Em 2018, Regina Dalcastagnè e seu Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) conversou com a revista Cult para apresentar os resultados de um estudo sobre o romancista brasileiro de 1965 a 2014. Na entrevista, que comentei na resenha sobre A Hora da Estrela, Regina comentou que apesar do aumento de mulheres escritoras e de ainda ter pouca representatividade negra, o perfil do romancista e de seus narradores e personagens se mantém o mesmo há muitos anos: são homens, brancos, pertencentes ao eixo Rio-São Paulo e de classe média.
Segundo Dalcastagnè, é preciso ter pluralidade de representações no mercado editorial. O cenário, autorreferente, cria publicações homogêneas e exclui aqueles que estão em outros cenários sociais. Para Regina, é possível ver nisso no uso do adjetivo “simples” para dizer que alguém é pobre e que isso se reflete na literatura, “uma vez que pessoas pobres são retratadas como personagens simples quando na verdade poderiam ser extremamente complexas”. Em alguns do texto que fiz, refleti sobre a perspectiva do narrador masculino, como na própria resenha sobre o livro de Clarice, citado acima, nas obras do Daniel Galera e em Noite dentro da Noite, do Joca Terron.
Em sintonia com o que diz a pesquisadora da UnB, Cristiane Camizão Rokicki, gestora da rede de bibliotecas do Senac São Paulo, aplica a ideia ao campo da educação. “O que eu leio e o que eu compreendo podem me transformar e a escola deve contribuir com isso, com espaços de discussão, com estímulo ao pensamento crítico e criando lugares do ouvir, falar e compartilhar”, afirma.
A proposta da 4ª edição da Semana Senac de Leitura é dar visibilidade à produção literária feminina, ainda com pouca representatividade no âmbito nacional.
Por isso, sob o tema Mulheres na Literatura – leitura e escrita que transformam vidas, a proposta da 4ª edição da Semana Senac de Leitura é dar visibilidade à produção literária feminina, ainda com pouca representatividade no âmbito nacional – cerca de 30% das obras publicadas. As atividades acontecem de 22 a 27 de abril e incluem encontros com autores, rodas de conversas, palestras e a tradicional Feira de Troca de Livros e Gibis.
A palestra de abertura é com as escritoras Maria Vilani, mãe do cantor, rapper e compositor Criolo, Jarid Arraes e Goimar Dantas, com a mediação de Bel Santos Mayer, coordenadora de projetos de fomento à leitura, no dia 22/4, das 15 horas às 17h30. O evento será transmitido para para todas as unidades participantes e pelo Facebook do Senac São Paulo no dia e horário de realização da mesa-redonda.
Acontecerão atividades interessantes como um bate-papo sobre literatura trans, com Amara Moira; uma oficina de preparo de sobremesas a partir de uma releitura de textos de Cora Coralina, com Fernanda Suzumura e Bárbara Meire, seguida de debate sobre obras da autora; sarau com a poetisa Slam Mel Duarte; palestra com Clara Barzaghi sobre o “Espaço da Mulher no Mercado Editorial”; e oficina de escrita com base na obra de Clarice Lispector a ser ministrada por Eliete de Oliveira. Há também eventos sobre contação de história, sobre a Sherazade, saraus e cordéis. Para conferir a programação completa e se inscrever, acesse o Portal Senac, porque alguns eventos têm vagas limitadas.
O evento já contou com a parceria do Instituto Rubem Alves e já teve temas como a “literatura fantástica e HQs” e “livros que viraram filmes e séries”.