Saco vazio não para em pé

Por Cristina Amorim.

Greenpeace.- Há duas semanas, corria a boca pequena em Brasília que a presidente Dilma, preocupada com a péssima imagem que teria na Rio+20 (novo Código Florestal, desorganização, falta de ambição para um desenvolvimento sustentável real), preparava às pressas um “pacote de bondades” para apresentar no evento.

A maior “bondade”, por assim dizer, seria a criação de um mosaico de unidades de conservação na região de Abrolhos. Ele impediria a exploração de gás e óleo na região, mas não as atividades tradicionais, como pesca. E protegeria de vez o maior recife de corais do Atlântico Sul, berço de espécies únicas, de uma biodiversidade ímpar e local de reprodução de baleias. O Greenpeace pede uma moratória da indústria petrolífera na mesma região desde o ano passado.

O plano pegou tão bem que os jornais logo deram a notícia, e foram marcadas as audiências públicas para viabilizar o projeto. Ontem à noite deveria acontecer a primeira, na Bahia.

Qual não foi a surpresa dos presentes quando a audiência pública foi aberta pelo representante do ICMBio dizendo que aquilo ali não tinha validade legal nenhuma, e que seria considerada apenas como uma conversa técnica informal, pois a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, decidira alongar o processo. O presidente do ICMBio, Romulo Mello, emendou confessando descontentamento de certos Estados.

Por “certos Estados” leia Espírito Santo. Por descontentamento, leia “interesse por royalties”.

Com isso, o “pacote de bondades” virou um saco vazio. O vexame que a presidente Dilma corre o risco de passar na Rio+20 é imenso, talvez o maior na história desse país. Vejamos: petróleo em Abrolhos (e em tudo quanto é canto desse litoral); Código Florestal ruralista; ferro gusa na Amazônia = desmatamento, trabalho escravo, violência; redução de unidades de conservação; a desnecessária Belo Monte e outras hidrelétricas na Amazônia; desrespeito a índios e comunidades tradicionais.

Por outro lado, o que temos? Ah, sim, o desmatamento na Amazônia caiu nos últimos anos, e temos um monte de energia renovável (aka hidrelétricas).

Algum assessor precisa avisar a presidente que esse discurso “verde” do Brasil é usado há anos e caducou. Para acreditar nele é preciso assumir que olha-se pelo retrovisor, enquanto as últimas medidas de seu governo indicam um futuro pra lá de cinza. Não é mais como o mundo se move, nem é o que se espera da anfitriã de uma reunião que deveria firmar um caminho sustentável para a próxima década.

Enquanto isso, e apesar de a Petrobrás já ter dito que não tem interesse em explorar a área, a região de Abrolhos permanece desprotegida. Talvez a notícia de que uma mancha de óleo foi avistada na costa do Espírito Santo mude a opinião do governador. É, sejamos otimistas.

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