O Brasil fechou o mês de maio com mais de meio milhão de infectados pelo novo coronavírus. De acordo com o boletim do Ministério da Saúde divulgado neste domingo (31), o país acumula 514.849 casos, com mais de 16 mil registrados nas últimas 24 horas. Outros 480 novos óbitos também foram computados e, ao todo, 29.314 vidas foram perdidas. A 95 dias do primeiro caso identificado, em 26 de fevereiro, o Brasil chega ao quarto mês da pandemia com uma tendência ainda crescente de expansão da doença em todos os estados.
É o que destaca o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), coordenador do Observatório da Fiocruz Covid-19, Carlos Machado de Freitas, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.
Coordenador de um estudo divulgado em 13 de maio, que concluiu ser necessária a adoção de medidas de gestão e governança mais efetivas para o enfrentamento do novo coronavírus, Freitas observa que, de lá para cá, a situação do país continua ruim.
“Falta uma coordenação mais geral no nível nacional para o enfrentamento da pandemia envolvendo todos os setores. Individualmente, cada estado buscou as melhores alternativas e soluções, alguns com mais ou menos coordenação”, explica, advertindo que, “em nível nacional, não houve uma articulação, uma governança”.
Esforços dos estados e municípios
Sem a coordenação por parte do governo de Jair Bolsonaro, a tarefa de combater a pandemia ficou a cargo dos estados e municípios. A articulação, no entanto, ainda é falha, de acordo com o pesquisador. Para ele, é urgente a articulação entre as medidas de esforços nas capitais com as regiões metropolitanas.
“Se um município adota medidas mais rigorosas de distanciamento social e o município seguinte não faz o mesmo, o que o vizinho deixa de fazer vai sobrecarregar de algum modo o sistema de saúde da capital ou de outros próximos. Essas medidas têm que ser articuladas”, defende.
Freitas lembra, por exemplo, da resistência do governo da região da Lombardia, na Itália, ou mesmo da Espanha em dado momento, em adotar medidas mais rigorosas de distanciamento social, entre elas, o lockdown. Posteriormente, foram colocadas em prática e agora começam a ser flexibilizadas devido ao maior controle da covid-19 proporcionado pelo distanciamento social.
“Parte do sucesso dessas medidas, e posso dizer que elas foram bem sucedidas pois houve uma redução do número de casos e ambos os países estão em processo de abertura, se deveu em parte à constituição de uma governança. Envolvendo não só diferentes regiões e municípios, mas diferentes atores. O que nós temos defendido, e estamos trabalhando na Fiocruz, é a defesa de que esse processo tem que ser amplamente discutido com toda a sociedade. Porque o que um setor faz, o que ocorre num bairro e num município, afeta os outros. Isso traz mais do que nunca uma perspectiva de trabalho cooperativa e solidária, sem isso não tem como enfrentar a pandemia”, garante.
Sem distanciamento social, o impacto na economia será maior
O pesquisador da Fiocruz ainda lembra que é falsa a dicotomia entre economia e medidas mais rígidas de isolamento.
Um estudo da Universidade de Copenhague, por exemplo, sobre os impactos econômicos por conta da pandemia, identificou que, na comparação do modelo de isolamento social menos rígido, adotado na Suécia, com o mais rígido da Dinamarca, a queda no consumo das famílias foi de 25% entre os suecos e de 29% entre dinamarqueses.
Uma diferença pequena e, além disso, a Suécia deve ter o PIB encolhendo 7% em 2020, segundo previsão do ministério da Economia do país. Enquanto na Dinamarca estima-se que a queda seja de pouco mais de 5%. “O impacto na economia não resulta das medidas de distanciamento social, resulta da pandemia como um todo, que afeta o sistema produtivo e social”, adverte Freitas.