Por Dinovaldo Gilioli, para Desacato.info
Os que apostaram na queda da presidenta da república, Dilma Rousseff, imagino que não são loucos de não terem apostado também na queda do desemprego, na queda da inflação, na queda da corrupção, na melhoria das condições de vida enfim. É óbvio que, para alguns, sedentos de poder, já basta a derrocada de Rousseff. Já basta o êxtase da grande vitória. Já basta o desfile do troféu da olimpíada partidária.
Os que prometeram, logo após perderem as eleições para presidente, sangrar o governo, podem agora expor corpo vermelho saído do palácio para o deleite das ruas.Mas, cuidado, os que queriamconvictamentea saída da presidenta Dilma uma hora cansarão do espetáculo midiático.Uma hora perceberão que não basta tirar uma mandatária do planalto esimplesmente colocar um presidente interino. Não é uma questão matemática.
Insuflados pelo pato da FIESP, pelo olho mágicoda globo, pela cegueira do judiciário, pelos exemplares políticos da moralidade cínica-cristã; milhares empunharam a tocha,não a olímpica, mas a do fogoardente à fim de extirpar a responsável por todos os males do reino.Como exemplo dessa perversa lógica, cito o caso de um morador de Poços de Caldas, em Minas, que resolveu expressar seu ódio a Dilma tatuando na perna a imagem da presidenta como um diabo.
No entanto, contrariando a literatura, se vislumbra um conto de fadas com fim trágico. Os que afirmaram ter marchado movidos por suas consciências,usando o argumento de defesa do Brasil e da dignidade, não terão, possivelmente, tempo de descalçar e de descansar seus pés. Talvez, logo após as ações TEMERárias dogoverno em exercício,devamvoltar às ruas se quiserem fazer valer os seus sinceros propósitos.
É bem provável que para essa jornada não contarão mais com apataiada da FIESP, com a globo-golpe, com os visionários da justiça cega, com os políticos sanguinários e nem com os arautos da moralidade e do civismo. Talvez tenham que se enfileirarcom os que, em determinado momento da história, por entendimento diferente da conjunturapolíticado Brasil, marcharam em rumo oposto.
É bem provável que a cor vermelha, verde-amarela, ou qualquer outra cor não sejamais motivo de ódio, de discórdia, de truculência. É bem provável que – sentindo a mesma dor, o mesmo desejo, a mesma vontade de mudança, se juntem agora como única possibilidade de evitar retrocessos para os trabalhadores, para o país e o povo em geral.
Dinovaldo Gilioli, autor dos livros Sindicato e Cultura (Sinergia/Editora Insular) e Cem poemas (Editora da UFSC), entre outros.
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