Do Sintrasem.
Sem nenhuma surpresa, a direção do Sintrasem tomou conhecimento de uma nota publicada no jornal Notícias do Dia nesta quinta-feira (8), com o título “Sempre Alerta” – que por si só, já representa uma grande afronta à comunidade escolar de Florianópolis. Alerta está a categoria em greve: Essencial é a vida!
O texto parece que foi escrito pelo Secretário de Educação da Nova Zelândia – um dos países que melhor controlou a pandemia, com apenas 26 mortes até o momento.
O secretário escreve que o retorno precisa garantir “os cuidados necessários para que a pandemia se mantenha controlada”. Controlada, secretário, com o Brasil batendo recordes diários de mortes? O senhor ignora os 799 óbitos em Florianópolis, o colapso do sistema de saúde, a saturação da capacidade de internação hospitalar e a alta velocidade da transmissão do vírus.
O secretário afirma que a comunidade escolar acumula inúmeras experiências positivas com a SME antes da pandemia, pois suas “promessas”, como ele fala, sempre foram cumpridas.
Secretário, o que o senhor acha de chamar as comunidades escolares das EBMs Paulo Fontes, Alfredo Rohr, Albertina M. Dias, ou dos NEIMs Armação, Vila Cachoeira, São João Batista, Poeta Cruz e Souza, Escola desdobrada Jurerê, apenas para citar algumas entre tantas, para que possam atestar sua afirmação?
Sabemos que você não fará. O seu discurso de diálogo com as comunidades é hipócrita. Estas e outras unidades tiveram várias promessas e prazos não cumpridos pela secretaria. Toda a comunidade escolar é testemunha disso.
As unidades escolares da rede passaram por problemas de desabastecimento de alimentação escolar, de material de limpeza, de material pedagógico e de falta de profissionais. E agora, após um ano de pandemia, o secretário vem a público com um texto para falar de protocolos de higiene. Na verdade, a situação exige discussão de protocolos de segurança sanitária, o que nós defendemos, algo muito mais complexo do que simples protocolos de higiene.
O secretário, inclusive, em seu texto, depõe contra o trabalho de apoio pedagógico e contato com as famílias realizado até este momento pelos trabalhadores da educação. O discurso muda conforme o interesse político: se antes os trabalhadores que desenvolvem as atividades remotas eram elogiados, agora são questionados ao afirmar que há privação de apoio pedagógico e de contato direto com a escola.
Secretário, como ousa fazer tal afirmação? As entregas de atividades, as avaliações, o conteúdo produzido e publicado no portal (que os trabalhadores tiveram que pagar de seu próprio bolso para viabilizar plano de dados de internet), o atendimento que as equipes fizeram com as famílias nesse período, a entrega de cestas básicas: são para o secretário ausência de apoio pedagógico e contato com a escola?
Lamentável desqualificar o trabalho da rede dessa forma, publicamente.
Em que pese nossa opinião sobre o ensino remoto, nunca negamos o papel que os trabalhadores realizaram nesse período, e que o secretário agora não reconhece.
O saldo positivo da retomada das atividades, citado no artigo, não menciona todos os afastamentos que já aconteceram de crianças e profissionais, sejam eles da rede ou terceirizados, pela Covid-19. O secretário simplesmente ignora as mortes que já ocorreram e os trabalhadores que estão em internação hospitalar neste momento.
A confiança da comunidade no governo já não existe, secretário. Isso é um faz de conta que só o senhor e o Jornal Notícias do Dia afirmam existir.
Um, porque recebe verbas milionárias de publicidade, e outro porque é integrante deste projeto político de destruição do serviço público e de negação da ciência, um projeto negligente com as vidas da comunidade escolar. A prova disso é que as famílias não estão enviando suas crianças para a escola.
No artigo, o secretário já dá uma pista de quem serão os responsáveis quando explodirem os casos nas unidades escolares. Em seu texto, aparece a responsabilização dos diretores ao afirmar que cada gestor escolar já recebeu as orientações – como se orientações fossem suficientes, sem nenhuma garantia do governo de vacina para todos, de testagem, de EPIs, de profissionais e de estrutura física adequada.
Ou seja, no final, o discurso já está pronto: quando tudo der errado, a culpa é do gestor da unidade escolar que não seguiu as orientações e da comunidade escolar que não colaborou com o plano de retorno proposto pelo governo.
Por último, secretário, ao invés de enviar notas pela imprensa, o senhor deveria ouvir os mais de 50 conselhos escolares que já se manifestaram contra o retorno das atividades presenciais na atual fase da pandemia.
O secretário deveria ouvir os trabalhadores em greve, que são os que estão presentes todos os dias nas unidades educativas e que conhecem melhor do que ninguém a realidade das escolas públicas. Para isso, o governo Gean precisa receber imediatamente a mesa de negociação eleita pela categoria.
#Essencialéavida #Sintrasem