O projeto Rios de Encontro realizará o pré-lançamento do Calendário 2014 no dia 30 de janeiro, às 19hs, em Santo Antônio de Lisboa, rua Walter Gomes, 84, Florianópolis. Será um fim de tarde especial de gratidão ao carinho, colaboração e parceria pelos cinco anos de trabalho junto a comunidade Cabelo Seco, em Marabá, Amazônia. Durante o lançamento do Calendário 2014 com imagens e mensagens da comunidade Cabelo Seco serão compartilhados vídeos, histórias e sabores!
Além do pré-lançamento em Florianópolis, a Universidade Comunitária dos Rios, que também faz parte do projeto Rios de Encontro, realizará um mês de distribuição nacional e de lançamentos do Calendário 2014 com parceiros comprometidos com cultura transformadora em São Paulo (31 de janeiro), na sede de More Music em Morecambe, Inglaterra (04 de fevereiro), nos Centros de Estudos da América Latina nas Universidade de Londres (05 de fevereiro), e na Universidade de Cambridge (06 de fevereiro); antes da Festa do Lançamento do Projeto 2014, em Cabelo Seco, no dia 22 de fevereiro, no Barracão da Cultura.
No coração do bairro excluído
O Projeto Rios de Encontro localiza-se na comunidade ribeirinha afro-descendente Cabelo Seco, na ponta entre os Rios Tocantins e Itacaiúnas, na cidade amazônica de Marabá que sofre o terceiro maior índice de violência no país. Há cinco anos, o projeto Rio de Encontro convive no coração deste bairro excluído e violentado por um século de exploração, transformando sua riqueza cultural adormecida através de formação artística, gestão cultural e produção transcultural, em uma proposta que integra quatro gerações da comunidade, gestores do poder público e profissionais de educação, saúde, cultura e segurança.
Formado por um núcleo gestor de jovens artistas de micro-projetos artístico-culturais da comunidade Cabelo Seco, apoiados por um núcleo gestor de suas mães produtoras na sua Casinha de Cultura, o Projeto hoje atua em sete frentes: o grupo musical Latinhas de Quintal; a companhia de dança AfroMundi Pés no Chão, o projeto de jornalismo social Nem Um Pingo; o coletivo audiovisual Rabeta Videos, um Cine Coruja, e Folhas da Vida: bibliotecas familiares.
Festival de beleza e cultura
O início do Projeto aconteceu nos Quintais de Cultura, na Orla na beira do Rio Tocantins, onde aconteciam encontros artísticos em suas festas culturais mensais. O primeiro ciclo de cinco anos Rios de Encontro culminou em um Festival de Beleza Amazônica em dezembro de 2012 e em um monumento musical comunitário-internacional, o CD, Amazônia Nossa Terra, lançado em abril de 2013. Em setembro o Projeto fundou sua Universidade Comunitária dos Rios que firmou um acordo com a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e o Secretário de Educação de Marabá. Em dezembro de 2013, foi realizado o segundo Festival Beleza Amazônica que anunciou o Ano Cultural de Paulo Freire, 2014.
O Projeto foi impulsionado por dois prêmios nacionais de Interações Estéticas com Pontos de Cultura da Funarte Ministério da Cultura (em 2008 e 2010) para desenvolver um processo que cuidava e celebrava a raiz cultural afrodescendente do bairro. Ganhou o prêmio regional e nacional do Itaú-UNICEF em 2011 ‘Educação Integral: Experiências que Transformam’, em função de duas dimensões inovadoras: sustentar um processo de resgate cultural, a partir da formação artística de jovens em risco pelo mestre Zequinha Sousa da comunidade, na rua, nos ‘quintais de cultura’ e na pracinha do Cabelo Seco; e os transformar em lideranças comunitárias, democráticas e criativas, capazes de resignificar um bairro violentado em uma fonte de cultura viva comunitária, apoiados por suas mães-gestoras. Em 2012, a Coordenadora da Cia AfroMundi foi contemplada para o prêmio nacional Jovem Agente de Cultura (MinC) e em 2013, o Diretor Musical foi contemplado pelo prêmio nacional Mestre de Cultura Popular (MinC).
Ousadia e Coragem
Para Dan Baron, coordenador artístico-pedagógico do projeto e morador do Cabelo Seco, “Rios de Encontro assusta as pessoas pelo tamanho de seu programa e suas ideias, por sua qualidade artística e pedagógica, e sua duração. Mas o projeto nos assusta também!”. “Por exemplo”, explica Dan, “muitos aqui em Marabá sabem hoje que a Vale foi votada a pior empresa no mundo por sua violação dos direitos de seus trabalhadores e sua danificação ao meio ambiente, e questionam a industrialização da Amazônia. Mas não pedem um debate público. Claro, tem medo de se manifestar, porque a Vale não somente montou um sistema de espionagem em Marabá, mas está bancando todas as instituições da região, e qualquer questionamento arrisca ser exilado do mercado de trabalho. Numa região onde a fome e a memória da fome são tão presentes, esta ameaça é forte. Mas mais profundamente, acreditam que o futuro já foi decidido. Que são pequenos e desunidos demais diante dos gigantes. Então se calam ou argumentam que a Vale tem que assumir sua responsabilidade social e ampliar o tamanho das fatias do lucro da mineração da região”. Dan sorri. “E bem na beira da celebração do Centenário, no maior palco da historia de Marabá, um pequeno grupo de jovens artistas do Cabelo Seco decide independentemente em devolver o convite do Secretário de Cultura para tocar e transformar as ruas e pracinha de seu bairro em um palco independente de qualquer político e mineradora devastando a Amazônia. Questionaram a própria industrialização da Amazônia! Que coragem!”.
“Levamos sustos pela ousadia de ações que brotaram desta coragem e desse contexto. Depois do cruel assassinato de Éverton Sousa dias antes de nosso festival de 2012, integramos uma primeira ‘bicicletada pela vida’ no festival e experimentamos com vídeos na rua com sorteios de livros doados pela UNESCO, e com cursos de trocas de saberes populares e formais na universidade federal, nas escolas vizinhas e no bairro. Em 2013, estas sementes brotaram em cinco bicicletadas intercomunitárias com sua própria pedagogia de responsabilidade social (em particular para meninos em alto risco), em nosso Cine Coruja de filmes independentes em sessões livres e para jovens, em nossa biblioteca Folhas da Vida ao ar livre, e em nossa própria Universidade Comunitária dos Rios. A Amazônia é tão fértil!”.
O mundo grita por um debate imediato
Em realidade, esta fertilidade é, na avaliação do projeto, uma mistura potente de necessidades especiais sociais e da riqueza e da generosidade da cultura popular da região amazônica. A grandiosidade e beleza das ideias do Projeto e a urgência de sua intervenção socioeducativa a partir das artes na busca de um debate sobre a industrialização da Amazônia motivaram projetos de 30 países a colaborar no financiamento do Festival em 2013. “Isto impressionou os jovens e pais no projeto”, explicou Manoela Souza, gestora do Rios de Encontro. “Sentiram a solidariedade, a preocupação e a presença do mundo, gritando por um debate imediato.”
“Este reconhecimento mundial do projeto é justo”, disse Zequinha Sousa do Cabelo Seco, ele mesmo reconhecido como mestre de cultura popular por sua atuação no Rios de Encontro. “Quando nós coordenadores adultos estávamos no encontro da Rede Brasileira de Arteducadores no Rio Grande do Sul em Outubro, os jovens assumiram a responsabilidade inteira pela continuidade de todos os projetos e suas oficinas. Que melhor prova de que o projeto está cumprindo sua palavra e princípios?”.
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