Por Leonardo Sakamoto.
Você. Sim, você, que diz que não é preconceituoso porque tem amigos gays. Que acha um absurdo homossexuais serem surrados, mas “entende” quando gays “extrapolam” em suas liberdades, tiram outras pessoas do sério e “exageros” acabam acontecendo. Que defende a igualdade perante a lei, mesmo que vivamos em uma sociedade com pessoas que, historicamente, tiveram mais direitos que outras e, portanto, estão em uma situação privilegiada. Pois, para você, igualdade de tratamento deve significar manutenção da desigualdade – ou seja, se houver punição para homofobia também deve haver para heterofobia. Você, que acredita, acima de tudo, na proteção à família cristã, com pai e mãe, como solução para todos os males do mundo.
Acredite, você pode ser dodói e, talvez, nem perceba. Pois o diabo, ele sim, não está apenas nos grandes atos discriminatórios ou em genocídios, mas também nos detalhes que causam dor no cotidiano. Responda comigo:
Você fica no fundo da sala de aula tirando barato da colega só porque descobriu que ela é lésbica?
Envia para amigos, via redes sociais, dados mal interpretados a partir de pesquisas questionáveis de algum instituto de pesquisa de fundo de quintal, “provando” que não é possível criminalizar a homofobia?
Senta no sofá da sala e concorda com seu pai que alguma coisa precisa ser feita pois o mundo está indo para o buraco e a prova disso é um casal de “bichas” ter se beijado na saída do cinema?
Na hora de contratar alguém no escritório, prefere o hétero inexperiente do que a travesti mais do que adequada para a função?
Fica possesso por um hétero se juntar a um grupo de gays e reclamar das piadinhas estúpidas e sem sentido que você faz?
Vê seu filho brincando de boneca com a amiguinha e, imediatamente, manda ele voltar para casa e nunca mais permite que a veja de novo, pois não quer má influências na formação dele?
Acha uma aberração às leis de Deus duas mulheres ou dois homens se dedicarem à criação de uma criança, mas gasta todo o seu tempo livre com amigos, terceirizando seus filhos para uma babá?
Considera que falar sobre preconceito, igualdade, tolerância e homofobia para as crianças na escola fazem com que elas “aprendam” a ser gays e lésbicas?
Fica lisonjeado quando recebe uma cantada de mulher, mas transtornado quando o gracejo vem de um homem?
Se respondeu a “sim” a alguma delas, precisa conhecer mais gente diferente de você.
Se respondeu a “sim” a todas, precisa de ajuda médica. Urgente.
Recebi uma avalanche de notícias e histórias de homofobia faltando duas semanas para a Parada do Orgulho LGBT em São Paulo. Deve ser culpa do ar seco ou da frente fria, só pode.
Fonte: Blog do Sakamoto