Na cabecinha
Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.
O dono da bala comemorou como quem ganha uma medalha
Talvez tenha ganho. Talvez ganhe
É de conhecimento geral a necessidade de vibrar perante alguma conquista
O homem que mandou o dono da bala entregá-la vibrou também
Afinal, ganhou uma eleição com a promessa de fazer do sangue instrumento de ordem
O procedimento foi o considerado um sucesso
Mesmo que este procedimento implique em sangue
Óbvio que este sangue é do outro
Óbvio que a vibração é pela sequência do projeto que visa corpos na vala
O estado ri o riso da glória e resolveu o problema exterminando
O estado… quem deveria possibilitar outros caminhos
A gente morre toda vez que alguém morre na bala de quem deveria cuidar
Não parece, mas é em nós também
A gente põe a mão na cabeça em desespero ou proteção
E clama para que se faça alguma justiça com quem se faz de justo matando
Porque o estado ri o riso da glória e resolveu o problema exterminando
Havia um seqüestro
Reféns
E o estado não percebe seu fracasso
Quando há um seqüestro… reféns
O estado não percebe a sucessão de erros
Não!
Sabe o que quero dizer?
Que um governador vibrou como um atacante após um gol
Uma morte
O fim de uma vida que é de sua responsabilidade
Comemorou o fim de uma vida
O sujeito disse que ia mirar na cabecinha
Eis a resolução
Ganhou a eleição!
O sujeito disse que ia mirar na cabecinha
Eis a resolução
O fato!
O homem do poder não entende que todo o evento é a síntese de um fracasso
E que aquela bala, aquele corpo
São derrotas! Fracassos
Não entende e vibrou
Tudo isso para dizer que tinham reféns, um seqüestro
Um acesso paralisado por horas
E a grande vitória foi a morte
Tudo isso para dizer que um governador
Falava sério e muito sério ao falar sobre “mirar na cabecinha”
E que o grande projeto é esse
Corpos mortos pelo estado
E a expansão dos cemitérios
Não se esqueça: um governador vibrou como um gol…
Uma morte.
Guigo Ribeiro é ator, músico e escritor, autor do livro “O Dia e o Dia Que o Mundo Acabou”, disponível em Edfross.
A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.
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