- No Busão
- Do Mar
- Hermeticamente Cipozístico
- Ecos da Mente
- Samba Hum
- Cabeça de Baião
- Boi de Papaia
- Inquietação Mental
Apesar disso, há muitas bandas instrumentais que fazem música apenas para si próprias, usando o palco para desenvolver uma linguagem sonora que só é compreendida por quem toca, como se fosse um ensaio fechado. Quando isso acontece, os ouvintes se esforçam para compreender a sonoridade executada, mas não conseguem porque os músicos se divertem em um rebuscado mundo que só a eles pertence, até o momento em que percebem que os “pobres mortais” da plateia estão perdendo o interesse pelo show. Aí fazem uma sessão de de solos virtuoses (uma demonstração técnica muito mais visual que sonora), arrancam aplausos, viram-se uns para os outros e continuam o que estavam fazendo, como se não houvesse mais ninguém no teatro.
A Samburá, felizmente, vai no sentido contrário e preza por um carinhoso tratamento a seus ouvintes. Sua atual formação trazAlexandre Stoll (guitarra), Duda Cordeiro (contrabaixo) e Mário Júnior (bateria), com destaque para Elieser de Jesus nos teclados – cujo desempenho permite constatar que se trata de um bom pianista – e Evandro Hasse em um diversificado naipe de metais muito bem aproveitados. Esses habilidosos músicos se mostraram entrosados e tecnicamente preparados, fazendo um som criativo no qual é possível, inclusive, identificar alguns recursos acústicos identitários da banda – como as linhas melódicas executadas a 2 ou 3 instrumentos, geralmente em uníssono.
Das composições tocadas, gostei muito de Hermeticamente Cipozístico, que homenageia o mestre Hermeto Pascoal, ao mesmo tempo em que alude à Dr. Cipó, banda instrumental de Florianópolis que é referência no gênero aqui no estado.
Boi de Papaia é a música mais inteligente do show, e a que fez o grupo ganhar esta resenha. Eles expõem a qualidade de composição e execução do Samburá em uma inteligente instrumentalização de fraseados e batidas do boi-de-mamão, ao mesmo tempo em que não caem na obviedade de simplesmente reproduzir um ritmo popular.
Antes de terminarmos, é importante ressaltar que o avanço da indústria de entretenimento, e o fato da própria educação musical ficar em segundo plano em nosso país transformaram o publico muito em uma massa muito mais vidente do que auditiva. Daquele cara dos anos 70, que ia aos festivais para “curtir o som”, passamos àquele faminto pelosmegashows de efeitos visuais regados a bebidas alcóolicas. O críticoRégisTadeu costuma encerrar suas resenhas sobre os festivais da atualidade com a frase: “não é pra quem gosta de música; é pra quem gosta de festival”. Por conta disso, o artista hoje faz trabalho dobrado – além de compor e executar bem, tem que manter seu som interessante. E é por essa razão, também, que quando encontramos um grupo como este, formado por sujeitos de grande inteligência musical, e com a simplicidade de valorizar o público (que na ocasião era pequeno, mas muito interessado), somos movidos a compartilhar sua existência com nossos leitores.