São Chico, querido Irmão, os humanos estão matando-se a si e aos outros irmãos e irmãs – bichos, plantas, rios e florestas.
São Chico, algumas pessoas não conseguem parar de agredir, estão tomadas pelo ódio e intolerância.
Preferem às guerras, ao invés da paz, porque lhes rendem lucratividade e dão prestigio.
Ah, Irmão, elas não ligam para as crianças, mulheres, idosos e todas e todos os demais inocentes. Não há restrição quanto a matar e tudo perece.
Irmão, o clima adoeceu. E não temos mais como curá-lo. Uma crise aguda inunda o planeta e não se identificam remédios ou antídotos.
Antes, contávamos com a compaixão, o bom senso e o sentimento de que a terra é mãe, geradora de vida – que alimenta os demais seres.
Com esse tipo de racionalidade provoca-se a desumanização, tendo nas suas bases, em geral, a eliminação dos outros e das outras.
A ganância, dentro dessa lógica, torna-se uma potente engrenagem dentro da política, nas relações sociais, culturais e econômicas.
São Chico, sua mensagem de levar amor onde há ódio, não vem sendo considerada. E – o que é grave – a verdade perdeu seu lugar, nele, a mentira prevalece como padrão.
Há, nesse tempo, máquinas que produzem as mentiras, com um detalhe, elas nunca são desligadas – funcionam durante os dias, como nas noites.
Criam-se falsos mundos, repletos de ideias manipuladoras. E são elas, as mentiras, ferramentas que ajudam a eleger a maioria dos governantes.
São elas, Irmão, que justificam as guerras. E também, a partir delas, incendeiam-se as florestas e aniquilam-se os sentidos de justiça.
São Chico, nesse seu dia tomei a liberdade de deixar esse desabafo. Mas também devo lhe dizer que temos muitas pessoas amáveis, generosas e solidárias.
Elas, Irmão, nos enchem de esperança. E, devo reconhecer, se não fossem elas, perderíamos a mística e deixaríamos de acreditar num outro mundo possível.
Meu abraço carinhoso.
Porto Alegre, 04 de outubro de 2024.
Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.
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