Por Reneu Zortea, para Desacato. Info.
É mês de maio. Aproxima-se o dia das mães e do golpe também. A liturgia do final de semana fala na ascensão de Jesus aos céus. Uns ficam olhando para o céu. Anjos de Deus convidam a olhar para a terra, pois essa treme com o golpe que se aproxima. Uma mulher, igual a tantas mulheres, está sendo chutada como barata por uma sociedade machista. Homens poderosos do mundo, com as forças econômicas, políticas e de ideologia capitalista planejam a ciranda da perpetuação no poder a serviço do grande capital. E o povo seja golpeado em suas conquistas, direitos, esperanças – vidas sendo sacrificadas! Será que o mundo segue nas garras dos poderosos, como tem sido por milhares de anos, com seus impérios à custa do colonialismo, invasões, guerras, saques, nações e culturas arrasadas, e destruição de vidas? Meu Deus, o que é isso? Que mundo é esse?
Em meio a essa realidade, o que Deus pede de mim? O que devo falar na liturgia deste Domingo da Ascensão e Dia das Mães? Que palavras Deus gostaria que saíssem da boca de um padre nesta missa?
Sim, devo falar algo! Não dá para ficar indiferente, pois, na indiferença reina a morte e tudo parece normal. Devo falar! Mas o quê? Passei a ler e refletir as leituras bíblicas daquele final de semana por várias vezes. Rezei durante a semana, pedindo a Deus que me ajudasse a dizer algo que fosse de sua vontade. Pois, “eu não vim fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Mt 6,38).
É manhã de sábado. Diante do sacrário, na capela da casa paroquial, as ideias para a homilia apareciam misturadas com o medo e a insegurança. Ao mesmo tempo, uma voz permanecia dentro de mim: “Não tenha medo”! “Eis que estou com você”! “Olhe para o Evangelho”! Lá pelas tantas, eu disse a Jesus: “Estamos juntos! Vamos lá!” Em profunda comunhão com o Espírito Santo, rezei a oração do Pai Nosso, pedindo luz e força a Jesus, e me retirei! Sua imagem de menino da estrebaria, de jovem camponês e operário de Nazaré, juntos às crianças, pobres, prostitutas, doentes, sofridos, com sua profecia, me acompanhava, passo a passo rumo ao altar da Matriz.
É domingo, Dias das Mães! Às 8h, inicia a celebração. Seguem as leituras, o Evangelho, a homília.
No final da homilia, teve gente que saiu da Igreja. Na noite umas cobranças de pessoas que querem uma religião sem o Evangelho. Acolhi os resmungos e disse que a resposta seria o próprio Evangelho de Jesus. Na segunda-feira, parte da homilia, sem o contexto da reflexão, circula nos meios de comunicação e redes sociais. Como sempre, uma meia verdade. A meia verdade é a pior mentira, porque parece verdade, mas esconde muito. A verdade toda abre os olhos, liberta o povo e torna-se perigosa! Alguns meios de comunicação dão ênfase nas meias verdades, querendo jogar a população contra a pessoa do padre, a Equipe Paroquial, bem como desmoralizar a Igreja de Jesus. Comentários em redes sociais questionam que o padre não deve falar de “política na igreja”. Uma enquete, por uma rede de comunicação local, força algo nesse sentido. Para assim agir, basta uma religião fechada em si mesma, a serviço do sistema.
Alguns espalham anúncios que querem pegar o padre Reneu Zortea. Impressiona, algumas dessas pessoas tenho muito ajudado em suas dificuldades familiares com visitas, benções e orações. As pessoas como essas, apesar de tudo, Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que estão fazendo” (Lc 23,34). Na boca da noite, são articulados planos a fim de retirar o padre Reneu da Paróquia e até mesmo extinguir seu ministério. Outros, com os mesmos interesses comentam: será que o padre vai ser transferido? Em situação semelhante, Jesus tem esta resposta: “Nesse momento, alguns fariseus se aproximaram e disseram a Jesus: deves ir embora daqui, porque Herodes quer te matar. Jesus disse: Vão dizer a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho” (Lc 13, 31-32).
Na Câmara de Vereadores de SMO, uma moção de repúdio à homilia do padre encaminhada por um suplente de vereador, é contestada pelos pobres de Deus, juventudes da PJR e PJMP, lideranças das comunidades, pastorais e movimentos populares, Equipe Paroquial. O resultado foi à vitória popular de 07×01.
No conflito do Evangelho em cena não param de aparecer manifestações de solidariedade das juventudes, mulheres, organizações populares, padres, bispos, sindicatos, comunidades, e outras manifestações de apoio por diversos segmentos populares do Brasil. Por todos e todas em solidariedade pela causa do Evangelho, eu agradeço com as palavras de Jesus: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11, 25). Sim, ó Deus dos pequeninos, eu te louvo e te agradeço por todas as solidariedades recebidas.
Sigamos em frente, sem medo. Unindo todas as nossas forças, com trabalho de base, formação e luta para destruir o capitalismo e construir o Reino de Deus e a sua justiça – Outro mundo é possível. “Ademais, fortaleçam-se no Senhor e na força de seu poder. Vistam a armadura de Deus para poderem resistir às manobras do diabo…” (Efésios 6,10-20). Com Jesus e São Miguel Arcanjo na luta pela vida. Pe. Reneu Zortea, junho de 2016.
