Resposta de Índio ao ataque da RBS

Por Cris Mariotto.

indiosCompanheiro, camarada, amigo.

Muitos acompanharam as calúnias, difamações e injúrias que venho sofrendo desde minha prisão, em 11 de julho de 2013. Não foram poupadas acusações, deturpações e ilações sobre minha pessoa. Nunca foi me dado direito de responder ou sequer foi promovido o direito ao contraditório pelo qual o bom jornalismo deveria primar e, sabemos todos nós que lutamos, não é o caso da imprensa corporativa nacional. Fiquei em silêncio nos ataques anteriores, sei que estes foram dirigidos aos lutadores e que eu fui um dos que foram citados, sei que tentaram atingir a todos e todas. Não foi lida uma reportagem na qual o jornalista teve a prudência de me ouvir questionar os métodos militares e repressivos utilizados durante minha prisão. As matérias veiculadas apenas aludiam a minha condição ou não de indígena. Se deveras eu era um índio, que raios estava fazendo em uma greve geral de trabalhadores? Insistiam de que se eu era índio mesmo, não deveria estar ali! Se eu era índio mesmo, estava no lugar errado!

Pois quem pensa isso é que está errado. Lugar de índio brasileiro é na luta de classes, ao lado das classes subalternas, ao lado dos oprimidos, ao lado dos revolucionários socialistas, comunistas e anarquistas, de todos os que lutam pela emancipação social da humanidade. Afinal, o índio também está nessa condição.

Sou formado em Serviço Social. Faço mestrado na UFSC. Sou reconhecido como Guarani pelos meus parentes, porque sou filho de Guarani. Logo, sou índio, nos termos assegurado pelas respectivas leis vigentes, tanto o Estatuto do Índio, a Constituição, a 5051/04 e a 169 da OIT. O colunista – não jornalista – suscita que posso ter me autodeclarado para obter certas vantagens sociais e politicas que, aliás, inexistem. Somente um desinformado acredita que ser indígena no Brasil tem alguma vantagem, ou é atendido por algum programa, ou projeto especifico. E o pior é que disseminando a desinformação, os desinformados – ou mal intencionados? – acabam por formar a opinião da maioria.

O Moacir Pereira não é jornalista, é colunista, talvez por isso se sinta no direito de dizer o que quiser, sem precisar comprovar o que diz. O mesmo faz acusações levianas e preconceituosas, ao anunciar que sou conhecido da polícia e que engano a justiça. Isso eventualmente incita o leitor a deduzir que sou um tipo de bandido ou agitador profissional da política. Não sou bandido. Mas, sim, faço política. Porque sou um cidadão brasileiro e tenho esse direito, da mesma forma como o Moacir tem. Ele também faz política, só que se esconde atrás da impostura da imparcialidade.

Por último, contribuo no mandato do vereador Lino Peres, de forma não remunerada, como um militante filiado a PT. Também atuo, por ser reconhecido pelos caciques do Estado de Santa Catarina, como secretário da Comissão Nhemonguetá de caciques Guarani, sendo um assessor não remunerado para questões étnicas envolvendo a questão indígena. Sou filiado ao PT há 16 anos, membro do setorial indígena por muito tempo e coordeno a extensão para povos indígenas da UFSC e do ministério das comunicações junto aos Guarani do Estado. Isso não é crime, nem agitação política. Isso é trabalho e compromisso.

Desde o início da “Ocupação Amarildo”, nas margens da SC-401, bairro Ratones, em Florianópolis, o blog do colunista Moacir Pereira, e a coluna do Rafael Martini, do grupo RBS, reiteradamente recorrem à tese de “invasão criminosa” para denominar a organização e especulam sobre minha honra, identidade e intenções.

No dia 17 de fevereiro, em seu blog, o colunista utilizou os termos discriminatórios já conhecidos, para me agredir, vale dizer: “fajuto, enganador da justiça e conhecido da PM e guarda municipal”. Da mesma forma age seu colega, Rafael Martini. Por conta desse abuso, lavrei um BO contra os dois e estou representando-os judicialmente para que comprovem o que alegam. Sob o título “Índio fajuto defende tese”, Moacir Pereira tentou atacar minha honra. Como já disse, sou formado em Serviço Social e mestrando na UFSC. Desde quando isso é crime ou configura algum problema? Um índio defender uma dissertação só pode ser um problema para um racista, preconceituoso e carregado de ódio de classe e ódio às diferentes etnias. É só o que se pode pensar desse senhor, que reproduz o velho ódio das elites contra os verdadeiros donos desse país.

Pois os ditos colunistas, em vez de discutirem ideias, especulam sobre meu local de nascimento, que sim, é na cidade de Osasco (SP) e sobre o meu nome, que não é “nome de índio”. Acaso não sabe o colunista que os Guarani povoam todo o território nacional? E o meu nome? Não há nome mais índio do que um nome cristão, uma vez que o cristianismo foi imposto pelo invasor. Meu nome é Cristiano (em espanhol, o que nasceu em cristo) e alguns devem saber que após a lei dos Diretórios Indígenas do Grão Pará ( 1700) foi proibido falar qualquer idioma nativo e tornou-se obrigatório o batismo com nome e sobrenome cristãos. No meu caso, se não fosse o regime do patriarcado que impõe que o nome dos pais (homem) prevaleça em vez do nome materno, eu deveria me chamar Cristiano Souza, sobrenome muito comum entre os Guarani de São Paulo. O nome da minha mãe é Angelita de Souza… Angelita, que significa pequeno anjo. Pouco cristão, não é mesmo? E, Souza, sabemos, é português, tornado obrigatório por conta da dita lei.

Refuto a afirmação do pretenso jornalista Moacir Pereira e do péssimo profissional Rafael Martini sobre as alegações de que no momento da prisão neguei minha identidade com medo de ir preso na Polícia Federal, que, aliás, é bem mais preparada do que a militar. Assim, eu não seria bobo em mudar de polícia, se fosse o caso. Os três advogados que foram chamados pelo MPL para minha defesa, são testemunhas de que eu não fui preso com o cocar, que comumente uso. Este ficou no chão (junto com minha aliança), durante o espancamento. Foi recuperado mais tarde pelo MPL e entregue pelo companheiro Marcelo Pomar após minha liberação. Assim, Rafael Martini mente ao dizer que retirei o cocar na hora que iam supostamente me transferir para a Polícia Federal. O que aconteceu realmente é que a delegada de plantão, e não o secretário – mais uma mentira do Rafael Martini – especulou sobre o que fazer, uma vez que se tratava de um cidadão indígena que estava preso. A delegada ligou para o delegado de plantão da PF e este a informou que indígena preso na cidade deve ser processado na cidade e que ela deveria apenas enviar uma cópia para PF para ser acompanhado pelo delegado. Isso foi o que aconteceu.

Peço a você companheiro, camarada, amigo, que não concorda com a mentira que criminaliza aqueles que lutam, que envie uma nota de repudio ao Diário Catarinense relatando fato e rechaçando o péssimo jornalismo e colunismo que este veículo sustenta.

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