Por Raul Longo.
Jamais imaginei que um dia daria razão ao General João Batista Figueiredo, mas tenho de confessar: tô com saudade daquela direita que prendia e arrebentava!
Muita saudade porque depois da direita perceber que é mais rentável e produtivo comprar a esquerda, não há Cristo que expulse os vendilhões do templo. Todos os púlpitos servem de balcão de negócios para os capitais financeiros do país, sem fiscalização de CPMF alguma.
Itaú e Bradesco concorrem entre si ou acorrem juntos como nos tempos em que Herbert Levy e Olavo Setúbal compunham à mesma ARENA de Amador Aguiar representado por Laudo Natel?
Se politicamente a direita faliu, não perderam tempo em arrematar o que há de disponível no mercado. Na falta de tu vai tu mesmo e se da direita só sobrou refugo, embora não esteja em melhor estado os defeitos da esquerda tem jeito. Conserta-se um erro de fabricação daqui, ajusta um uso inadequado dali e, com alguma paciência, a coisa deslancha. Melhor do que ficar empurrando o que já passou do prazo de validade e não tem peça de reposição para o totalmente desgastado, roto.
No afã privatista sucatearam tanta coisa que acabaram sucateando aos próprios partidos que ninguém mais quer nem de presente e o único jeito é mesmo tatear as esquerdas para escolher a mais utilitária.
Tem gente que se diverte com a situação, mas lembrando de que Itaú e Bradesco são os maiores conglomerados financeiros do país, a coisa perde a graça. E preocupa ainda mais quando se cogita sobre qual projeto político o antigo Banespa do estado de São Paulo e hoje Santander da Espanha irá financiar?
Do HSBC nem há o que cogitar. É só analisar os reais motivos da capa da The Economist pós-desistência da Chevron e da Exxon do postulado ao poço de Libra.
Quem vai dar mais pela coleção completa da nova linha de perfumes e cosméticos em embalagem reciclada?
Leilão é como jogo. Tem de camuflar para não atiçar o interesse do concorrente ou blefar para alcançar melhor avaliação do produto. Por isso algo me faz desconfiar de que o lance vencedor já estava decidido bem antes do bater do martelo. Só faltava mesmo o pregoeiro anunciar:
“- Vendido ali pro Cavaleiro da Cruz de Ferro do Piauí e pro Cavaleiro da Suástica de Santa Catarina unirem o Brasil num único abraço maçônico de sul a norte, acomodando na mesma ARENA do leste pernambucano ao oeste acreano, os anseios ruralistas aspirados pela esquerda eco/urbana”.
Mera ilação? Pode ser, mas o que nesse mundo é mais poluído do que consciência de eco-esquerda do Brasil?
Marina da Silva com Bornhausen num único palanque não é o abraço do assassino ao assassinado? Darly Alves da Silva enlaçando Chico Mendes.
Pera lá! Chico Mendes foi homem de respeito e nunca se passou por rameira de beira estrada!
Nenhum desrespeito às rameiras das rodovias que interligam esse enorme país, mas entre dividir a boleia com caminhoneiro mal encarado como Bornhausen ou Heráclito Forte, melhor seguir a pé. Ou se esconder atrás do matinho.
“Quem ficar vigia/Quem for demora” – cantava Gilberto Gil em vaiada “Questão de Ordem” que a mal humorada esquerda da época também não entendeu.
Tem também os que acreditam que a eco-esquerda brasileira só entende de mato e está sendo usada pelas raposas lanudas da direita. Depende. Se do interesse da biopirataria internacional a rede de ongs da Marina Silva entende e se estende por toda a Amazônia, mas a derrubada da mata secundária de Santa Catarina não desperta interesse. Pra que se preocupar com o que não resta de Mata Atlântica?
Que mal há na casa da filha de Bornhausen invadindo a Lagoa da Conceição onde despeja o esgoto? E os tantos empreendimentos imobiliários e comerciais de correligionários e associados a reduzir mangues, praias e costeiras? Que mal há na expansão do agro pastoreio por parques, áreas de preservação ou terras indígenas?
Doravante a beata Marina evangelizará todas as demandas de desabrigados e expulsos das terras de seus tataravós. Demandas que se arrastam na justiça que neste estado é uma pose hereditária: de Irineu para Jorge. E de Santa Catarina para o Acre, uma questão ortográfica: é verdade que depois da reforma ortográfica quem nasce no Acre deixou de ser acreano para ser indicado como acriano?
Se fato, o caso tá explicado. É outra Marina! Mas e se Marina já era acriana desde quando posava de Maria Bonita dos seringais?
Lampião também era pernambucano como “acre” pode ser tão ácido ou amargo quanto o neto à memória de Miguel Arraes. Ou Marina ser tão Silva quanto Darly.
Interessante essa Marina cantada e decantada pela mídia britânica depois de lançada como radical ambientalista pelo governo Lula. Lula, igualmente Silva e aliado de Hugo Chávez a quem a evangélica nega a benção que derrama sobre Bornhausen, um dos mais radicais predadores do meio ambiente da história do Brasil e que hoje governa seu estado diretamente de São Paulo como se Colombo mandasse preposto para descobrir as Américas.
Há de se convir que Raimundo Colombo respeite rigorosamente a tradicional linha do grupo político que tão profundamente degradou e degrada o meio ambiente catarinense, como em 2007 se comprovou pela Operação Moeda Verde da Polícia Federal que levou para a cadeia alguns da nova turma da ambientalista Marina, investigados e condenados por crimes ambientais…
Um ano depois Marina Silva afirmou que jamais flexibilizaria e como heroína demitiu-se da pasta do Meio Ambiente. Pois agora, para voltar ao governo flexibiliza o ambiente inteiro com a direita predadora.
O abraço do assassino ao assassinado ou tem mais de Katia Abreu em Marina Silva do que pode imaginar nossa vã filosofia?
Cai bem à Marina a sigla PSB do Partido Socialista de Miguel Arraes, remendada com o D do DEM do Bornhausen da ditadura que torturou e exilou o avô de Eduardo Campos. Uma sutil alusão ao marxismo-privatista do FHC, mas com inconfundível proposta de lopping retroativo de meio século. Em 2014, a volta para 1964!
Dizia o Pero Vaz Caminha que nessa terra em se plantando tudo dá, mas nas novas esquerdas não precisa nem plantar. São como a árvore vasacá “que de todos os frutos dá”, da saga de Macunaíma, “o herói sem nenhum caráter” na opinião de seu próprio autor que não conheceu o marxismo-privatista do velho amigo de Henry Kissinger.
Se Mário de Andrade conhecesse FHC, fundador das novas linhas de esquerda do Brasil, verificaria com quantos Macunaíma se faz uma marina para as canoas internacionais em turismo sustentável à, ou sustentado por altruísticas e lucrativas ongs da biopirataria internacional.
Uirapuru que se se cuide!…
Enfim, repete-se o esconjuro do cruzamento do Lobisomem Pederneiro com a Besta Bruzundanga e já apontam os chifres do Bode Perdelengo num parto que promete vir a furo em 2014.
Quem vai segurar? Não tem Minguante, Crescente, nem Nova que embale essa Lua Cheia!
No Brasil a vida política é assim: inesperada e sempre disposta a se redefinir. Vai se virando, se virando, virando até completar a volta para encontrar o verdadeiro lado do que pareceu ser o lado do lado de lá, pois “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”. E a direita brasileira não morreu, apenas ajeitou-se de lado enquanto prossegue o enterro da esperança em uma democracia consequente.
Saudade da franca e definida velha direita que com toda a censura era mais transparente do que depredadoras eco-esquerda, individualismos socialistas, marxismos-privatistas e, como se vê aí na matéria do Eduardo Guimarães: a nazi-esquerda de um país onde partidarismo político é vestiário de loja em liquidação de roupa.
Na queima de estoque para lançamento de novos modelos de fantasias para o próximo carnaval eleitoral, com a graça que lhe é peculiar, Marina causou espécie com um hipotético chavismo evocado em claras intenções de recriar o fantasma do comunismo. Chavismo: a nova etiqueta para velhos modelos de colonização.
Ungida pelos santos óleos de Venezuela ou do Pré Sal a se espargir de evangélicas e anglicanas representações religiosas, a enigmática Marina sugeriu o reforço financeiro de interesses sionistas e saudistas em sua campanha? Ou apenas quer se lançar como a Rita Cadillac de reformados militares da terceira idade?
A qual chavismo se refere: o de outra nova esquerda que também não consegue encontrar a direção do canto do galo e se convoca como bolivariana num Brasil que não conhecem como a nenhum outro daqueles a que Bolívar descolonizou? Embora não saibam bem do que realmente se trata, esses são os únicos “chavistas”, por assim dizer, existentes no Brasil. Afora estes, há os que admiram a Chaves quanto à Evo, a Cristina, ao Mojica.
Aliás, se Marina prestar melhor atenção, é capaz de encontrar muito mais Mojiquismo do que Chavismo. Nunca vi um discurso de Chávez circular pela internet, mas vira e mexe aparece um novo do Mojica, afora entrevistas e imagens do presidente do Uruguai pelo Youtube.
Mas evidente que o caso de Marina não é o de prestar atenção. Muito pelo contrário! O que quer é desviar a atenção. Será o novo Collor de Melo da próxima temporada: do “Caçador de Marajás” à “Exorcista de Chavistas”.
Se aquele programa mexicano ainda estiver no ar, Marina vai arrumar encrenca com a garotada. Dá até para imaginar centenas de crianças encobrindo aquela sua voz fina no alto do palanque: “La vem o Chávez, Chávez, Chávez/Todos atentos olhando pra TV”
Tudo muito romântico e entusiasmado entre as novas esquerdas do Brasil, mas se improdutivo e cansativo à população de quem realmente se vingam por não saberem conquistá-la, porque, primeiro, não travam uma guerra dos botões entre suas divergências? Como no filme, quem acabar ficando pelado perde, mas pelo menos mostram a cara e vão encher o saco dos quem denigre, seus ídolos – como no caso de Marina versus bolivarianos -, e param de amolar a grande maioria de brasileiros que não tem nada a ver com isso. A imensa maioria da população brasileira sequer faz ideia do que Marina está falando e tampouco do que desejam essas novas esquerdas mais incríveis e disparatadas do que a conquista de Aurocastro pelo Exército de Brancaleone.
Estou incitando a violência? Sim, estou. Mas o faço em homenagem ao povo dessa Florianópolis que com a Novembrada estimularam as manifestações do Movimento das Diretas Já que enfrentando a PM, o DOPS, o DOI-CODI, o Esquadrão da Morte, o Exército, a FAB, a Marinha, exigiu e obteve o fim do mais violento e sangrento período da história política do Brasil, a frente do qual o arrivismo nazi-esquerda comentado pelo Eduardo Guimarães no texto abaixo, certamente pediria colo, perdão, pinico, a mãe.
Dignos não eram, mas apesar da truculenta covardia os da ditadura eram perigosamente reais e não periculosidade virtual como a do tal chavismo da aparentemente empobrecida imaginação da Marina Silva, mas em obediência a intenções bastante enriquecidas e muito distantes dos limites geográficos do país e do continente.
Ao final de seu governo João Batista Figueiredo avisou que um dia os brasileiros sentiriam saudade de seu governo. Jamais imaginei que surgiriam tantas novas esquerdas para me fazer concordar com o velho ditador.
Imagem tomada de: quemtemmedodademocracia.com –