Para que servem as plantas? Como e quando utilizá-las? Onde encontrá-las na mata? Como preparar o chá? Através de fotografias e vídeos, a fotojornalista Sirli Freitas mergulha no conhecimento popular do povo Kaingang, morador da Aldeia Kondá, em Chapecó, Santa Catarina, e registra a relação sobre medicina indígena com a mata.
A pesquisa foi desenvolvida através do XVI Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, desenvolvido pela Funarte. Uma importante iniciativa que estimula a produção fotográfica brasileira, em especial relacionada ao patrimônio imaterial, meio ambiente e turismo sustentável.
“Estou muito feliz e agradecida por ter sido contemplada pelo Prêmio e, principalmente, por conseguir desenvolver essa pesquisa, e salvaguardar esse conhecimento tão grande do povo Kaingang, que está se perdendo com o tempo”, conta Sirli.
A partir de uma produção multimídia, composta por fotografias e vídeo, imagem e oralidade, o projeto constrói a iconografia, dando um corpo documental para esse patrimônio, coletando depoimentos e registrando a paisagem física e social do lugar, as plantas, as ervas e a floresta. Os registros abordam o conhecimento dos indígenas sobre as matas e seu uso medicinal para a cura de muitas doenças, um saber ancestral que está se perdendo com os mais velhos.
“A ideia do projeto é, além de preservar o patrimônio imaterial, passar adiante todo o conhecimento ancestral”, explica a fotojornalista, que passou 6 meses convivendo e vivenciando a rotina da comunidade indìgena, para fazer os registros.
Território Indígena
O projeto traz, além da difusão do conhecimento dos povos originários, um olhar para história da comunidade, assim como a reflexão do que estamos vivenciando no agora.
“Chapecó foi um importante território indígena que, por volta dos anos 20, se transformou em palco de grandes conflitos agrários, quando empresas colonizadoras chegaram para desbravar a região. Se o genocídio físico não bastasse, uma cruzada para apagar a memória, as crenças e os saberes dos povos originários, fez com que esse conhecimento originário fosse deslegitimado, e impedido de ser registrado e sistematizado. Essa mesma sociedade que operou essa exclusão, vem adoecendo cada vez mais, construindo um espaço urbano em desarmonia com a natureza”, enfatiza a pesquisadora.
Segundo um estudo recente, em Chapecó existe uma farmácia para cada 700 pessoas, um número muito superior ao parâmetro da OMS. “A receita entre falta de qualidade de vida, alimentos ultraprocessados e uma política de saúde medicamentosa, criou uma sociedade doente e desconectada com o meio ambiente”, continua.
Os registros abordam o contraponto dessa realidade urbana, falam sobre cura, sobre a relação respeitosa e em harmonia, entre os indígenas e a mata. Para Sirli esse torna-se um exercício cada vez mais indispensável, quando pretendemos pensar alternativas de vida e de saúde para toda a nossa comunidade.
“Como projeto trazemos conhecimento sobre as potencialidades e ancestralidade das plantas, dentro da cultura Kaingang, assim como a paisagem onde estão inseridas. Ir para a mata, identificar a planta, colher, preparar o chá… estamos falando sobre esse ritual, cuidado e costume, que para os brancos se perdeu em meio a tanto cimento”, finaliza Sirli.
O resultado do projeto “Saberes da Mata” pode ser acessado através do aplicativo Instagram, no perfil Rituais de Resistência
Créditos
Texto: Camila Almeida/ Girassol Cultural
Fotos: Sirli Freitas.
Agendamento de Entrevista:
Camila Almeida – Girassol Cultural
Fone: 49.99192-3977
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