Por José Álvaro de Lima Cardoso.
Dados divulgados na imprensa dão conta que o Brasil nunca importou tantos derivados do petróleo quanto nos últimos dois anos. No ano passado o país importou US$ 6,3 bilhões em óleo diesel, o que corresponde a quase R$ 24 bilhões. Um detalhe fundamental: 84,3% do diesel importado veio dos Estados Unidos (US$ 5,3 bilhões). Segundo o blog O Cafezinho, o Brasil compra 15% de todo o diesel exportado pelos EUA, sendo o segundo importador daquele país, apenas atrás do México, que compra 18%. Em 2013, quando se intensificaram as articulações para o golpe de Estado e para tomar os recursos do Pré-sal, o Brasil comprava apenas 5,7% do diesel americano.
Será coincidência que, a partir do impeachment de Dilma em 2016, as importações de derivados de petróleo dos EUA deram um grande salto? Justamente no período em que, como uma das primeiras medidas do governo golpista de Temer, se articulava a destruição da Lei de Partilha? Ao mesmo tempo em que as importações aumentaram muito, num período de recessão da economia, a produção nacional de derivados estagnou, não apenas por um problema econômico, mas em função dos ataques da Lava Jato (uma operação essencial no golpe) à Petrobrás, especialmente às refinarias, que foram colocadas todas sob suspeição.
Os EUA não coordenaram o golpe de Estado no Brasil apenas porque são cruéis. É que eles têm uma necessidade dramática de fontes de suprimentos, na medida em que é o maior consumidor de petróleo do mundo, mas não produz em quantidade suficiente para suprir o consumo do país. Por detrás do golpe no Brasil (como ocorreu nos demais países da América Latina que sofreram processos semelhantes) há uma constatação de caráter estratégico, que é definitiva: o petróleo barato de produzir não tem nenhum substituto. Ele acabou, e o mundo já há algum tempo sofre as consequências políticas, sociais e militares deste problema. A produção de petróleo não convencional (o chamado shale oil, produção a partir de xisto betuminoso), vem adiando um pouco o momento em que a produção mundial de combustíveis irá diminuir em termos absolutos.
OS EUA precisam, portanto, sempre de novas fontes de suprimentos de petróleo e, ao mesmo tempo, que países subdesenvolvidos e coloniais comprem os derivados que refinam. A paralisação da produção brasileira de derivados, decorrente do golpe de Estado, e o cancelamento na construção de refinarias, no país, ajudou diretamente os EUA a aumentar significativamente suas exportações. Essa é uma das principais razões pelas quais os EUA vem desferindo golpes na América Latina: colocar as economias ao seu serviço. Entender a questão do petróleo é fundamental também para entender o que ocorre na Venezuela. Quem não tiver o mínimo de compreensão sobre esse assunto, corre o risco de ficar repetindo a propaganda de guerra do Império
Os EUA estão desestabilizando governos no mundo todo, com atenção especial para a América Latina, que consideram seu “quintal”. Porém, além do petróleo e outras matérias-primas essenciais, uma explicação central do envolvimento dos EUA no golpe no Brasil é também a tentativa de impedir que se crie outra potência no continente americano. Uma potência na América do Sul e ligada comercial e militarmente à China e à Rússia é tudo o que os Estados Unidos não querem. Além disso, com o nível atual da crise internacional do capitalismo os países imperialistas necessitam transferir recursos da periferia para o centro, para compensar as perdas. Daí a voracidade com que os representantes dos EUA no Brasil (como Bolsonaro e Paulo Guedes), querem destruir Seguridade Social, entregar estatais, água, petróleo, minerais em geral. É que sem a brutal transferência de recursos dos países latino americanos (e da periferia capitalista em geral), o Império, não se sustenta. E o Brasil é fundamental nesse processo de saque.
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