Em meio ao clima de tensão entre o Congresso e o governo, o plenário do Senado aprovou na terça-feira (28), por 70 votos a favor e quatro contra, o relatório da Medida Provisória (MP) 870/2019. Sem alterações na redação vinda da Câmara dos Deputados, que devolveu as demarcações de terras indígenas à Fundação Nacional do Índio (Funai) e o órgão indigenista ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJ), a MP 870 segue para a sanção presidencial.
Caso a medida não fosse votada até a segunda-feira (3), perderia a validade e o arranjo administrativo do primeiro escalão federal teria que voltar a ser como era na gestão de Michel Temer. O texto aprovado pelo Senado reverteu as alterações de Bolsonaro na estrutura administrativa que afetavam mais diretamente aos povos indígenas, ao vincular a Funai ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e submeter as demarcações ao Ministério da Agricultura.
Em nota sobre a aprovação do texto da MP 870/2019, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) destaca que este resultado é fruto da união das forças de várias pessoas e instituições; parlamentares, de indígenas e de indigenistas e encoraja a sociedade brasileira a se manter em permanente e coordenada mobilização contra os retrocessos do governo Bolsonaro. “A terra é o princípio de tudo. Ela é nossa mãe e nosso pai. Nossa relação com a terra é de sustentabilidade, de respeito com a mãe natureza. A terra está gritando, está pedindo socorro e há quem não escute esse clamor”, denuncia a APIB.
“A terra é o princípio de tudo. Ela é nossa mãe e nosso pai”
Por outro lado, parlamentares favoráveis ao governo tentam desmobilizar o movimento indígena enviando uma série de sinais contraditórios sobre a tramitação da MP. Durante a votação, a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) reafirma o posicionamento da bancada governista. “Quero deixar claro aos produtores rurais que, independente do que acontecer agora, o presidente Bolsonaro não vai mais assinar demarcação de Terras Indígenas. Não assinou desde o dia 1º de janeiro e não vai assinar. Porque o presidente entende que os índios nunca tiveram as terras. Elas sempre foram da União”.
“O presidente Bolsonaro não vai mais assinar demarcação de Terras Indígenas”