Desde que o sistema de cotas foi adotado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2014, o número de alunos que se declaram negros ou pardos aumentou em 71%. Sete anos atrás eram 21,3 mil universitários na instituição com esse perfil étnico e agora o contingente chega a 36,6 mil. Os dados são de um levantamento realizado pelo portal G1.
“Na medida em que, em 100 anos, uma universidade criada para e pelas elites implementa uma política pública que consegue modificar substancialmente sua ocupação étnico-racial, já podemos perceber o quanto avançou na pluralidade e representatividade. Mas ainda há um longo caminho a se percorrer”, explicou Denise Góes, coordenadora da Câmara de Políticas Raciais da UFRJ.
Formalmente estabelecida em 2012 por meio de uma Lei Federal, o sistema de cotas na educação superior brasileira define que pelo menos 50% das vagas de universidades públicas devem ser destinadas a alunos que realizaram todo o Ensino Médio em escolas públicas. Dessa metade, 50% das vagas são destinadas a estudantes em condições econômicas vulneráveis, oriundos de famílias que vivam com menos de 1,5 salário mínimo mensais por integrante. Dentro desse universo que leva em consideração os aspectos socioeconômicos, as vagas vão sendo distribuídas também para aqueles que se declaram negros, pardos, indígenas ou pessoas com algum nível de deficiência.
“A cota não é só resgate de uma grave injustiça histórica, a cota é uma oportunidade de termos uma sociedade mais democrática. Locais mais diversos contribuem para reduzir esse discurso do ‘nós contra eles’, para que o país tenha um projeto de desenvolvimento a partir das visões de todos os segmentos, classes, cores e bairros. Então, a cota não é só importante para o cotista, a cota é importante para a democracia”, falou ao G1 Ricardo Lodi Ribeiro, reitor da Uerj.
Em relação à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), dirigida por Ricardo Lodi, um dado que chama a atenção é a diferença nos índices de evasão e de conclusão dos cursos entre alunos cotistas e aqueles que disputaram a chamada “concorrência ampla”.
A Uerj foi uma das primeiras universidades do país a adotar o sistema de cotas, ainda em 2013, e nesses 18 anos sob vigência da regra constatou que o percentual de evasão entre os alunos cotistas é de 30,5%, ao passo que entre os não cotistas o número sobe para 44%.
Impressiona também o índice de formados entre os dois grupos, que joga por terra os discursos mais conservadores que afirmar serem esses alunos vindos do sistema de cotas menos preparados. Apenas 30% dos que ingressam na Uerj pelo regime de “concorrência ampla” conseguem se formar ao final do curso, enquanto entre os cotistas eles são 42% do total de alunos.
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