Sem abelhas não há alimentos

Por Marcus Eduardo de Oliveira.

A declaração a seguir, proferida na década de 1940, é de Albert Einstein: “Olhem as abelhas, se elas sumirem a humanidade tem um máximo de quatro anos de sobrevida, pois não haverá plantas e nem animais. A polinização é a grande responsável pela produção de alimentos”.

Há 80 milhões de anos as abelhas desempenham a crucial tarefa de polinizar plantas. A polinização é a transferência de grãos de pólen (gameta masculino) das anteras (órgãos masculinos) de uma flor para o estigma (parte do aparelho reprodutor feminino) da mesma flor ou de outra flor da mesma espécie. Sem essa transferência, não há a fecundação das plantas e, sem plantas, não há, simplesmente, como alimentar o mundo. Sem esse processo não há a formação das sementes e frutos. São as abelhas que garantem a diversidade e o equilíbrio do ecossistema em seus 55 dias de vida apenas (abelhas operárias).

Estudos apontam que 50% da biomassa de uma floresta tropical seja formada por formigas, vespas, abelhas e cupins. Assim como as abelhas, também as formigas exercem fundamental papel no equilíbrio do ecossistema. Elas influenciam fortemente os ecossistemas, uma vez que são importantes na incorporação de nutrientes ao solo e na sua aeração, atuando ainda como predadoras de outros organismos, permitindo a regulação da diversidade no ambiente. O desaparecimento de grande parte de abelhas e formigas poderia anunciar uma catástrofe ambiental.

Especificamente em relação às abelhas, estudos elaborados recentemente por pesquisadores da Universidade de Cornell (EUA) apontam que 1/3 dos alimentos que consumimos são diretamente dependentes do papel delas na natureza. Além disso, mais de 80% dos alimentos consumidos pela humanidade são polinizados pelas mesmas. O aumento da quantidade de frutos e sementes em decorrência da polinização permite obter a qualidade de diversos ecossistemas.

Entretanto, a agressão ambiental verificada em escala cada vez mais acentuada atinge em cheio essa riqueza natural. Pelas mãos dos homens, o desmatamento, a poluição, as queimadas, os incêndios florestais, o uso indiscriminado de agrotóxicos (especialmente quatro tipos deles: imidacloprido, tiametoxam, clotianidina e fipronil) e a ação de meleiros (pessoas habilidosas em encontrar enxames) tem colocado a vida das abelhas em condição de perigo. Sem as abelhas ficaremos sem frutos, legumes, nozes, óleos e algodão. No tocante aos agrotóxicos, empresas químicas poderosas estão fazendo nos bastidores do poder forte lobby para continuar vendendo esses venenos.

Por conta desses agravantes, nos últimos 15 anos tem-se notado considerável aumento da mortalidade das abelhas, em especial na região sul do país, o que se configura numa situação muito preocupante. Sem a força retórica da expressão, o certo é que o sumiço das abelhas mudaria completamente todo o ecossistema, afetando significativamente a vida de todos nós.

Como bem aponta Marcelo Boroviak, as abelhas são seres fundamentais para a manutenção da vegetação natural e cultivada, pois contribuem para a perpetuação de muitas espécies nativas e de culturas agrícolas. Sua preservação é importante devido ao papel fundamental que desempenham na cadeia biológica: fazer a polinização e garantir, dessa forma, a continuidade das espécies de flores de onde insetos e outros animais retiram seu alimento. O alerta está dado: vamos olhar com mais atenção para isso.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ambientalista, com mestrado pela Universidade de São Paulo (USP).

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Foto: http://queremosverde.com/

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