Por Nicolás Romero.
No mesmo dia em que foi acordado um cessar-fogo na fronteira da Palestina ocupada com o Líbano, o conflito armado com os jihadistas apoiados pelos EUA foi reactivado no nordeste da Síria.
Grupos jihadistas e insurgentes, liderados pelo grupo militante islâmico Hayat Tahrir al-Sham e apoiados por aliados turcos, entraram em Aleppo, a segunda cidade da Síria, em 29 de novembro, pela primeira vez em oito anos. Esta cidade do norte do país é palco de uma guerra civil desde 2011.
Face ao avanço dos rebeldes, o Exército Sírio fechou as principais vias de acesso à cidade e suspendeu as operações no aeroporto, segundo a agência Reuters, citando três fontes militares. Estas mesmas fontes confirmaram que as tropas governamentais receberam ordens para realizar uma “retirada segura” das áreas estratégicas ocupadas pelos insurgentes.
Não devemos ser ingénuos, a pausa no Líbano foi a desculpa perfeita para reactivar o conflito armado na Síria. O objectivo é interromper o corredor que permite a ligação entre o Irão e o eixo da resistência (Iraque, Síria, Líbano).
Lembremo-nos do que foi a chamada “Primavera Árabe”, apresentada pelo Ocidente como uma revolta contra a ditadura síria, sabemos que foi uma operação de desestabilização típica dos ocidentais, para apoderar-se da Síria e das suas riquezas.
O papel de Turquia
A Primavera Árabe veio de mãos dadas com a revolta dos Curdos, um povo com populações na actual Turquia, na Síria e no Irão. Sob a desculpa de conter a revolta curda, a Turquia de Erdogan iniciou um conflito armado na zona nordeste da Síria, a mesma área onde operavam grupos jihadistas com o apoio dos EUA e de milícias curdas.
Hoje a Rússia (aliada do governo sírio) censura a Turquia por manter o controlo sobre estas zonas fronteiriças, por ter permitido o rearmamento de grupos jihadistas.
O papel do Irã
O Irã assume um papel fundamental na manutenção da continuidade do eixo de resistência face a esta nova ofensiva sionista-jihadista. O que está em jogo é a contenção da revolta, o que não será possível devido aos bombardeamentos russos, exigirá um avanço por terra onde o Irão terá de assumir um papel fundamental.
Arábia Saudita
Na altura apoiou sectores jihadistas contrários ao governo. Com base no acordo histórico alcançado com o Irão, no contexto da sua entrada nos BRICS, a mudança geopolítica deverá levá-lo a deixar de ser uma base de apoio aos insurgentes.
O papel da Rússia
A base naval de Tartus faz parte do porto do Mar Mediterrâneo da cidade de Tartus, na Síria, utilizado pela Marinha Russa. Fica ao norte da própria cidade, na província de Lakatia, e a cerca de 158 quilômetros em linha reta,1? a noroeste, da capital síria, Damasco. É, em importância, a primeira base naval fora da Rússia e a única no Mediterrâneo.
Tartus é o segundo porto civil mais importante da Síria, depois do porto da cidade de Latakia.2 Esta cidade está ligada por linha ferroviária à cidade de Tartus e à própria base russa. As instalações russas, atualmente em desenvolvimento, podem acomodar 4 navios de médio porte de até 100 m nos dois berços flutuantes existentes. Ao norte, na mesma província ou província síria, fica a base aérea de Khmeimim.
A Rússia tem um interesse geopolítico na Síria, por isso, ao manter a sua política de apoio militar ao governo sírio, fará o seu melhor para neutralizar rapidamente o novo confronto armado.
O presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, já enfatizou, a respeito do lançamento ocidental de mísseis de longo alcance em território russo a partir de território ucraniano, “o conflito regional se transformou em um conflito global”. Falando figurativamente, já estamos numa terceira guerra mundial. Cada teatro de operações está ligado a um conflito global e é assim que devemos analisá-lo. O “cessar-fogo” no Líbano transferiu temporariamente o conflito para a Síria.