Seminário na Câmara critica censura a produções culturais feitas pelo governo Bolsonaro

Nos últimos dois meses, o presidente travou uma ofensiva contra Ancine e chegou a defender um "filtro" sobre o conteúdo das produções ou a agência seria fechada.

Foto: Mídia Ninja

Por George Marques.

Partícipe do Seminário Artigo 5º: Censura Nunca Mais, o ex-presidente do INPE, Ricardo Galvão, afirmou nesta quarta-feira (18) que o momento atual no país é de “negacionismo”, principalmente quando se trata de pesquisas científicas que o governo não tenha interesse que seja divulgado. No ocasião ele afirmou ter ficado “extremamente magoado” com a fala do presidente Jair Bolsonaro (PSL) desacreditando dados que apresentavam crescimento do desmatamento no Brasil.

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“Esse fogo que tem ocorrido agora na Amazônia nós avisamos desde maio”, disse. Galvão alertou ainda que caso não seja feito nada pela Amazônia, a tendência será de “savanização”, podendo afetar a biodiversidade de forma irreversível.

“No meio científico você acusar que um cientista está mentindo sobre os dados é uma acusação gravíssima, pois compromete a credibilidade de um órgão importante como o INPE”, afirmou.

Gésio Passos, Coordenador-Geral do Sindicato dos Jornalistas do DF e Jornalista da EBC, expôs alguns casos de censura promovidos na empresa que, segundo ele se intensificaram desde o início do governo Temer.

“Uma das primeiras medidas foi a cassação do conselho curador da EBC, responsável por pensar um conteúdo de interesse público, além de acabar com a autonomia do mandado do presidente, mudança da programação, perda da pluralidade, além de vetos às pautas LGBTs”, relembrou.

Para a deputada Áurea Carolina (PSOL-MG) há uma tentativa de grupos que assumiram o poder de tentar censurar as artes.

“É uma preocupação que nós temos, de como reagir, junto com as comunidades artísticas e populares, contra esse movimento de censura”, ressaltou.

“É importante evocar o artigo 5 e 223 da Constituição Federal, sobre a complementariedade do conteúdo dos sistemas privado, público e estatal de comunicação”, emendou.

André Mussalem, presidente da Comissão de Cultura da OAB/PE, reforçou que o trabalho da Ordem tem sido de alertar a sociedade sobre como a censura vem acontecendo hoje. “A OAB não tem partido, não tem ideologia, tem compromisso com o estado democrático de direito”, afirmou.

Em abril, o presidente mandou retirar do ar uma propaganda do Banco do Brasil sobre diversidade, que era estrelada por atores e atrizes negros, outros tatuados, além de homens usando anéis e cabelos compridos. Na ocasião, o diretor de Comunicação e Marketing do banco foi demitido.

Nos últimos dois meses, o presidente também travou uma ofensiva contra Ancine. Ele criticou o uso do dinheiro público para fazer “filmes pornográficos”, como Bruna Surfistinha, e defendeu que o cinema brasileiro passe a falar dos “heróis brasileiros”.

“Nós não queremos nem censuraremos ninguém, mas não admitiremos que a Ancine faça peças ditas culturais que vão contra os interesses e nossa tradição judaico-cristã”, afirmou em uma de suas transmissões.

Bolsonaro já disse em entrevistas que é “homofóbico, com muito orgulho” e que preferia ter um filho morto a um filho homossexual, entre outras declarações homofóbicas recorrentes em sua trajetória.

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