Ricardo Salles, Bolsonaro e ‘milícias da Amazônia’ devastam imagem do Brasil no mundo

Ministro do Meio Ambiente e Bolsonaro são alvos de senadores norte-americanos, do STF, de governadores e de setores da PF

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Foto: Sérgio Lima/Poder360)

Por Eduardo Maretti.

A poucos dias da cúpula sobre o clima, organizada pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, é enorme a pressão, interna e externa, sobre o governo de Jair Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O encontro, virtual, será realizado nos dias 22 e 23 de abril. Nesta sexta (16), foi divulgado que 15 importantes senadores do Partido Democrata enviaram carta ao presidente norte-americano na qual afirmam que o colega brasileiro dá “sinal verde” a criminosos ambientais. Os parlamentares afirmam que Bolsonaro procura “enfraquecer a proteção dos territórios indígenas, que muitas vezes estão sujeitos à invasão por madeireiros, garimpeiros e fazendeiros ilegais”. Acrescentam que o presidente brasileiro “ridicularizou publicamente” o Ibama, que é o principal órgão público de regulação, proteção e fiscalização ambiental.

Governadores de 23 estados enviarão carta a Biden, pela qual se colocam como interlocutores do governo dos EUA em questões ambientais, em contraposição ao governo federal. E os partidos de oposição na Câmara dos Deputados anunciaram que vão propor a convocação de Salles para que o ministro dê explicações sobre a notícia-crime enviada por Alexandre Saraiva.

Milícias da Amazônia

Os atuais gestores do Ministério do Meio Ambiente “pactuam com grileiros, madeireiros e garimpeiros ilegais, grupos equivalentes a milícias da Amazônia”, diz Miriam Gomes Saraiva, do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “Eles atuam ignorando a lei, muitas vezes fazendo pactos com poderes locais, que fazem vista grossa à situação”, acrescenta. Os membros do governo Bolsonaro nem “sequer têm argumentos para defender práticas que, pela lei, são ilegais. Por isso ficam tergiversando. Isso é chocante, porque todo o mundo vê o que está acontecendo”, afirma a professora.

Ela faz uma analogia fotográfica entre o período do regime militar no Brasil e o atual cenário com Bolsonaro e Salles. São imagens simbólicas. Uma foto do período da ditadura mostra o ex-presidente Emílio Garrastazu Médici e o então ministro dos Transportes, Mário Andreazza, sorridentes, em frente a uma placa afixada em um tronco de castanheira, em trecho da rodovia Transamazônica, orgulho do regime. Em imagem recente, Ricardo Salles aparece em frente a enormes troncos de árvores derrubadas. As imagens falam por si.

Ricardo Salles, Bolsonaro e a insolência

Aparentemente alheio à repulsa que o governo que representa provoca no mundo, na quarta-feira (14) Salles chegou a bater boca com o comissário da União Europeia para o Meio Ambiente, Oceanos e Pesca, Virginijus Sinkevicius. “A Europa não pode mais tolerar desmatamento, legal ou ilegal, e isso também não ajuda a economia brasileira”, disse o lituano. O brasileiro retrucou dizendo que as emissões de poluentes do Brasil são menores do que da Europa. “Estamos dispostos e temos feito tudo para contribuir com o combate às mudanças climáticas”, afirmou Salles. O governo brasileiro diz querer apoio financeiro internacional para combater o desmatamento na Amazônia.

“A questão não é quem é mais poluente, mas quem está em ascensão e em redução. O critério não é quem polui mais, mas quem está em movimento de redução”, diz a professora da Uerj. Outra questão, entretanto, é saber se uma eventual queda de Ricardo Salles mudaria alguma coisa sob o governo Bolsonaro na questão ambiental brasileira. Isso porque, assim como a pandemia de coronavírus, que preocupa todo o planeta, “se mudar o ministro vai ser só a fachada”, observa Miriam Gomes.

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