Por Marcos Nunes.
Não exatamente sobre Roberto Civita (ou só sobre), dirigente (morto há pouco) de um império midiático que agrega publicações, mídia eletrônica, canais de rádio e televisão, mas sobre outra de suas “criações”.
Houve, no Rio, semana passada, um ato-manifesto patrocinado pelo Instituto Millenium.
Em um determinado posto de gasolina, foram atendidos uma centena de consumidores, em fila, para que cada um recebesse 20 litros de gasolina, isentos de impostos.
A ação teve por objetivo comprovar o tal Custo Brasil, e a excessiva carga tributária sobre os contribuintes brasileiros.
Não sei qual é o preço normal da gasolina, pois não dirijo automóveis. Parece ser algo em torno de R$ 2,70. No dia, foi vendida por algo em torno de R$ 1,20.
Foi um desserviço à sociedade, certamente porque Civita e seus comparsas entendam, como Thatcher, que a sociedade não existe.
Afinal, impostos existem em toda sociedade civilizada e, destacadamente, naquelas de corte ocidental. Se a mesma demonstração fosse feita em qualquer país do mundo, descontados não apenas os impostos incidentes no combustível, mas a carga tributária geral, o resultado seria o mesmo.
O cidadão entende que, fazendo parte de uma comunidade, de uma nação, os impostos não são tungas em “seu dinheiro”, mas o equivalente percentual ao trabalho que ele oferece à saúde social, a fim de que sejam providos os serviços que são fruídos coletivamente, como aqueles relativos à saúde, educação, saneamento, segurança, energia…
O Instituto apela para o individualismo primário, daquele que não sabe, não percebe, ou prefere dizer que não entende a função do Estado na costura das relações sociais. O que, por si só, provoca os conflitos sociais que a sociedade, enquanto nação e Estado, lutam por mitigar, tendo à testa suas instituições políticas, sociais, econômicas.
Negar essa consciência civil básica ao cidadão é a lição dada por Civita e seus comparsas, na altivez de seus princípios individualistas que não enxergam, de maneira alguma, as consequências de seus atos.
Se chamados às falas, e lembrados que mesmo no país mais “liberal” do mundo, os cidadãos pagam impostos em percentual próximo, equivalente ao brasileiro, eles desconversam. Sonham com um paraíso thatcheriano que não foi construído sequer na Inglaterra e, até onde foi, se apresentou como fonte de problemas sociais que o país não possuía, ao menos em grau tão elevado, devido às ações “liberalizantes” do governo da finada Margareth.
A morte de Civita implica na existência de menos um a propagar ilusões malignas. Mas equivale à morte de um criminoso comum, desses que assaltam, estupram, matam. Afinal, ambos são produtos sociais e, como tais, sempre nascem outros que se colocam nos lugares desocupados pelos mortos.
E os vivos que se fodam.
Fonte: Blog da Profesora Rachel Nunes