Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
A Associação Afrodescendentes de São Miguel do Oeste/SC, em unidade com movimentos, pastorais, Igreja, sindicatos, realizou no último sábado, dia 19 de novembro, mais uma edição do Seminário da Consciência Negra, nas dependências do Salão Paroquial do município. A atividade teve início às 13h30 e estendeu-se até a noite.
Durante a tarde, o Educador Genival Conrado, falou sobre o tema: “Conjuntura nacional em relação as comunidades excluídas e a manutenção da indiferença”. Segundo ele, o “ser branco” sempre foi naturalizado na história. Ele destacou que embora uma grande parcela da sociedade não reconheça, mas todas as transformações que ocorreram no Brasil e no mundo, tiveram a participação de negros/as, indígenas, dos povos mestiços que foram explorados e muitos desses, exterminados.
Conrado citou as situações de racismo e preconceito envolvendo negros/as. “Quando a polícia faz o trabalho de fiscalização, a primeira pessoa a ser revistada sou eu. A polícia chega e escolhe um preto porque quem é negro sempre é visto como ‘atitude suspeita’”, disse ele.
O Educador também falou que a estrutura de poder no Brasil possui uma cor definida. “Vemos um país feito por homens e brancos, são poucas as mulheres que participam ativamente das decisões, menos ainda, negros e negras estão inseridos/as nesse espaço”, comentou.
Conrado falou ainda sobre a importância das cotas. “As cotas representam uma luta social histórica que permitiu muita gente chegar na Universidade. Nós sempre tivemos como propósito de vida o trabalho, no máximo, queríamos aprender a ler. Mas isso mudou, minhas filhas têm como projeto entrar para a Universidade, estudar. E isso só é possível por conta das cotas”, acrescentou Conrado, dizendo ainda, que de acordo com as propostas do Governo de Michel Temer, as perspectivas estão ligadas cada vez mais para que a Universidade Pública volte a ser ‘branca e eurocêntrica’.
“Não quero que olhem e digam que errei porque sou negro. Tenho o direito de errar”
Conrado fez uma análise sobre como a sociedade percebe os/as negros/as. “Muitas vezes a gente erra, somos seres humanos. Mas não quero que olhem e digam que errei porque sou negro. Tenho o direito de errar. Me permito errar como brancos erram, como todos e todas podem errar”, refletiu.
Segundo ele, muitas vezes as pessoas falam sobre o fato dos indígenas estarem usando roupas, ou reforçam o preconceito de dizer que “lugar de negro é na África”. Conrado falou ainda sobre as pessoas que doam a pior roupa possível para um indígena, e depois o acusam de não querer receber aquela roupa. As que entregam a comida que ninguém gosta na sua casa, que já passou da validade, e depois acusam negros/as de terem jogado fora.
Por esses e outros motivos, Conrado salientou a necessidade do estudo da história da África e de todos os conteúdos que envolvem a questão da diversidade. No entanto, ele ressalta mais uma vez, que as medidas tomadas pelo atual governo, envolvendo a não obrigatoriedade desses conteúdos, geram um problema profundo na sociedade, tornando a convivência, a compreensão de mundo, cada vez mais distante do ser humano.
“Defender o movimento ‘O Sul é o meu país’ é trair a Pátria. É crime”
Ao ser questionado sobre a relação do racismo com o movimento “O Sul é o meu país”, Conrado salientou que em um país denominado Democrático como o Brasil, deveria-se prender quem efetivamente tem defendido tal movimento. “Defender o movimento ‘O Sul é o meu país’ é trair a Pátria. O movimento é racista e racismo é crime. Em um país democrático deveria ser preso quem votasse a favor da separação do Sul do resto do país. Não se divide um país por plebiscito”, enfatizou.
Ele ressaltou ainda que o argumento utilizado pelo movimento, no que diz respeito ao Sul sustentar o Nordeste, é completamente equivocado. “O Sul não sustenta o Nordeste, se fosse assim, não teríamos tanta gente passando fome ou morrendo de fome no Brasil”.
Oficinas e momento cultural
Conforme a Presidente da Afrodesmo, Isete Carmen Lourenço, durante o Seminário sobre a Consciência Negra, foram realizadas oficinas sobre os seguintes temas: “Um pouco sobre o 20 de novembro”, “De onde viemos”, “A importância da mulher negra no movimento popular”, “Comunicação popular”, “Para onde vamos” e “O gosto da literatura infantil”. Os participantes de cada oficina realizaram durante a tarde a apresentação do trabalho construído no grupo.
Pelo período da noite, Isete destacou a presença do Grupo de Capoeira Cordão de Contas, e a apresentação de canções e expressões da cultura popular.