Rússia, Irã e China reagem a ataques de EUA e Reino Unido contra Houthis no Iêmen

Os Estados Unidos e o Reino Unido realizaram bombardeios aéreos durante a noite desta sexta-feira (12) contra os rebeldes houthis no Iêmen, que há semanas aumentam os ataques ao tráfego marítimo internacional no Mar Vermelho. Os rebeldes alegam “solidariedade” com os palestinos em Gaza.

Imagem publicada pelo Ministério da Defesa britânico mostra início de ataques contra posições huthis. (10/01/2024) AP

Por RFI.

A operação anglo-americana provocou reações de Moscou, Pequim e Teerã, aliada dos houthis.

O porta-voz da diplomacia russa denunciou uma “escalada” que tem “objetivos destrutivos”. “Os ataques dos Estados Unidos no Iêmen são um novo exemplo da distorção, por parte dos anglo-saxões, das resoluções do Conselho de Segurança da ONU e de um total desrespeito pelo direito internacional, em uma escalada na região para alcançar os seus objetivos destrutivos”, escreveu Maria Zakharova no Telegram.

Já a China disse estar “preocupada” com o aumento das tensões no Mar Vermelho. “Pedimos às partes envolvidas que mantenham a calma e moderação, a fim de evitar uma expansão do conflito”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning.

China pede segurança

Desde o início da guerra entre Israel e o grupo Hamas, em 7 de outubro, os houthis aumentaram os ataques com mísseis e drones contra o tráfego marítimo internacional no Mar Vermelho, “uma passagem importante para a logística internacional e o comércio de energia”, sublinhou Mao Ning.

“Esperamos que todas as partes relevantes possam desempenhar um papel construtivo e responsável na proteção da segurança regional e da estabilidade do Mar Vermelho, em sintonia com os interesses da comunidade internacional”, continuou a porta-voz.

Pequim pediu a “todas as partes” para “manterem a segurança das vias navegáveis internacionais e evitarem assediar navios civis, o que é prejudicial para a economia e o comércio globais”, ressaltou a diplomacia chinesa.

Irã, por sua vez, condenou os ataques aéreos americanos e britânicos que são uma “ação arbitrária” e uma “violação flagrante da soberania” do Iêmen.

Como foram os ataques ocidentais

Os ataques anglo-americanos tiveram como alvo locais militares em várias cidades controladas pelos houthis, indicou o canal de televisão deste grupo rebelde – membro do “eixo de resistência”, um agrupamento de movimentos armados contrários a Israel e estabelecido pelo Irã, que também inclui o Hamas palestino e o Hezbollah libanês.

A capital iemenita, Sanaa, e as cidades de Hodeida – onde correspondentes da AFP disseram ter ouvido várias explosões –, Taiz e Saada foram os alvos.

O presidente norte-americano Joe Biden disse que a operação foi realizada “com sucesso” em “resposta direta aos ataques sem precedentes dos houthis a navios internacionais”. Ele evocou uma ação “defensiva” para proteger a comunidade internacional e alertou que “não hesitaria” em “ordenar novas medidas”, se necessário.

“Estes ataques direcionados são uma mensagem clara de que os Estados Unidos e os nossos parceiros não tolerarão ataques às nossas tropas e não permitirão que atores hostis ponham em risco a liberdade de navegação nas rotas comerciais mais importantes do mundo”, acrescentou o presidente americano.

“Apesar dos repetidos avisos da comunidade internacional, os houthis continuaram a realizar ataques no Mar Vermelho (…) Por isso, tomamos medidas limitadas, necessárias e proporcionais em autodefesa”, declarou o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak.

A diplomacia francesa alegou que os rebeldes “são responsáveis pela escalada regional”. Em um comunicado, Paris “exigiu que os houthis acabem imediatamente” com os ataques e lembrou que “os Estados têm direito de reagir”.

Os bombardeios anglo-americanos foram realizados com aviões de combate e mísseis Tomahawk, informou a imprensa dos Estados Unidos. Washington indicou que a operação contou com o apoio da Austrália, Canadá, Holanda e Bahrein.

Londres disse ter mobilizado quatro aviões de combate Typhoon FGR4 para atacar, com bombas guiadas a laser, os locais de Bani e Abbs, de onde os houthis “lançam” drones.

Impacto no transporte marítimo internacional

Os ataques houthis estão forçando muitos armadores a contornar a zona, o que aumenta os custos e os tempos de transporte entre a Europa e a Ásia. Os Estados Unidos já tinham mobilizado navios de guerra e criado uma coligação internacional em dezembro para proteger o tráfego marítimo nesta área, por onde passa 12% do comércio mundial.

Na terça-feira, 18 drones e três mísseis foram abatidos por três destróieres americanos, um navio britânico e por caças enviados pelo porta-aviões americano Dwight D. Eisenhower. O Conselho de Segurança da ONU exigiu um fim “imediato” dos ataques do grupo armado iemenita, mas mesmo assim, na quinta-feira, os houthis lançaram outro míssil contra um navio no Mar Vermelho.

Os rebeldes controlam grande parte do Iêmen e afirmam ter como alvo navios comerciais que suspeitam estarem ligados a Israel, alegando agir em solidariedade com os palestinianos na Faixa de Gaza, palco de uma guerra devastadora entre Israel e o Hamas.

“O nosso país enfrenta um ataque massivo de navios, submarinos e aviões americanos e britânicos”, respondeu o vice-ministro das Relações Exteriores houthi, Hussein Al-Ezzi, citado pelos meios de comunicação do movimento. “Os Estados Unidos e o Reino Unido devem se preparar para pagar um preço elevado e suportar as pesadas consequências desta agressão”, ameaçou.

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