, pacientes do Caps, e mulheres em situação de risco. Vale lembrar, que este mesmo prefeito e sua bancada na Câmara de Vereadores aprovou há alguns dias mais um empréstimo de 100 milhões para serem empregados, em sua maior parte, em asfalto. Nenhum centavo em obras de redes de esgoto, compras de caixa d’água ou construção de banheiros emergenciais nas periferias.
Realçamos que este texto não é um pedido para a reabertura dos parques e praias, pois defendemos as medidas de isolamento social, conscientes de que esta é uma das medidas urgentes para diminuir o contágio pela Covid-19, evitando a sobrecarga do sistema de saúde e a morte agonizante da população. Também temos consciência que o isolamento social não é a única medida que deve ser tomada. Por conta da desigualdade histórica em nosso país precisamos de medidas urgentes, tais como a implantação de renda mínima universal e a derrubada da PEC da morte (EC95), para que o investimento público possa ser retomado, para que haja a reversão das políticas neoliberais e a ampliação e fortalecimento do SUS. A crise exige repensar o nosso modo de consumo, desacelerar a exploração (ambiental e social) e promover maior solidariedade entre os povos. Outras pandemias já estão sendo previstas, se não mudarmos drasticamente o modus operandi da nossa civilização nesse planeta, que possui “recursos” finitos para um sistema econômico capitalista que pressupõe crescimento infinito.
Acreditamos que é urgente pressionar os governos para que revejam as medidas de afrouxamento do isolamento social e priorizem a saúde pública nesse momento de pandemia. Além disto, podemos nos empenhar individualmente para não aumentar ainda mais as transmissões (quem puder, #ficaemcasa!) bem como nos dedicarmos um pouco aos debates sobre o que está ocorrendo, refletir e conversar com familiares sobre o assunto. Em paralelo, podemos pensar em novas formas para (res)existir, seja participando de movimentos, coletivos, sindicatos, organizações políticas, associações, ou mesmo entre grupos de amigas e vizinhos. Fortalecer os laços de solidariedade e apoio mútuo nesse momento também se faz necessário. Por isto, passaremos a fazer uma campanha de divulgação dos debates e iniciativas que vem surgindo.
Por fim, não podemos fechar os olhos para compreender de forma sistêmica que tudo isso que tem ocorrido é agravado pelo modelo capitalista vigente, que vê as pessoas como números, relegando ao abandono os “de baixo” e priorizando CNPJs ao invés de vidas.
À beira do colapso, voltar a imaginar outros mundos possíveis hoje é mais do que um sonho, é uma necessidade!
Movimento Ponta do Coral 100% Pública
A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.
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Genociada é quem quer manter tudo fechado e matar todos de fome
Não se esqueça que o povo elegeu o presidente para dirigir o Brasil e não a comunistas derrotados