O sábado (20) foi marcado por protestos em diversas cidades da França pelos direitos dos migrantes, contra a violência policial e para denunciar a falta de recursos para os hospitais. Com a proibição em vigor de grandes aglomerações, a polícia francesa fez uma triagem entre os pedidos de manifestações e somente autorizou aquelas em que os organizadores se comprometeram a cumprir regras sanitárias.
Em Paris, milhares de pessoas, incluindo muitos malianos, participaram de uma caminhada pela regularização da situação de migrantes sem documentos e por moradia para todos. O cortejo partiu no início da tarde da Praça da Nação em direção a Praça Stalingrado, no leste da capital francesa.
Os manifestantes exibiam placas amarelas com o desenho de um homem com o punho erguido. Eles pediam, entre outras demandas, o fechamento dos centros de detenção administrativa e acesso à moradia digna para estrangeiros sem documentos.
Entre eles estava Babacar Sall, que chegou do Senegal há 3 anos, e protestava em Paris primeira vez. “Nós não temos documentos. Isso é um problema até para comer”, disse o homem, de 42 anos, morador de Montreuil, que deixou a esposa e a filha em seu país de origem. “Às vezes, envio € 20, às vezes € 30, o que eu posso”, acrescentou.
Originário do Mali, Tidiani Diagouraga chegou à França em 2018. “É difícil no Mali por causa da guerra. Vim trabalhar aqui, mas não posso trabalhar porque não tenho documentos”, disse o homem de 36 anos.
Hassan, um marroquino que vive na França há oito anos, dizia que “migrantes sem documentos participam da economia da França”. Ele é cozinheiro de uma pizzaria em Paris e paga impostos. “Estou aqui para ser regularizado. Com papéis, poderei comprar um carro, morar com mais facilidade”, completou.
Homenagem a Lamine Dieng
Outro protesto autorizado pelas autoridades reuniu cerca de mil pessoas na Praça da República, em homenagem a Lamine Dieng, um franco-senegalês morto em 2007, aos 25 anos, após sua prisão em um contexto de denúncia de violência policial.
Treze anos depois, de acordo com um acordo amigável revelado na segunda-feira (15) pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos, o Estado francês pagará € 145.000 aos parentes de Lamine Dieng, a fim de resolver qualquer processo neste caso. “É uma admissão de culpa, ninguém, muito menos um Estado aceita pagar a menos que seja culpado”, declarou durante o protesto Ramata Dieng, irmã do jovem morto.
“A violência policial continua, não há nada que os impeça [a polícia] porque não há sanção”, disse ela, pedindo o fim de certas técnicas de intervenção policial, incluindo a chave de estrangulamento. “Para todas as vítimas, não desistam dos seus direitos”, reiterou, antes de passar a palavra a uma dúzia de famílias que conseguiram contar a história de vida de seus entes queridos, que eles dizem terem sido vítimas de violência policial.
“Se a polícia deve ser condenada, o sistema de justiça também é responsável”, disse Omar Slaouti, porta-voz da família de Ali Ziri, um homem de 69 anos que morreu após sua prisão em Argenteuil, no departamento de Val-d’Oise, em 2009.
As intervenções de famílias e parentes foram pontuadas pelo slogan “Sem justiça, não há paz”, amplamente utilizado pelos manifestantes.
“Esses treze anos de luta foram difíceis, cansativos psicologicamente e financeiramente. Essas famílias nos mostraram o caminho”, discursou Assa Traoré, irmã de Adama Traoré, jovem negro que morreu em julho de 2016, em uma delegacia nos arredores de Paris, cerca de duas horas depois de ser preso.
Já outro protesto, desta vez em memória do afroamericano George Floyd, que morreu após ser detido por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, foi proibido. A manifestação estava programada para acontecer perto da Embaixada dos EUA, na capital francesa, mas as autoridades julgaram que ela provavelmente causaria desordem pública.