Por Fernando Rodrigues.
O presidente da República, Michel Temer, disse ao Poder360 que concorda com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Ele tem os pés no chão. Quando ele diz que ainda não tem os votos [para aprovar a reforma da Previdência], coincide com o que nossa articulação política também tem falado. Faltam alguns votos para chegar aos 308 necessários”.
Michel Temer recebeu o Poder360 para uma conversa ontem (31.jan.2018) em seu gabinete, no Palácio do Planalto. Falou muito sobre sua obsessão a favor da reforma da Previdência. Declarou-se otimista sobre obter os votos, mas realista sobre não ser possível levar adiante essa esperança quando março chegar.
“Eu acho que fica complicado [iniciar o processo de aprovação em março]. O ideal é começar a votação em fevereiro. Se de fato passar esse período e verificarmos que não há votos, aí eu vou ser obrigado a reconhecer que fica muito difícil. Mas o que pauta nossa conduta agora é um otimismo muito grande em relação à possibilidade de aprovação”, disse o presidente.
O Poder360 quis saber: “E em novembro, depois das eleições?”. Temer respondeu de maneira cética: “Acho que fica mais complicado. Não é fácil”.
O presidente também falou ser a favor do Refis para micro e pequenas empresas: deve enviar um novo projeto sobre o tema para o Congresso. Não se arrepende de ter nomeado Cristiane Brasil ministra. Recusa-se a falar sobre quem prefere como candidato a presidente. Acha que em São Paulo é viável uma aliança entre MDB e PSDB. Vai fazer uma reforma ministerial num pacote só. Declara ter zero preocupação com o inquérito a respeito do porto de Santos. E sente-se hoje melhor com dois stents, mas continua a tomar uma dose de aspirina infantil por dia.
Eis os trechos da entrevista:
REFIS DAS MICROS: NOVO PROJETO
O Congresso está para derrubar o veto ao chamado Refis das micro e pequenas empresas. O presidente disse ser a favor, mas teme pela inconstitucionalidade. Deputados e senadores teriam de ter feito um estudo sobre o impacto financeiro (o custo é de pouco mais de R$ 7 bilhões aos cofres públicos). Se o veto cair, a AGU terá de entrar com uma ação no STF arguindo a inconstitucionalidade do texto. Por essa razão, Temer pensa em propor uma nova lei ao Congresso.
“Se tivessem feito o estudo de impacto financeiro, eu até teria sancionado. Não teria dúvida em relação a isso. Agora, em função do veto, eu penso em propor uma nova lei complementar –mas aí o Congresso faz a avaliação do impacto econômico-financeiro. Essa é uma das hipóteses”, relata o presidente.
CRISTIANE BRASIL: O JUDICIÁRIO DECIDE
O presidente diz estar convicto da sua prerrogativa constitucional privativa de indicar e nomear ministros. Mas resigna-se: “Agora, se ao final, em palavra definitiva o Judiciário decidir que não pode, paciência, eu tomo outra posição”. E mais: “Eu posso começar um erro político, um erro de avaliação administrativa, o que eu não posso é cometer um erro jurídico. E aí eu confesso que não cometi. Eu me pautei pelo texto constitucional”.
E O VÍDEO?
O presidente assistiu ao vídeo polêmico da deputada em um barco se defendendo ao lado de 4 homens sem camisa. A atitude foi apropriada? “Isso é uma consideração que ela própria tem que fazer. Não é o presidente da República que tem que fazer essas considerações de natureza pessoal. São critérios que cada um usa a seu critério”.
CANDIDATO A PRESIDENTE DO GOVERNO
Michel Temer repete seu mantra: “Vamos conversar sobre isso no final de maio”. Pode ser em abril, quando tudo estará mais claro? “Quando estiver claro qual é o cenário, eu ainda vou avaliar durante um certo período: qual é o melhor cenário para o governo”.
MEIRELLES E MAIA
O ministro da Fazenda e o presidente da Câmara pensam em disputar o Planalto. O que acha? “São nomes eleitoralmente e administrativamente prezáveis. Mas eu só vou falar sobre isso no final de maio, começo de junho”, responde Temer.
ELEIÇÃO EM SÃO PAULO
Michel Temer resume: “O Paulo Skaf já foi candidato na última eleição. Teve um bom desempenho. Todas as vezes que ele conversa comigo, tem a firmíssima disposição de disputar o governo do Estado. Ao que me parece, com o apoio do MDB local”.
SKAF E DORIA
Há chance de Skaf apoiar João Doria, do PSDB, na disputa estadual? “Neste momento, não. Mas é a história da nuvem. Até maio ou junho não se sabe o que vai acontecer. Não estou definindo nenhuma posição na eleição. Mas se houver uma aliança dessa natureza eu não vejo nenhum problema. Agora, por enquanto, quero dizer, mais uma vez ressaltando, que o Paulo Skaf se apresenta sempre como pré-candidato e muito definido”.
PORTO DE SANTOS: “ZERO DE PREOCUPAÇÃO”
O presidente diz não estar preocupado com a possível reabertura do inquérito que o cita e trata de suposta corrupção e pagamento de propina. “Zero de preocupação”, declara. Cita o fato de que a empresa que seria favorecida com a edição de uma MP acabou, na realidade, não tendo nenhuma facilidade.
“JÁ PRESCREVEU”
Temer elabora mais. A atribuição do suposto crime seria inepta. “Não seria sequer aplicável ao meu caso, porque só se pode imputar a mim aquilo que eu cometi como delito depois da minha ascensão. Por fim, se tivesse algum delito, estaria prescrito. São mais de 20 anos. Pode por 0, aliás, menos -2 de preocupação”.
REFORMA MINISTERIAL: PACOTE ÚNICO
O Poder360 perguntou a Temer sobre a nomeação para o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. E o presidente: “Logo nós vamos definir. Daqui um tempo vou fazer uma mudança geral, porque muitos vão sair. Acho que faço tudo em um pacote só”.
SAÚDE: “ESTOU MELHOR COM OS STENTS”
O presidente relatou sobre como tem passado: “Está tudo muito bem. Eu me sinto bem. Até me sinto melhor. Isso é curioso. Eu chego aqui às 8h e saio às vezes meia-noite. Sempre tinha um mal-estar generalizado. Uma coisa indefinida. Depois que coloquei os dois stents, mudou a qualidade de vida. É impressionante. Eu já tinha ouvido isso de muitas pessoas que colocaram stents”.
ASPIRINA INFANTIL
“Tomo aspirina. Aquela pequena. Foi mantido e a ideia é ser usada para sempre. Muita gente toma essa aspirina”.