Por Carlos Eduardo Bezerra.
“Vamos botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil”. Esta é uma das primeiras frases que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) martela constantemente em seus discursos. São 18.000 sindicatos, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, além de 820.455 organizações da sociedade civil ativas no Brasil, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Há dois pontos fundamentais de incerteza para essas entidades: os ativistas temem por suas vidas e pelo esvaziamento das suas lutas. O consenso é que não há como parar de lutar.
Os bancários também usufruem de muitos frutos do ativismo. A organização da categoria em sindicatos, mobilização em protestos e greves resultaram em uma Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) que é válida em todo o país; em aumentos reais consecutivos; na jornada de seis horas e no não trabalho aos sábados. Os bancários também foram a primeira categoria a conquistar o direito de receber parte do lucro das empresas, a PLR. Sem falar em outros benefícios como vales refeição, alimentação, auxílio creche, licenças maternidade e paternidade ampliadas – tudo fruto da luta do ativismo bancário.
Há ainda mais um dado preocupante, diante da eleição de um presidente com claras tendências privatistas. Como ficará a defesa dos bancos públicos, sem a presença das associações representativas de bancários, como AABB, APABB, APCEF, ACEA, AABNB, AFBNB entre outras, todas fadadas à perseguição política, enfraquecimento e até mesmo extinção?
Neste contexto, a declaração de Bolsonaro é de extrema gravidade. Qualquer sociedade liberal e democrática abraça o ativismo como uma coisa normal, sem nenhum problema, inclusive como algo necessário à própria democracia.
Prender, coibir ou mandar ativistas para fora do país significa a volta da ditadura no Brasil. É uma afronta à liberdade das pessoas e a seu direito de se organizarem por mais conquistas. Sem ativistas dispostos a levantar a voz contra injustiças, a sociedade retrocede. Sem dirigentes, sem sindicatos, sem as associações, quem vai representar e lutar pelos direitos dos trabalhadores? O atual momento é, acima de tudo, de união e de coragem. Estaremos juntos!
*A opinião dos autores não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.