#NossaOpinião
Editorial do dia 30 de junho de 2020, lido por Tali Feld Gleiser.
Era 28 de junho de 2009 e a redação do Portal Desacato descansava na Ilha de Santa Catarina. O pretérito imperfeito foi sacudido pelo assombro e a necessidade de ligar tudo e denunciar o que acontecia: “Em Honduras deram um Golpe de Estado”. Se estremecia aquela paz relativa que vivia a democracia da Pátria Grande desde que o povo de Caracas desceu dos morros para libertar o Comandante Chávez. A casa do presidente Manuel Zelaya fora crivada de balas enquanto ele era sequestrado de pijama na frente de sua família.
Era muito cedo em Tegucigalpa, apenas nascia o sol dessa desgraçada noite que ainda se alastra por Honduras e América Latina. Era o aviso indelével de que o império e as elites latino-americanas não iam suportar, por menor que fosse, qualquer melhoria nas condições de vida dos nossos povos.
O controle do país foi tomado pelos patrões que tramaram o golpe com a coordenação de Billy Joya Améndola, ex-oficial hondurenho e assessor de segurança nacional do presidente Zelaya. Tiveram o apoio mal dissimulado do presidente Obama e da secretária de Estado, Hillary Clinton. Os latifundiários, a instituição católica, alguns pastores evangélicos, o narcotráfico e os setores militares voltavam ao poder.
Se inaugurava na terra de Francisco Morazán um modelo de golpes seriados com participação do poder judiciário, da mídia tradicional, dos parlamentos e, quando necessário, das forças armadas. Honduras se convertia em um laboratório onde experimentar o castigo que viria atormentar as repúblicas que ousassem contrariar os interesses do império ao sul do Rio Bravo.
A resistência hondurenha foi ativa e valente. Morreram trabalhadores, estudantes, jornalistas, indígenas, cafuzos, mulheres e estrangeiros que defenderam a democracia e o estado de direito. Morreram e ainda hoje morrem num país que sofre o açoite de um presidente ditatorial vinculado ao narcotráfico, Juan Orlando Hernández.
A nova metodologia golpista de Washington foi aprimorando-se e mais tarde foi a vez do presidente paraguaio Fernando Lugo perder o cargo em questão de horas. Depois foi o turno de Dilma Rousseff. O roteiro central era o mesmo e se tornou conhecido como lawfare. No entanto, quando precisaram usar o exército o fizeram, tanto em Honduras como 10 anos depois na Bolívia. A traição também fez parte desse novo método de recolonização da Pátria Grande e assim derrubaram a democracia no Equador onde o ex vice-presidente Jorge Glas foi injustamente preso e outros dirigentes tiveram que se exilar.
Tocou a Honduras estremecer-nos naquele dia 28 de junho, há 11 anos. Era uma tarde fria e chuviscava em Florianópolis, ou ao menos assim a lembramos desde a memória urgente, abraçando no tempo às irmãs e irmãos hondurenhos aos quais ficamos eternamente unidos na luta.
#Editorial #Nossa Opinião #Desacato13Anos #RededeJornalismoSolidário