Como contar sobre São Pedro de Atacama? Acho que, a melhor forma, como sempre, é começando pela História, e ela começa há mais de 12.000 anos antes do presente. Vou tomar a liberdade de traduzir parte de um texto de uma revista de Arqueologia que trouxe do Museu Arqueológico R. P. Gustavo Le Paige, daquela cidade: “(…) Com a chegada de Le Paige[1] à zona é quando realmente se iniciam os estudos permanentes da cultura pré-Histórica do Atacama (…) cuja antiguidade remontaria há mais de 12.000 anos. Postula (ele) que os atacameños foram os primitivos habitantes de toda a região do sul do Peru, sudoeste da Bolívia, noroeste da Argentina e centro do Chile, transmitindo sua cultura às populações que chegaram depois, para retirar-se logo à zona onde permaneceram e onde se encontram ainda hoje. Esse reduto final (que hoje chamamos de São Pedro de Atacama) havia sido muito mais restrito que o suposto por investigadores anteriores; isto havia obrigado aos atacameños a se converter em valentes guerreiros para defender seu território, explicando-se assim a presença de fortalezas. Le Paige defende que durante essa longa pré-História, os atacameños passaram por todos os processos evolutivos de uma cultura, incluindo a domesticação de plantas e animais, com aprendizados como os da cerâmica e seus elementos associados, e que seriam anteriores a Tiauanaco, cultura que até então se tinha como geradora de civilização avançada.[2]
O Congresso Internacional de Arqueologia de São Pedro de Atacama, em 1963 foi o segundo que se realizava no Chile, e ele haver-se efetuado em São Pedro de Atacama é prova de importância que essa zona havia adquirido nos campos dessa disciplina. Os arqueólogos nacionais, junto a alguns estrangeiros, se reuniram para discutir sobre o tema, e a presença destes últimos refletia o já crescente interesse internacional pela Arqueologia de São Pedro de Atacama.”
Como este é um livro que deve falar sobre motociclismo, e não sobre arqueologia, vou tentar transformar em poucas linhas a História daquele lugar privilegiado desde 12.000 anos atrás, quando ali chegaram os primeiros caçadores-coletores, decerto provenientes do estreito de Behring, e em como ali se fixaram, e mais tarde dominaram toda a região, ao mesmo tempo em que domesticavam plantas e animais e construíam uma civilização própria, tornando-se mais uma das civilizações andinas, e não uma mera continuação de alguma outra civilização, como por tanto tempo se quis crer. Sofisticadíssima, a civilização atacameña produziu os mais diferentes tipos de objetos, enfeites e roupas, principalmente, trabalhando inclusive os metais, como o ouro e o cobre, e seus vestígios ficaram muito bem conservados naquele clima seco do deserto, inclusive seus mortos, enterrados embrulhados dentro de suas próprias roupas, como se fossem grandes trouxas amarradas por fortes cordas, e entre todas as outras coisas que produziram, as múmias são uma das grandes curiosidades da cultura material daquela gente que ali viveu no passado.
Eu já vi múmias de diversos outros tipos, mas nunca as havia visto como as que existem no museu de São Pedro de Atacama. Apenas o que era úmido, molhado, evaporou-se dos corpos dos antigos atacameños, como sangue, linfa, etc. O que mais que a gente tem no corpo apenas secou: a peles, as carnes, os músculos, etc., o que resultou em múmias que mais um pouco pareceriam vivas, com seus próprios cabelos, seus próprios dentes ainda inseridos em mandíbulas ressecadas, os rostos com suas próprias peles, apenas um tanto quanto repuxadas e partidas pela secura – mais um pouco e as múmias se levantariam das suas vitrines de vidro e poderiam voltar à vida. São interessantíssimas, chamam a maior atenção, como chamam a maior atenção também as vastas coleções de objetos e tecidos que ali estão expostos, tecidos e objetos atacameños e de outros povos e civilizações que floresceram no passado no mundo andino, e com quem aquela gente mantinha contatos comerciais e decerto outros a nível internacional. Foi naquele Museu de São Pedro de Atacama que pela primeira vez vi os finos tecidos que os Incas produziam para a sua elite, tão finos e delicados como uma boa seda, se bem que, depois de tantos séculos, os que lá estão guardados tenham ficado com a cor da velhice, uma cor escura, quase marrom, coisas do tempo. Fiquei a imaginar que material usavam os Incas para produzir tais tecidos tão finos. Alguém me disse que penteavam cuidadosamente suas vicunhas e alpacas para conseguirem os melhores fios, para usarem na tecelagem da roupa da nobreza. Não sei. Precisaria confirmar tais dados, porque como se conseguiriam aqueles tecidos com a textura da seda a partir de lã de animais?
No devido tempo, a gente atacameña sofreu as influências de Tiauanaco, e muito mais tarde, já no século XV, acabou recebendo, também, o invasor Inca, que chegou lá 70 anos antes que os espanhóis. Há muitíssimo o que aprender lá, e sugiro a você que se informe mais. Na prática, na prática, hoje temos um povo atacameño cioso das suas raízes e da sua História, orgulhoso de um passado único e ímpar, um passado que influenciou regiões dos 4 países que quase se encontram por ali por perto: Chile, Argentina, Peru e Bolívia.
E também na prática, na prática, São Pedro de Atacama é hoje um centro turístico que reúne visitantes de todos os lados, principalmente europeus, que vêm para aprender o que já se perdeu em outros lugares. Também na prática São Pedro é uma cidade de adobe, com uma catedral quinhentista de adobe, charmosos hotéis, restaurantes, lojinhas, cafés cibernéticos e casas noturnas em profusão, tudo de adobe, alguns prédios caiados em cores variadas, outros simplesmente da cor do barro de que são feitos. É uma fascinante cidadezinha onde turistas internacionais tomam cerveja em hotéis coloniais ou comem comida natural em casas especializadas, e espiam curiosamete para um passado que está escondido lá no Museu e no final do túnel do tempo.
[1] La Paige: arqueólogo francês (Nota da autora)
[2] Ah! Meus amigos, procurem aprender mais sobre Tiauanaco, essa maravilha boliviana praticamente desconhecida no Brasil, cidade com 12.000 anos de idade, e que rivaliza com as mais impressionantes cidades mesopotâmicas ou egípcias. Se não tiverem outra fonte, posso aconselhar um livro de minha autoria, chamado “Entre condores e lhamas”, que vai abordar o assunto por ter viajado por lá em 1993. (Nota da autora)
*Escritora, historiadora e Dra. em Geografia pela UFPR.
San Pedro de Atacama – La Historia
Por Urda Alice Klueger *
(Trecho del libro “Viaje al ombligo del Mundo, publicado en 2006)
¿Cómo contar sobre San Pedro de Atacama? Creo que, la mejor forma, como siempre, es comenzando por la Historia, y ella comienza hace más de 12.000 años antes del presente. Voy a tomarme la libertad de traducir parte de un texto de una revista de Arqueología que traje del Museo Arqueológico R. P. Gustavo Le Paige, de aquella ciudad: (…) con la llegada de Le Paige [1] a la zona es cuando realmente se inician los estudios permanentes de la cultura prehistórica del Atacama (…) cuya antigüedad remontaría a más de 12.000 años. Postula (él) que los atacameños fueron los primitivos habitantes de toda la región sur de Perú, sudoeste de Bolivia, noroeste de Argentina y centro de Chile, que transmitió su cultura a las poblaciones que llegaron después, para retirarse luego a la zona donde permanecen y donde se encuentran hasta hoy. Este reducto final (que hoy llamamos de San Pedro de Atacama) había sido mucho más restricto que lo supuesto por investigadores anteriores; esto había obligado a los atacameños a convertirse en valientes guerreros para defender su territorio, así se explica la presencia de fortalezas. Le Paige defiende que durante esa larga prehistoria, los atacameños pasaron por todos los procesos evolutivos de una cultura, lo que incluye la domesticación de plantas y animales, con aprendizaje como los de la cerámica y sus elementos asociados, y que serían anteriores a Tiahuanaco, cultura que hasta entonces se tenía como generadora de una civilización avanzada.[2]
El Congreso Internacional de Arqueología de San Pedro de Atacama en 1963 fue el segundo que se realizaba en Chile, y haberse realizado en San Pedro de Atacama es la prueba de la importancia que esa zona había adquirido en los campos de esa disciplina. Los arqueólogos nacionales, junto con los extranjeros, se reunieron para discutir sobre el tema, y la presencia de estos últimos reflejaba el ya creciente interés internacional por la arqueología de San Pedro de Atacama.
Como este es un libro que debe hablar sobre motociclismo, y no sobre arqueología, voy a intentar transformar en pocas líneas la historia de aquel lugar privilegiado de hace 12.000 años, cuando allí llegaron los primeros cazadores-colectores, seguramente provenientes del estrecho de Behring, y en cómo se quedaron y más tarde dominaron toda la región, al mismo tiempo en que domesticaban plantas y animales y construían una civilización propia, volviéndose una más de las civilizaciones andinas, y no una mera continuación de alguna otra civilización, como por tanto tiempo se quiso creer.
Sofisticadísima, la civilización atacameña produjo los más diferentes tipos de objetos, adornos y ropas, principalmente, trabajando inclusive los metales, como el oro y el cobre, y sus vestigios quedaron muy bien conservados en aquel clima seco del desierto, inclusive sus muertos, enterrados envueltos dentro de sus propias ropas, como si fueran grandes fardos amarradas por fuertes cuerdas, y entre dotas las otras cosas que produjeron, las momias son una de las grandes curiosidades de la cultura material de aquella gente que allí vivió en el pasado.
Ya vi muchas momias de diversos otros tipos, pero nunca las había visto como las que existen en el museo de San Pedro de Atacama. Apenas lo que era húmedo, mojado, se evaporó de los cuerpos de los antiguos atacameños, como sangre, linfa, etc. Todo lo demás que las personas tienen apenas secó: las pieles, las carnes, los músculos, etc., lo q resultó en momias que parecerían vivas, con sus propios cabellos, sus propios dientes todavía insertados en mandíbulas resecadas, los rostros con sus propias pieles, apenas un tanto cuanto estiradas y partidas por la secura – un poco más y las momias se levantarían de sus vidrieras de vidrio y podrían volver a la vida. Son interesantísimas, llaman muchísimo la atención, como llaman la atención también las vastas colecciones de objetos y telas que allí están expuestos, telas y objetos atacameños y de otros pueblos y civilizaciones que florecieron en el pasado andino, y con quien esas personas mantenía contactos comerciales y seguramente otros a nivel internacional. Fue en aquel Museo de San Pedro de Atacama que por primera vez vi las finas telas que los Incas producían para su elite, tan finos y delicados como una buena seda, si bien que, después de tantos siglos, los que están allí guardados se hayan quedado con el color de la vejez, un color oscuro, casi marrón, cosas del tiempo. Me puse a imaginar qué materiales usaban los Incas para producir tales telas tan finas. Alguien me dijo que peinaban cuidadosamente sus vicuñas y alpacas para conseguir los mejores hilos, para usar en el tejedor de ropa de la nobleza. No sé. Precisaría confirmar tales datos, porque ¿cómo se conseguirían aquellas telas con la textura de la seda a partir de lana de animales?
En el debido tiempo, la gente atacameña sufrió influencias de Tihuanaco, y mucho más tarde, ya en el siglo XV, acabó recibiendo, también, el invasor Inca, que llegó allá 70 años antes que los españoles. Hay muchísimo para aprender allí, y sugiero que se informe más. En la práctica, en la práctica, hoy tenemos un pueblo atacameño celoso de sus raíces y de su Historia, orgulloso de un pasado único e impar, un pasado que influenció regiones de los 4 países que casi se encuentran por allí cerca: Chile, Argentina, Perú y Bolivia.
Y también en la práctica, en la práctica, San Pedro de Atacama es hoy un centro turístico que reúne visitantes de todos lados, principalmente europeos, que vienen para aprender lo que ya se perdió en otros lugares. También en la práctica, San Pedro es una ciudad de adobe, con una catedral quinientista de adobe, encantadores hoteles, restaurantes, tienditas, cafés cibernéticos y casas nocturnas en profusión, todo de adobe, algunos edificios encalcados en colores variados, otros simplemente del color del barro que son hechos. Es una fascinante ciudadelita donde los turistas internacionales toman cerveza en hoteles coloniales o comen comida natural en casas especializadas, y espían curiosamente para un pasado que está escondido allá en el Museo y en el final del túnel del tiempo.
*Escritora, historiadora y doctora en Geografía por la UFPR.
[1] La Paige: arqueólogo francés (Nota de la autora)
[2] Ah! Mis amigos, intenten aprender más sobre Tiahuanaco, esa maravilla boliviana prácticamente desconocida en Brasil, ciudad con 12.000 años de edad, y que rivaliza con las más impresionantes ciudades mesopotámicas o egipcias. Si no tienen otra fuente, les puedo aconsejar un libro de mi autoría, llamado “Entre cóndores y llamas”, que va a abordar el asunto por haber viajado por allí en 1993. (Nota de la autora)
Versión en español: Jole de Melo para Desacato.