Vivemos em uma sociedade onde todas o conhecimento científico vem sendo fortemente questionado, fato bastante positivo, pois é fundamental que sejamos sempre críticos e observadores da realidade sem seguir cegamente orientações ou direções de outras pessoas. Isso é aspecto fundamental para evitar a alienação e para que tenhamos uma sociedade formada por cidadãos: pessoas críticas, bem informadas e dotadas de opinião própria. Evita-se assim que tenhamos uma sociedade de bestiais que seguem ordens acriticamente.
Por Douglas Kovaleski, para Desacato.info.
Com base em pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), no jornal da USP sob o link https://jornal.usp.br/universidade/politicas-cientificas/jovens-defendem-a-ciencia-mas-desconhecem-producao-cientifica-do-pais/, que entrevistou 2,2 mil jovens entre 15 e 22 anos, em 21 estados e do distrito federal, mais da metade (54%) considera que os cientistas estão exagerando sobre os efeitos das mudanças climáticas e 40% concordam que, se a ciência não existisse, seu dia a dia não mudaria muito. 60% desconhecem que antibióticos não combatem vírus e 26% acreditam que vacinar as pessoas pode ser perigoso. 87% não soube citar o nome de nenhuma instituição brasileira de pesquisa, enquanto apenas 5% soube dizer o nome de algum cientista brasileiro.
Outro achado importante é que a juventude brasileira se informa sobre saúde nas mídias digitais, Google e o Youtube e tem sérias restrições a buscar ativamente assuntos de interesse. E o maior espanto vem de outro achado, metade dos jovens acha difícil saber se uma notícia é falsa ou verdadeira e, para 21% deles, isso é muito difícil ou impossível de saber.
Esse estudo ajuda em muito a compreendermos alguns eventos que acontecem no Brasil, desde a eleição do ilegítimo presidente Bolsonaro até as dificuldades no cumprimento das metas de vacinação ou até mesmo o avanço no número de evangélicos no país. O nível de (des) informação e principalmente de (de) formação política são aspectos decorrentes dessa era da pós-verdade onde a ignorância, o individualismo e a fé cega tornam-se os guias de parcela significativa da população.
Saúde não se faz com medidas impositivas, ou com o puro e simples atendimento das demandas da população desinformada, isso é populismo. É preciso enfrentar os problemas de saúde, assim como os demais aspectos da sociedade, com o grau de complexidade e de dificuldade que os problemas requerem. Os movimentos sociais e todos os seres pensantes da esquerda brasileira precisam unir esforços para negar o pragmatismo político e ideológico, as respostas fáceis e trabalhar com seriedade na educação popular.
É preciso dar à ciência a importância e a credibilidade que lhe cabe ou retornaremos a algo semelhante à idade média, tanto do ponto de vista político, social e do conhecimento.
Imagem de capa: Desenho infantil em Arte Musas
Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.
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