A saída do diretor da CIA [1] tem importantes implicações para a Casa Branca. Em termos imediatos, permanece aberta a “chaga de Benghazi”. A CIA, como já se sabe, aconselhou a Casa Branca a defender, desde o início, que o assassinato do embaixador dos EUA na Líbia não fora ataque terrorista – tema que levantou poeira na fase final da campanha eleitoral de Obama.
Essa semana haverá audiência, com depoimentos, na Comissão de Segurança Nacional da Câmara, em Washington. A melhor esperança do presidente Barack Obama era que Petraeus defendesse a posição do governo e, com sorte, conseguisse controlar o incêndio. Na direção oposta, os Republicanos [2] apostam na possibilidade de Petraeus cuspir tudo o que sabe.
A saída de Petraeus também debilita o governo Obama no que tenha a ver com o Afeganistão, onde os laços do general com o campo Republicano no Congresso ajudaram Obama a defender “a avançada” [orig. surge], que não gerou resultados duráveis, mas os Republicanos optaram por desviar os olhos. Mitt Romney absolutamente não tocou na questão afegã, completamente apagada da campanha.
Petraeus sempre foi proponente e ardente defensor dos ataques com drones [3] nas áreas tribais do Paquistão. Nunca foi particularmente admirado pelos altos escalões militares do Paquistão. Assim, o destino da “guerra de drones” pode estar por um fio (e sempre foi ponto de discórdia nas relações EUA-Paquistão).
De fato, ouviu-se de longe o suspiro de alívio saído do quartel-general em Rawalpindi, ante a notícia de que Petraeus já não trabalha para o governo Obama. E tudo isso acontece em momento crucial, quando se espera que Obama “revisite” o problema afegão e as relações dos EUA com o Paquistão.
O Paquistão puxará todos os freios de mão, à espera de que Obama manifeste algum espírito de acomodação e reconheça a centralidade do Paquistão no encaminhamento da questão afegã. Já se ouvem vozes influentes [4] que pregam uma redução da pressão dos norte-americanos sobre o Paquistão.
Notas de rodapé
[1] 9/11/2012, The Guardian, Ewen MacAskill (Washington) em: CIA director David Petraeus resigns over “unacceptable” extramarital affair.
[2] 9/11/2012, CNN, Erin Burnett em: “Rep. Peter King on Benghazi hearing: Petraeus “absolutely necessary witness”.
[3] 4/11/2012, Middle Eats Online, Ray McGovern em: “Silence of the Drones”.
[4] 7/11/2012, Forign Policy (Af-Pak channel) Shuja Nawaz em: “For Obama, a second chance in South Asia”.
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MK Bhadrakumar* foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
Tradução: Vila Vudu.
Fonte: Rede Castor.