Os secretários estaduais de Saúde de todo o país reivindicam mais rigor nas medidas restritivas para evitaro “colapso nacional” pelo descontrole da covid-19. O Brasil tem mais de 243 mil mortos.
Por meio de carta aberta divulgada hoje (1) pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), os gestores destacam que o Brasil vive atualmente seu pior momento da crise sanitária. Os índices de novos casos da covid-19 alcançam patamares muito elevados em todas as regiões, estados e municípios. A doença já matou mais de 254 mil pessoas.
Sem citar nomes, eles afirmam que a falta de uma condução nacional unificada dificultou a adoção de medidas para conter as aglomerações durante as eleições, as festas de fim de ano, as férias nas praias e até no carnaval. “O relaxamento das medidas de proteção e a circulação de novas cepas do vírus propiciaram o agravamento da crise sanitária e social, esta última intensificada pela suspensão do auxílio emergencial”, diz trecho do documento.
Medidas mais duras
Por isso os gestores estaduais da saúde defendem medidas em nível nacional. É o caso da proibição de eventos presenciais, como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas, do fechamento de escolas, bares, igrejas, praias e o toque de recolher das 20h até as 6h da manhã e durante os finais de semana.
Pedem ainda a compra de todas as vacinas disponíveis, o pagamento do auxílio emergencial, a criação de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerados o fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual. E também a ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, entre outras coisas.
Reação de governadores
Pela manhã, governadores de 16 estados acusaram o presidente Jair Bolsonaro de distorcer os valores sobre repasses para a área da Saúde. Em carta, os chefes de Estado desmentem os valores divulgados pelo governo federal.
Ontem (28), Bolsonaro divulgou, em seu Twitter, uma “conta” dos valores diretos e indiretos repassados aos estados. Porém, de acordo com os governadores, os dados são distorcidos porque englobam repasses obrigatórios pela Constituição Federal, que estão previstos pelo pacto federativo.
Leia a carta na íntegra
Carta dos Secretários Estaduais de Saúde à Nação Brasileira
O Brasil vivencia, perplexo, o pior momento da crise sanitária provocada pela COVID-19. Os índices de novos casos da doença alcançam patamares muito elevados em todas as regiões, estados e municípios. Até o presente momento, mais de 254 mil vidas foram perdidas e o sofrimento e o medo afetam o conjunto da sociedade.
A ausência de uma condução nacional unificada e coerente dificultou a adoção e implementação de medidas qualificadas para reduzir as interações sociais que se intensificaram no período eleitoral, nos encontros e festividades de final de ano, do veraneio e do carnaval. O relaxamento das medidas de proteção e a circulação de novas cepas do vírus propiciaram o agravamento da crise sanitária e social, esta última intensificada pela suspensão do auxílio emergencial.
Por isso a entidade defende maior rigor nas medidas de restrição das atividades não essenciais conforme a situação epidemiológica e capacidade de atendimento de cada região. Isso porque nas regiões com ocupação de leitos acima de 85% a tendência de elevação no número de casos e óbitos é maior.
O recrudescimento da epidemia em diversos estados leva ao colapso de suas redes assistenciais públicas e privadas e ao risco iminente de se propagar a todas as regiões do Brasil. Infelizmente, a baixa cobertura vacinal e a lentidão na oferta de vacinas ainda não permitem que esse quadro possa ser revertido em curto prazo.
O atual cenário da crise sanitária vivida pelo país agrava o estado de emergência nacional e exige medidas adequadas para sua superação. Assim, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) manifesta-se pela adoção imediata de medidas para evitar o iminente colapso nacional das redes pública e privada de saúde, a saber:
a) Maior rigor nas medidas de restrição das atividades não essenciais, de acordo com a situação epidemiológica e capacidade de atendimento de cada região, avaliadas semanalmente a partir de critérios técnicos[1], incluindo a restrição em nível máximo nas regiões com ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação no número de casos e óbitos. Para tanto, são necessárias:
- A proibição de eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas em todo território nacional;
- A suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país;
- O toque de recolher nacional a partir das 20h até as 6h da manhã e durante os finais de semana;
- O fechamento das praias e bares;
- A adoção de trabalho remoto sempre que possível, tanto no setor público quanto no privado;
- A instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerados o fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual;
- A adoção de medidas para redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos;
- A ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, com isolamento dos casos suspeitos e monitoramento dos contatos;
b) O reconhecimento legal do estado de emergência sanitária e a viabilização de recursos extraordinários para o SUS, com aporte imediato aos Fundos Estaduais e Municipais de Saúde para garantir a adoção de todas as medidas assistenciais necessárias ao enfrentamento da crise;
c) A implementação imediata de um Plano Nacional de Comunicação, com o objetivo de reforçar a importância das medidas de prevenção e esclarecer a população;
d) A adequação legislativa das condições contratuais que permitam a compra de todas as vacinas eficazes e seguras disponíveis no mercado mundial;
e) A aprovação de um Plano Nacional de Recuperação Econômica, com retorno imediato do auxílio emergencial.
Entendemos que o conjunto de medidas propostas somente poderá ser executado pelos governadores e prefeitos se for estabelecido no Brasil um “Pacto Nacional pela Vida” que reúna todos os poderes, a sociedade civil, representantes da indústria e do comércio, das grandes instituições religiosas e acadêmicas do País, mediante explícita autorização e determinação legislativa do Congresso Nacional.
Carlos Lula
Presidente do Conass
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