Sardenberg e a obsessão em defender Moro e a Lava Jato. Por Francisco Fernandes Ladeira.

Por Francisco Fernandes Ladeira.

Na quarta-feira (6/3), escrevi um artigo, intitulado “Merval Pereira e a obsessão em defender Moro”, apontando que o articulista do Grupo Globo, em seus comentários e colunas de opinião, tem sistematicamente defendido o (indefensável) ex-juiz, ex-ministro da Justiça e quase ex-senador da República, Sergio Moro.

Não passou uma semana e, já no sábado (9/3), outro nome do jornalismo da família Marinho, Carlos Alberto Sardenberg, escreveu o texto

“Uma bandeira a reerguer: a anticorrupção”. Trata-se de mais um melancólico panfleto apologético à finada Operação Lava Jato e a Sergio Moro.

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Segundo Sardenberg, o tiro fatal contra a Lava-Jato foi disparado quando Sergio Moro aceitou ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, pois a elite política não aceitaria tanto poder nas mãos do ex-juiz, com seus ambiciosos projetos de combate à corrupção (eufemismo para instalação de um Estado policialesco).

Em sequência, no melhor estilo “passação de pano”, ele aponta que as conversas grampeadas entre os procuradores e Moro, que revelaram atitudes controversas, politizadas e legalmente duvidosas da força-tarefa da Lava Jato, “são rotineiras na Justiça”.

Ainda nessa linha, o articulista do Grupo Globo enfatiza que as acusações feitas aos procuradores da Lava Jato, sobre desvios de recursos devolvidos por delatores, não foram provadas; tampouco explicam a cassação de Deltan Dallagnol, como deputado federal, e a provável perda do mandato de Sergio Moro no Senado. Ambos os casos seriam “perseguição política”.

Concluindo o artigo, Sardenberg questiona sobre quem poderia levantar novamente a bandeira anticorrupção, vide o fim da Lava Jato. “Certamente, ninguém do lado de Lula ou de Bolsonaro”, respondeu.

Com essa frase, ele deixa transparecer outra função de seu texto: fazer propaganda para a chamada “Terceira Via” (eufemismo para a direita tradicional, que, ironicamente, implodiu após o golpe contra Dilma Rousseff).

Tal como Merval, Sardenberg tem obsessão pela Lava Jato. É uma viúva dessa operação lesa-pátria. O artigo aqui citado é apenas o mais recente de uma série de defesas a Sergio Moro e sua trupe.

Em abril do ano passado, após certeira declaração de Lula sobre sua prisão ser resultado de uma conspiração armada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos; Sardenberg, serviçal dos interesses imperialistas, escreveu um artigo com o caricato título “O crime da Lava-Jato foi combater a corrupção”.

Não por acaso, diante desse histórico grotesco, o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, mais conhecido como Kakay, em texto publicado no DCM, afirmou que Sardenberg “vendeu a alma para o lavajatismo”.

Para encerrar este artigo, cabe tecer algumas palavras sobre a “bandeira anticorrupção”.

De acordo com Jessé Souza, essa pauta está a serviço dos interesses da elite econômica, mas é colocada em prática por sua fiel escudeira, a classe média, seja no aspecto discursivo (jornalistas, intelectuais, professores etc.), jurídico (como foi o caso dos magistrados da Lava Jato) ou em pseudo-manifestações de rua (os indivíduos que dançaram em torno do Pato Amarelo da Fiesp, por exemplo).

Assim, a aparentemente bem intencionada “bandeira anticorrupção” é evocada para retirar do poder e/ou desestabilizar governos que colocam em prática medidas que atendam minimamente aos interesses populares e, ao ser colada exclusivamente na esfera política (leia-se “na esquerda”), serve para representar o Estado como reino de todos os vícios e o mercado como reino de todas as virtudes.

Consequentemente, ao concentrar todas as práticas ilícitas no Estado, a (falsa) “bandeira anticorrupção” permite que os maiores corruptos – como os especuladores, os sanguessugas da dívida pública e os empresários que sonegam milhões em impostos – sigam impunes.

Temos que admitir: infelizmente, este discurso (adotado até por parte da esquerda) tem sido bastante eficiente.

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Francisco Fernandes Ladeira é doutorando em Geografia pela Unicamp.

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