Severn Suzuki – Vinte anos depois

 Por José Gonçales Júnior.

Vinte anos depois ouço Severn Suzuki discursas na Rio + 20 e derramar todo seu amor e compaixão pelo planeta, pelas gerações futuras e pela opção pessoal direcionada a vida. Quem ouviu ela nos videos onde falou aos chefes de estado na Eco 1992 e essa semana no Rio, nota não somente a maturidade do discurso e da perspicaz leitura da nossa preocupante realidade mundial, como também a percepção de que pouca coisa mudou: a humanidade chegou ao 7 bilhões, as economias mundiais,

PIBs e circulação de mercadorias e capitais se ampliaram, bilhões foram inseridos nas chamadas classes médias ou cidadãos inseridos no mercado, porém o planeta jamais deu tantos sinais de alerta, tanto do ponto de vista social como ambiental.

Severn diagnosticou com perfeição a opção dos governos por se alienarem aos capitais e as finanças globais, ao mundo do business as usual e os negócios, que não falam a língua da ecologia, da justiça humana, da preservação dos ecossistemas, e se falam, falam com o sotaque trivial do greenwashing, revestido das intenções de se construir no sistema econômico mundial uma economia verde, que não possui definições claras, tão vinculada está a grupos de interesses diversos e até divergentes.

O discurso dela não se prendeu a um diagnóstico técnico e detalhado de como está o planeta e como evoluiu nesses últimos 20 anos, mas penetrou profundamente na avaliação de que do ponto de vista de uma escolha para uma civilização de fato sustentável, perene e coerente, quase nada se caminhou; do qual o foco dos países foi continuar a fornecer condições para se ampliar os PIB´s, rendas per capitas, e o desempenho econômico pelas métricas da economia tradicional.

Severn percebeu o quão pífio e genérico está o documento “O futuro que queremos”, e que não representa o que as sociedades mundiais anseiam para o futuro e o presente. Deixou implícito sua reprovação ao mesmo, e a reprovação do desalinhamento dos governos com a sociedade e a perda da capacidade de ler e compreender as emergências socioambientais do momento histórico.

Ali estava uma ambientalista decepcionada com o establishment governamental e as multinacionais, pela escolha clara que os mesmos fizeram pela métrica econômica cartesiana e racional sobre os destinos da humanidade e do sistema produtivo, mas reiterou sua ética e sua esperança para com a justiça social e a preservação de um planeta para as futuras gerações, pela adoção de uma postura infinitamente além da percepção dos governos e financistas, uma postura e escolha moral pela defesa da vida, da biodiversidade no planeta, pela sua opção existencial em participar nessa vida como geonauta e não uma consumidora, uma célula individual no mar do consumo e produção desenfreada e frenética que levará todos a um colapso adiante.

Que ecoem essas palavras e ilumine a todos nós que temos a causa pela vida e pelas futuras gerações como guardiões do manto sagrado da Terra.

Mais uma vez obrigado Severn.

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