Retrospectiva: Macri e o livro “Sinceramente”, tudo ou nada

Um livro assusta Mauricio Macri

Por Débora Mabaires, para Desacato.info.

Tradução: Tali Feld Gleiser, para Desacato.info. (Port./Esp.)

Enquanto o chefe de gabinete de Macri lança uma desesperada, e ilegal, campanha eleitoral pedindo para seus militantes políticos fazerem grupos de Whatsapp e tentem convencer desconhecidos para que voltem a votar neles, a senadora Cristina Fernández de Kirchner confundiu o governo com uma ação inesperada: publicou um livro. Na Argentina de hoje, isso foi um ato revolucionário: a edição se esgotou antes de sair à venda e já é um sucesso editorial.

A ex-presidenta apresentou o livro no próprio centro do poder: na Feira do Livro, que, além de ser organizada pelos principais operadores midiáticos do nosso país, ela é realizada no espaço da Sociedade Rural Argentina, uma entidade que combateu o povo argentino desde seus inícios.

Sob chuva torrencial, milhares de pessoas se amontoaram na frente da porta para vê-la passar sabendo que não conseguiriam entrar. Os canais de televisão transmitiram sua palavra ao vivo. O poder trocou de mãos, embora, institucional e formalmente, Mauricio Macri continue sendo o presidente.

O nervosismo que vinha manifestando em seus discursos públicos se transladou para todo seu gabinete e membros do partido que, sem dissimular, o expressam em voz alta.

O Poder Judiciário, o mais aristocrático e político dos três poderes, já se tocou e começa a dar sinais de querer recuperar a institucionalidade perdida.

Nas últimas horas a Suprema Corte pediu o expediente judicial do caso contra Cristina Kirchner que começará (?) a ser julgado na terça-feira, 21 de maio. Em uma causa em que ela é acusada de superfaturamento de uma obra pública, lhe negaram a apresentação de provas e não foram realizadas as perícias contáveis necessárias. Sem processo e sem provas, não deveria ter julgamento.

Ontem nos Estados Unidos, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, manifestou: “Como patriotas, democratas e amantes da liberdade, gostaríamos que a Argentina não retrocedesse nessa questão ideológica”. Continuou se estendendo com a incontinência verbal que o caracteriza: “Na Argentina há a possibilidade de voltar a senhora ex-presidente e, em voltando, nós podemos correr o risco de, apesar de a economia deles não estar indo bem e o populismo voltar àquele local, nós termos uma nova Venezuela no sul da América do Sul”. Ele já tinha expressado que: “Ninguém aqui vai se envolver com questões de fora do nosso país. Mas, como cidadão, tenho a preocupação de que volte o governo anterior ao do Macri… A presidente anterior era ligada a Dilma, Lula, à Venezuela de Maduro e Chávez, a Cuba”.

O mandatário brasileiro falou sem ficar vermelho enquanto recebia um prêmio em que a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, o reconheceu como “personalidade do ano” e se reuniu com o ex-presidente estadunidense e segunda geração de assassinos, George W. Bush.

Presidentes títeres de corporações estrangeiras se unem para impedir a livre vontade dos povos e permitir a espoliação de nossos países.

Mauricio Macri sonha e faz tudo o possível para impedir a chegada à nova presidência de Cristina Fernández de Kirchner ao mesmo tempo que entrega três concessões petroleiras no Mar Argentino, em frente à base militar da OTAN, a uma empresa britânica. Desta maneira, outorga territorialidade ao usurpador das Ilhas Malvinas e coloca toda a América Latina em perigo quando cede posições geoestratégicas nas proximidades do passo bioceânico.

Violam a Constituição nacional e todas as leis que se interponham em seus desejos mais primitivos.

O desespero do regime macrista é duplamente perigoso. Sabe que as confusões cometidas e toda a violação jurídica seriam julgadas se se estabelecesse de novo o Estado de Direito na Argentina.

Mauricio Macri está ciente de que já não engana mais ninguém e mostra que está disposto a tudo. Seus amigos dos Estados Unidos e do Fundo Monetário Internacional o estão ajudando e, para isso, também violam suas próprias normas.

O povo argentino segue expectante, tentando sobreviver à brutal inflação que engole os salários e aos problemas gerados pelas políticas do governo. A única esperança é chegar ao processo eleitoral para votar em alguém que represente os interesses do povo e não os das corporações multinacionais.

Alguns operadores do regime estão percebendo o desabamento e acabam de perceber que são a cara de tudo aquilo que faz as pessoas sofrerem, e elas estão começando a perder a paciência. Alguns renunciam a seus cargos, outros conseguem bolsas e vão embora do país. Outros são resgatados pelo poder midiático e trocam de emprego se mostrando, de repente, a favor de causas nobres e populares.

Um simples livro conseguiu mexer nas engrenagens e agora tudo se move, tudo se transforma a cada minuto.

A batalha pela libertação está apenas começando e, dessa vez, é tudo ou nada.

Débora Mabaires é cronista e mora em Buenos Aires.

 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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