Reurbanização ao modo nosso

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Experiência do Rio debatida por profissionais estrangeiros

Por Edgard Catoira. 

O Rio sedia a conferência Urban Age, nos dias 24 e 25 de outubro, no Palácio do Itamaraty. O evento é organizado pela inglesa London School of Economics and Political Science e pela alemã Alfred Herrhausen Society, do Deutsche Bank. A meta é reunir líderes municipais, investidores, designers, acadêmicos e ativistas para discutirem questões-chave enfrentadas atualmente pela sociedade urbana.

No Rio, de acordo com os organizadores, “a conferência abordará a maneira como projetos de grande e pequena escalas estão afetando – de forma positiva e negativa – o bem estar social e econômico das populações urbanas. Poucas cidades no mundo estão mudando no mesmo ritmo e escala do Rio de Janeiro, que enfrenta os problemas e oportunidades do crescimento econômico e das mudanças sociais. A cidade está investindo em grandes projetos desenvolvidos para melhorar a acessibilidade, a infraestrutura urbana, a segurança e a integração social para o futuro – tudo em meio aos holofotes internacionais da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.”

Os estrangeiros que estiverem na conferência, de acordo com o programa, serão recepcionados pelo governador Sérgio Cabral e pelo Prefeito Eduardo Paes. É, nitidamente, um evento para inglês ver.

Cidades como Barcelona ou Vancouver também passaram por grandes obras antes de eventos internacionais. O que os cidadãos herdaram foram cidades renovadas, modernas, com inovações arquitetônicas belíssimas, locais de lazer e transportes públicos fartos, baratos.

No Rio as obras são realmente faraônicas, dignas de holofotes internacionais – mas o legado das grandes transformações que estão sendo feitas no momento parece ser o menos importante. Os que vivem no Rio não concordam com diversas mudanças que estão sendo feitas: o metrô, por exemplo, como já discutido aqui várias vezes, antes mesmo de ter a obra concluída até a Barra da Tijuca, já se tornou um projeto inviável para o bem estar da cidade. Os trens estão sempre lotados em todo seu trajeto, que se resume numa tripa – e não numa rede – imposta pelo governador, mesmo com a grita de urbanistas.

O que mais se nota nas grandes frentes de reurbanização e revitalização da cidade são interesses imobiliários. Os locais mais interessantes, com autorização de prefeito e governador, e aprovação de seus colaboradores que fazem maioria na Câmara e Assembleia Legislativa, estão sendo selecionados para a construção de grandes espigões (e, já que estamos no assunto, é bom lembrar que junto à Lagoa da Barra serão construídos belíssimos condomínios – mesmo com o bairro apresentando, hoje, um engarrafamento perene). O cidadão comum não terá benefício algum. Em compensação, as empreiteiras – as mesmas que custeiam campanhas eleitorais e benesses às autoridades – vão encher as respectivas burras com empreendimentos milionários.

A respeito das alterações na zona portuária, a arquiteta Rossana Tavares e Laura Burocco, pesquisadora do Ibase, pós-graduada em sociologia urbana pela Uerj, resumem a questão em texto publicado na página:

http://www.fase.org.br/v2/pagina.php?id=3506, na qual afirmam:

“É opinião majoritária entre os moradores da região que o projeto de revitalização da zona portuária, tanto o Porto Maravilha quanto o Porto Olímpico, não irão beneficiá-los. A reclamação mais rotineira é por não terem participado da elaboração da iniciativa, nem serem informados sobre ela. A intervenção municipal retoma inclusive a antiga política de remoção de moradia, aplicada nas favelas cariocas no século passado. Outro alvo recente são as ocupações em prédios públicos e privados, antes vazios e abandonados. O fenômeno é recente no Rio de Janeiro e, de certa forma, responde ao antigo problema de ausência de uma política habitacional para a população de baixa renda.”

Resta alertar os estudiosos presentes ao Urban Age: cuidado. Vejam lá o que vão aprender nesta experiência brasileira! Os projetos que vão ver são bonitos – e ficarão lindos, como tudo que é feito no Rio. Só que não melhorarão a vida da cidade.

Afinal, este é um plano elaborado por espertinhos, que preferem Paris ao Rio de Janeiro.

Fonte: Carta Capital – Blog do Edgard

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