Seminário de Comunicação da Classe Trabalhadora, instância de reflexão e decisões

Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info

Acontecerá nos dias 23, 24 e 25 de setembro (veja programação em enlace abaixo) o 3º Seminário Unificado de imprensa sindical, no norte da Ilha de Santa Catarina. O mote principal da discussão, que contará com uma lista importante de palestrantes, é a Imprensa Sindical e o Novo Perfil da Classe Trabalhadora. É instigante, sem dúvida, mas, esse mote propõe-nos uma reflexão diária, como jornalistas e cidadãos vítimas do momento mais dramático do neoliberalismo e a neoescravização dos trabalhadores.

Além do que números e estatísticas possam apresentar, e as valorações a partir da categoria diretamente envolvida (índices de desemprego, remunerações precárias, terceirizações e desvalorização profissional), e do papel do sindicalismo no processo de construção da comunicação, o tema está no bojo de uma questão mais ampla que já foi tocada, mesmo que ligeiramente, em algum momento de outros capítulos desse seminário e em outras atividades semelhantes: a Soberania Comunicacional dos Povos. De maneira que, de saída, toda análise, reflexão e decisão, precisam conter a compreensão do que significa a tarefa jornalística e comunicacional na perspectiva da Luta de Classes e o enfrentamento ao discurso, ainda vencedor, da mídia monopólica. Porque, no cotidiano, fica palpável que, por mais experiências de contracorrente que se vão acumulando no Brasil e nos países da região, a derrota do campo popular para a mídia tradicional continua existindo e continua levando a humanidade a uma situação de atrofia, indefensão, alienação e distorção da realidade que parece fatalmente inexpugnável e imutável.

O jornalismo é, centralmente, uma profissão política. Sua importância no processo educador e formador da sociedade é decisiva. E hoje a sociedade é educada para corresponder aos anseios do sistema, à sua lógica perversa e à perseguição sem freio de toda e qualquer opção diferente aos interesses das classes dominantes. A disposição dos jornalistas, dos dirigentes da classe trabalhadora organizada e dos líderes dos movimentos sociais a respeito da importância da comunicação, não é tarefa pontual ou conjuntural. Trata-se de uma guerra contemporânea, na que os setores populares estão sendo massacrados pela eficácia do inimigo à hora de se comunicar. O Mundo todo está sequestrado pela desinformação, a distorção informativa e a propaganda encoberta ou explícita em favor do sistema capitalista e imperialista, do lucro e da neoescravização.

Não existe a possibilidade de um povo ser soberano em qualquer tema se ele não é soberano na comunicação. O dirigente sindical e as lideranças populares precisam debruçar-se em concreto, no dia a dia, sobre esta realidade. As estratégias comunicacionais que os trabalhadores se proponham e a compreensão da importância decisiva das mesmas é que levará a mais derrota ou ao início de uma trilha de polarização comunicacional com o sistema, até que este perca, definitivamente, sua credibilidade.

Em termos práticos, há de se recuperar, por exemplo, em Florianópolis, muito do que o jornalismo da Classe Trabalhadora construiu nas décadas de 80 e 90 do século passado, aquilo do que abriu mão a partir dos primeiros 15 anos do presente. Aquelas épocas nas que, mesmo sem a tecnologia atual, conseguia-se chamar a atenção, produzir reflexão, mobilizar e modificar a correlação de forças entre os trabalhadores e a patronal, fosse esta o Estado ou a empresa privada. Houve momentos memoráveis para o jornalismo dos 80 e 90 que não se reproduziram nunca mais. Houve também coletivos dirigentes que tinham mais clareza sobre a importância da comunicação de classe e de massas do que o que hoje se observa. Muito isto, em função da equivocada satisfação que se teve ao obter, através do PT, especialmente, o governo nacional. A confusão entre governo e poder ainda não foi sequer resolvida na narrativa e mais, houve um declínio na disputa com a direita, e até uma aliança e uma convergência de pensamentos que abonaram na linha de uma governabilidade desenvolvimentista, que deprimiu a comunicação da Classe e desmobilizou categorias antes vanguardistas na área comunicacional.

As novas tecnologias também enganaram em muito, tanto a dirigentes sindicais e lideranças sociais, como aos próprios jornalistas, que só anos depois, descobriram que as essas tecnologias, mal aplicadas, aumentaram o trabalho do jornalista, depreciaram sua tarefa, o tornaram vítima da tecnologia e favoreceram a confusão grosseira entre comunicação social e jornalismo. Isso tudo, em demérito da qualidade do jornalismo, e em prejuízo acentuado da informação e da formação política e intelectual da Classe Trabalhadora que ainda não se libera do fascínio com as novas tecnologias e pior, se neoescraviza com elas em lugar de usá-las corretamente na guerra contra o sistema. Mais ainda, os dirigentes da Classe Trabalhadora e os próprios jornalistas constroem seu discurso e parte de sua agenda em função das pulsações da mídia monopólica do sistema.

Há muito que discutir em espaços como esse que nos oferece o presente seminário na sua 3ª versão, muito que aprender a partir das experiências socializadas pelos palestrantes e pelos participantes. No entanto, a decisão de enfrentar o sistema no bojo da Luta de Classes e no marco da obtenção de uma Soberania Comunicacional para os povos, não pode perder de vista que a decisão política dos setores organizados, é decisiva. Podemos discutir até que o sistema imperial e capitalista faça desaparecer o Planeta, e não avançar ou avançar muito pouco, porque o centro da discussão passa pela decisão estratégica de colocar a comunicação como ponto estratégico da Classe em todas suas categorias, a compreensão de que estamos numa guerra e não em pequenas batalhas comunicacionais, e a revalorização da comunicação setorial e de massas como ferramenta determinante para a vitória ou, se não mudar o comportamento desta última década, a constante derrota para o sistema. Houve avanços? Sim, mas, poucos, difíceis e muito pouco eficazes, pois se a comunicação não é estratégica, o discurso pode se tornar contraditório na hora de priorizar econômica e estruturalmente o lugar da comunicação no campo dos trabalhadores organizados: os sindicatos. Fazer de conta não o mesmo que fazer.

As direções sindicais, os setores sociais populares e os jornalistas, precisamos todos, tomar decisões e ter atitudes diárias que nos permitam polarizar com a mídia do sistema dominante. O tempo todo e de forma mancomunada, esclarecida, profissional, disciplinada e sem claudicações. Se perdermos a guerra comunicacional, não haverá nenhum grau de soberania em nenhum setor da sociedade e será a última derrota da humanidade.

Refletir, informar, educar e unificar essas lutas, contando com os dirigentes da Classe Trabalhadora, os líderes dos Movimentos Sociais e os jornalistas que servem aos trabalhadores, é para já. Amanhã será tarde.

Informe-se sobre o Seminário: http://desacato.info/brasil/3o-seminario-e-1o-encontro-de-jornalistas-sindicais/

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