Sérgio Adriano H faz arte para reescrever invisibilidades do “Ser Negro” no Brasil

História do Brasil Branca, Sérgio Adriano H. Foto: Divulgação

Um dos mais atuantes artistas de Santa Catarina, Sérgio Adriano H, que vive e atua entre Joinville (SC) e São Paulo (SP), celebra os 20 anos de carreira com o projeto “Ser Negro”, exposição que tem a curadoria de Juliana Crispe e está legitimada pela conquista do Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Artes – 2021, uma iniciativa do governo do Estado de Santa Catarina por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC). A curadoria é de Juliana Crispe, pesquisadora que vive e atua em Florianópolis.

O momento inaugural do projeto movimenta a Casa da Cultura Fausto Rocha Junior, na Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, em Joinville, no dia 10 de março, às 20hAntes da abertura, às 19h, no auditório da Casa da Cultura, o artista faz a palestra “Ser Negro – UCorpo Sem Direitos”. Também está prevista na galeria, uma sessão de autógrafos do livro Apontamentos da Arte Africana e Afro-Brasileira Contemporânea” (Editora Invisíveis Produções), da pesquisadora Célia Maria Antonacci que vive e atua em Florianópolis. Trata-se de um trabalho fundamental que amplia a compreensão da arte brasileira sob uma nova ótica. Sérgio Adriano é um dos artistas incluídos na seleção da autora, ao lado de outros nomes da arte afro-brasileira, como Walter Firmo, Rosana Paulino e Bispo do Rosário. Entre diferentes temas, ela reflete sobre o significado dos novos tempos na arte e na sociedade, o devir-negro no Brasil e o protagonismo político poético afro-brasileiro.

O itinerário da mostra contempla o Museu de Arte de Santa Catariana (Masc), em Florianópolis (SC) e prevê intervenções na rua em frente ao Museu de Arte de Blumenau (MAB), em Blumenau (SC) e na praça Coronel Bertaso, em Chapecó (SC). Por fim, ocorre nas calçadas em frente às galerias Choque Cultural, em São Paulo (SP) e no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), no Rio de Janeiro (RJ).

 No ponto inaugural da carreira

O livro e as palavras são estruturantes na exposição “Ser Negro”, que propõe uma reflexão sobre os 20 anos de trajetória de Sérgio Adriano H. Pela primeira vez, ele faz uma individual na Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, espaço localizado na Casa da Cultura que também abriga a Escola de Arte Fritz Alt, ponto inaugural no currículo do artista em 2001.

Para celebrar as conquistas alcançadas em duas décadas de intensa atuação, não à toa, Sérgio convida a pesquisadora e curadora Juliana Crispe, que atua em Florianópolis e é um dos nomes mais sólidos do circuito de arte de Santa Catarina pela amplitude de suas conexões, pensamento e sensibilidade descolonial. A seleção curatorial enfatiza o livro e resulta de certo modo numa síntese em torno de uma produção que discute vida e morte, o tempo e o espaço, a paisagem e a arquitetura tendo como dispositivo o próprio corpo do artista, a palavra e a história. As investigações de boa parte destas obras passam pelas enciclopédias, dicionários, livros de arte e revistas em que rasura, pinta, recorta, imprime e sulca.

O artista constrói suas imagens a partir de fotos, vídeos, instalações e objetos com os quais questiona o sistema simbólico chamado “verdade”, um conceito nem sempre contemplado nos livros da história do Brasil, cujos textos apostam no apagamento social dos negros, negam a identidade racial e violentam aqueles que são hoje, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o maior contingente populacional do país. A invisibilidade e os seus efeitos se afirmam por meio de um discurso de cordialidade, da negação do racismo estrutural e pela violência com números estarrecedores de homicídios, nos quais jovens e negros aparecem sempre no patamar das vítimas.

Provocador, ao aproximar arte e filosofia, Sérgio Adriano faz pensar a partir do que se pode convencionar como uma poética da dúvida. Engajado, põe a arte a serviço da luta contra a invisibilidade da produção afro-brasileira no circuito de arte contemporânea. O processo de criação se completa, quase sempre, no espaço do encontro nas ruas onde, sem afrontas, ativa um vocabulário político, entendido como possibilidade de conversa, reflexão e transformação.

Se até aqui chama a atenção uma estética de desconstrução de discursos históricos, “verdades apresentadas”, como o artista prefere dizer, os trabalhos pensados para a individual na cidade natal incorporam uma espécie de novidade, um contraponto marcado por uma energia positiva. Agora, no tempo pandêmico, a nefasta coleção de termos racistas extraídos de conversas e textos jornalísticos, imprimida em diferentes suportes (bodies, carimbos e fotografias), recebe os vocábulos abençoado, afável, vida, arte e luz.

A exemplo da coleção de negatividade, as obras – de positividade – são montadas em carimbos apresentados na boca do artista. Com os lábios cerrados, ele se fotografa mordendo as palavras. Carimbos são peças feitas de metal, madeira ou borracha que contém sinais gráficos em relevo que servem para marcar à tinta documentos, papéis, etc. Quando feitos de metal, identificam o gado e, no passado escravocrata brasileiro, a ferro e fogo tatuavam um símbolo de propriedade na pele do corpo humano.

Curioso o fato de que Sérgio Adriano escolhe para mostrar em Joinville dois trabalhos apresentados até 4 de abril na mostra, “Não Consigo Respirar”, no Museu Fábrica de Arte Marcos Amaro (Fama), em Itu, interior de São Paulo. Por meio de luz solar, ele projeta as frases que dão nome as instalações que se constituem de duas frases recortadas em placa de acrílico: “Nasceu Preto, Viado e Pobre” e “Deve Ter Feito Algo Muito Grave na Outra Vida” (2021). Fora a gravidade do que se populariza em dizeres recorrentes, a fatura destas obras convida a estabelecer conexões com a história da arte de Joinville e na produção específica de um de seus maiores representantes, Luiz Henrique Schwanke (1941-1992) que, no fim da vida, criou trabalhos sobre a questão da luz, do claro-escuro.

De modo distinto, Sérgio incorpora a luz, tanto no carimbo quanto nas paredes, numa projeção efêmera que depende da posição solar dentro do espaço expositivo.  Embora com definições formais muito diferentes, os dois artistas buscam revelar a existência do invisível, do inefável; no caso de Sérgio ele captura algo crucial da própria experiência no enfrentamento do preconceito racial.

Ainda tratando de herança e influências, importante mencionar o pioneirismo do artista e curador Franzoi em Joinville no uso do suporte livro, algo que também contagia o pensamento de Sérgio Adriano, o que se pode ver com clareza nesta exposição livro, assim pensada pela curadora Juliana Crispe.

O certo é que a individual “Ser Negro”, que abre a agenda de 2022 da Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, assume grandeza pelos trabalhos e sua proposição reflexiva, urgente e necessária, sobre arte e engajamento anticolonialista.

Fora do âmbito da mostra, pertinente olhar a lista de pessoas e cidades envolvidas neste projeto. As ressonâncias alcançadas pelo pensamento e produção de Sérgio Adriano H ganham cada vez mais aderência e interesse. Neste  momento ele envolve nove profissionais, seis de Santa Catarina (de Joinville e Florianópolis), um do Rio Grande do Sul e dois de São Paulo. 

Qualidade estética 

Franzoi, coordenador da Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, considera extremamente importante receber a mostra “Ser Negro”, não só pela qualidade estética das obras, mas também pela urgência do debate acerca do que o artista propõe. “Sérgio Adriano H toca fundo em um dos maiores problemas de sociedade brasileira: o racismo estrutural, a invisibilidade afrodescendente e do artista negro nos certames da arte. É primordial provocarmos reflexões e mudanças de paradigmas. Não há mais desculpas para o desrespeito, o preconceito, a ignorância”, diz ele, um defensor de que, enquanto espaço de formação artística, a Casa da Cultura abriga a Escola de Artes Fritz Alt, a Escola Municipal de Ballet, a Escola de Música Villa-Lobos e a Galeria têm a obrigação de dialogar com o tempo presente, propiciar debates e reflexões sobre a arte, a filosofia e a vida. 

Sobre Sérgio Adriano H

Sergio Adriano H. Foto: Divulgação

Nasce em 1975, em Joinville (SC). Artista visual, performer e pesquisador. Vive e produz entre Santa Catarina e São Paulo. Formado em artes visuais e mestre em filosofia. Tem trabalhos em acervos públicos e particulares. Incluído em 2014 no livro “Construtores das Artes Visuais: Cinco Séculos de Artes em Santa Catarina” como um dos 30 artistas mais influentes do Estado, já integrou mais de 120 exposições individuais, coletivas e salões. Conquistou, entre outras premiações, o Reconhecimento por Trajetória Cultural Aldir Blanc SC (2020) e a Medalha Victor Meirelles – Personalidade Artes Visuais (2018), concedida pela Academia Catarinense de Letras e Artes (Acla).  Com objetos, fotografias, vídeos e instalações, sua produção se situa na clave arte e engajamento. O corpo, a palavra e a história são ferramentas discursivas que incorporam a cidade, o percurso e o diálogo com o público. Seus trabalhos problematizam noções sobre o tempo e espaço, a arte e a filosofia, faz pensar a partir do que pode ser convencionado como uma poética da dúvida. Sérgio Adriano H luta contra a invisibilidade da produção afro-brasileira no circuito de arte contemporânea.

Sobre Juliana Crispe 

Nasce em Florianópolis (SC). Curadora, professora, pesquisadora, arte educadora e artista visual. Doutora em educação, mestre e graduada em artes visuais. Desenvolve projetos curatoriais desde 2007, tendo realizado mais de uma centena de exposições. Participa de conselhos e comissões de editais de artes visuais em Santa Catarina e no País. Membra do Conselho Deliberativo do Museu de Arte de Santa Catarina (Masc) e da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Destaque para as curadorias em parceria com a Galeria Choque Cultural (SP), curadora da Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba (PR), cujo trabalho rendeu o prêmio de Jovem Curadora em 2019, curadora do 11º Salão Nacional Victor Meirelles, promovido pelo Masc e Fundação Catarinense de Cultura (FCC). 

FICHA TÉCNICA

Sérgio Adriano H | artista

Juliana Crispe | curadora

Jan M.O. | design

Cyntia Werner | assessoria educacional

Baixo Ribeiro, Igor Simões, Rodrigo Domingos, Sheyla Ayo e Simone Henrique | palestrantes

Priscila dos Anjos | workshops

Néri Pedroso | imprensa e revisão 

SERVIÇOS

Exposição

O quê: Exposição “Ser Negro”

Quando: 10.3.2022, 20h (abertura). Até 10.4.2022. Seg. a sex., 10h às 16h

Onde: Casa da Cultura Fausto Rocha Junior, Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, rua Dona Francisca, 800, bairro Saguaçu, Joinville, tel.: (47) 3433-2557

Quanto: Gratuito

 

Palestra

O quê:  “Ser Negro – UCorpo Sem Direitos”, do artista Sérgio Adriano H

Quando: 10.3.2022, 19h

Onde: Auditório da Casa da Cultura Fausto Rocha Junior, Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, Dona Francisca, 800, bairro Saguaçu, Joinville, tel.: (47) tel.: (47) 3433-2557

Quanto: Gratuito

Sessão de autógrafos

O quê: Sessão de autógrafos do livro Apontamentos da Arte Africana e Afro-Brasileira Contemporânea” (Ed. Invisíveis Produções), de Célia Maria Antonacci

Quando: 10.3.2022

Onde: Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior, Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, rua Dona Francisca, 800, bairro Saguaçu, Joinville, tel.: (47) 3433-2557

Quanto: R$ 70,00

Equipe – Breve currículo

Sérgio Adriano H –  artista visual, performer e pesquisador. Vive e atua entre Santa Catarina e São Paulo.  Formado em artes visuais, mestre em filosofia pela Faculdade São Bento (SP).

Juliana Crispe –  vive e atua em Florianópolis (SC), pesquisadora, professora e curadora com pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em Artes pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).  

Baixo Ribeiro – vive e atua em São Paulo (SP), formado em arquitetura e urbanismo na USP. Fundador da galeria, editora e Instituto Choque Cultural, conselheiro do Centro Ruth Cardoso, coordenador do programa USP Urbana.

Cyntia Werner – vive e atua em Joinville (SC), artista visual, doutoranda e mestre em artes visuais, linha de Processos Artísticos Contemporâneos – 2017, pela Udesc.

Igor Simões – doutor em artes visuais – história, teoria e crítica da Arte na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor adjunto de história, teoria e crítica da arte e metodologia e prática do ensino da arte na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS).

Jan M.O. – vive e atua em Joinville, artista visual, ilustrador e graduado em design gráfico e programação visual (2010) pela Univille.

Néri Pedroso – vive e atua em Florianópolis (SC), atuação em jornalismo cultural, com experiência como editora e colunista. É autora de livros e artigos sobre artes visuais e dança contemporânea. Integra a Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). 

Priscila dos Anjos – vive e atua em Joinville, artista visual e arte educadora. Formada em artes visuais (2005) na Univille, com especialização em história da arte no Brasil (2006), na Faculdade de Arte do Paraná (FAP).

Rodrigo Domingos – vive e atua em Joinville, formado em publicidade e propaganda pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), com especialização em gestão da comunicação empresarial e relações públicas pela Sustentare Escola de Negócios.

Simone Henrique – doutoranda e mestra (2013) em direitos humanos pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Palestrante da Comissão de Cultura e Eventos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP).

REALIZAÇÃO

Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Artes – 2021, Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Governo do Estado de Santa Catarina

APOIO CULTURAL

Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), Prefeitura de Joinville,

Museu de Arte de Blumenau (MAB), Galeria Choque Cultural (SP) e Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), Rio de Janeiro (RJ)

SAIBA MAIS

facebook.com/sergioadrianoh

Instagran/sergio_adriano_h

Flick: Sergio Adriano H

CONTATOS

Ass. imprensa: NProduções Néri Pedroso (jorn.) (48) 9-9911-9837 (whats), Sérgio Adriano H (11) 94265-5179

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