Por Frédi Vasconcelos.
Mais de uma semana após a detenção do sargento Manoel Silva Rodrigues, da Força Aérea Brasileira (FAB), com 39kg de cocaína durante uma viagem presidencial de Jair Bolsonaro (PSL) ao Japão, as principais polêmicas relacionadas ao caso não foram respondidas. A principal lacuna da investigação é se houve falha ou conivência de terceiros no processo de fiscalização da bagagem, uma vez que a mala de Rodrigues pesava quase o dobro do permitido em comitivas presidenciais.
A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrevistou uma fonte que por mais de dez anos participou das viagens de presidentes da República, mas que prefere preservar o anonimato por questões de segurança. Perguntada se houve falha na checagem da mala, ela lembra que quem viaja nos aviões da Presidência são pessoas consideradas “de confiança” e que, por isso, normalmente não há raio-X nem revista de bagagens. “São consideradas pessoas de confiança, principalmente a tripulação da aeronáutica, da FAB, porque eles são os ‘donos do avião’”, explica.
O que a fonte consultada pela reportagem estranha é que havia rigidez quanto ao limite máximo de peso que se podia levar. “Em viagens internacionais, eram no máximo 23 quilos e uma bagagem de mão. Então, no mínimo, alguém liberou que o sargento levasse quase o dobro do permitido”, afirma. Por se tratar de um militar de baixa patente, ela considera provável que alguém “mais graduado” tenha colaborado para dispensá-lo da pesagem da mala. “Lembro, por exemplo, que era uma confusão quando alguém da secretaria de comunicação tinha de levar algum banner ou fundo de palco para ser usado nas viagens. Nem isso liberavam, porque era considerado como bagagem pessoal”, acrescenta.
A fonte também relata que, nas viagens da Presidência, seja em carro, avião, barco ou qualquer outro meio de transporte, sempre existia um segundo veículo – para ser usado pelo presidente em caso de problemas no meio de transporte principal. “Pelo que entendi, a aeronave que levaria o Bolsonaro também pousaria em Sevilha, onde já estaria a reserva. Só não procedeu assim porque já haviam encontrado a cocaína. Então, mudou a escala para Portugal”.
No mesmo dia da detenção de Rodrigues, o vice-presidente Hamilton Mourão informou que o sargento voltaria ao Brasil no avião de Bolsonaro.
Procurada por e-mail na segunda-feira (1º), a assessoria de comunicação do Ministério da Aeronáutica não respondeu perguntas enviadas pela reportagem até o fechamento da reportagem.