Por Socorro Gomes.
A greve de fome dos prisioneiros políticos palestinos aproxima-se do primeiro mês e deve seguir mobilizando o apoio e a ação internacionais. A luta dos palestinos e palestinas encarcerados por Israel – hoje, mais de 6.300 homens, mulheres e crianças – é urgente e central na causa palestina pelo fim da ocupação israelense e pela libertação nacional. A ela se devem somar todos os defensores da justiça e da paz.
Mais de 1.500 palestinos e palestinas presos por Israel realizam uma greve de fome desde 17 de abril (Dia dos Prisioneiros Palestinos) para denunciar ao mundo as terríveis e degradantes condições de encarceramento. Reafirmam assim sua determinação de luta tanto por dignidade e respeito aos seus direitos humanos nos cárceres de um regime de ocupação militar criminoso quanto pela conquista da libertação nacional.
A prisão dos palestinos é uma das armas mais expressivas do Estado de Israel que, desde sua criação, utiliza o terror e a repressão sem limites como métodos para garantir o avanço criminoso sobre território palestino. Cerca de 70% das famílias palestinas já tiveram algum membro aprisionado por resistir à ocupação. Entre os 6.300 encarcerados atualmente, de acordo com a associação Addameer, 300 são crianças e 13 são parlamentares. As autoridades sionistas não se acanham ao violar de forma escandalosa o Direito Internacional Humanitário ou os direitos humanos para manter sua política de aprisionamento massivo, com o objetivo de enfraquecer o povo palestino.
A prisão de crianças, sob a acusação de atirarem pedras em tanques de guerra e soldados armados com fuzis M16, ocorre cotidianamente sob os olhos compreensivos da chamada comunidade internacional, assim como as detenções sem acusação baseadas em supostas informações secretas e que podem ser ampliadas pelo tempo que os invasores quiserem, as chamadas “detenções administrativas” que hoje atingem 500 pessoas.
Na tentativa de enfraquecer os palestinos e palestinas e seu movimento de libertação, que se transformou em sinônimo de bravura e resistência, o regime israelense já encarcerou mais de 800 mil pessoas, contando com a cumplicidade protetora da maior potência agressora de todos os tempos, os EUA. Ainda assim, a ocupação sionista tem fracassado na sua malsinada empreitada.
A solidariedade e o apoio para com a justa causa do povo palestino têm crescido em todo o mundo. Todavia, não o suficiente para fazer valer as resoluções das Nações Unidas para assegurar o Estado palestino, desde a proposta de partilha feita há setenta anos, através da resolução 181 da Assembleia Geral da ONU. O povo palestino tem a consciência histórica de que a única possibilidade de libertação e reconhecimento do seu Estado advirá principalmente de sua luta, à qual se junta a solidariedade dos povos de todo o mundo. Por isso, os palestinos e palestinas são punidos por Israel com a prisão arbitrária, a tortura, o deslocamento forçado, a brutalidade da repressão, a demolição de suas casas, a devastação ou despojo das suas terras, a execução, o apartheid, o genocídio, o exílio e a perseguição.
As sucessivas guerras, agressões e avanços de Israel sobre território palestino, abocanhando por meio da expulsão dos seus donos ou eliminação dos que resistiram, permitiram-no estender suas garras e fronteiras. O restante território palestino foi ocupado, fragmentado e usurpado por colonos israelenses e cercado militarmente. Uma infâmia.
Em total menoscabo às resoluções da ONU, o estado sionista também impede o acesso dos palestinos às fontes de água, aos bancos de pesca e às terras de agricultura, numa política perversa de tirar-lhes as mínimas condições materiais de sobrevivência. Com esta criminosa política, Israel já usurpou grande parte do território destinado aos palestinos na proposta de partilha. Para calar a resistência, as autoridades israelenses cometem toda sorte de crimes e violações, inclusive contra seu próprio povo. Em sua sanha imperialista, transformam jovens soldados israelenses em criminosos cruéis, para quem crianças palestinas devem morrer, ou perseguem uma significativa parte da sua própria população contrária à infâmia da ocupação.
Esta amplitude e urgência no apoio e solidariedade é imprescindível na construção de uma ampla coalizão em torno do imediato atendimento e da garantia dos direitos dos prisioneiros políticos, do cumprimento das resoluções da ONU de garantia do estado palestino, com suas fronteiras delimitadas antes da ocupação militar de 1967 e Jerusalém Oriental como sua capital.
O Conselho Mundial da Paz (CMP), em sua última Assembleia, em novembro de 2016, aprovou como prioritário o apoio à luta do povo palestino por seu estado livre, em que a greve de fome dos prisioneiros manifesta mais uma forma de indômita resistência.
A resistência é a única alternativa ao desaparecimento do povo palestino. Sem forças armadas (Marinha, Aeronáutica ou Exército), os palestinos resistem contra uma das mais poderosas potências bélicas do mundo em termos tecnológicos, numa demonstração de dignidade e força moral inigualáveis diante da assimetria da realidade imposta por um regime militar, colonialista e criminoso.
É inaceitável que a impunidade de uma potência que impõe o apartheid, cultivando o ódio aos palestinos estendido às crianças e adolescentes, seja aceita com naturalidade. Este regime deve ser repudiado por todos os que querem sinceramente a paz na região.
O CMP tem expressado seu apoio à luta dos prisioneiros políticos no âmbito da resistência nacional contra a ocupação israelense e do direito à autodeterminação. Em nossa solidariedade à luta do povo palestino e em rechaço contundente às políticas assentadas em crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos quotidianamente, também devemos exigir o fim da impunidade de que goza a liderança sionista em seu conchavo com as potências imperialistas, especialmente os Estados Unidos.
Denunciando maus tratos, tortura, violações dos seus direitos à saúde, à defesa, à visita familiar, os prisioneiros palestinos representam toda a luta nacional contra a opressão, o massacre, a tentativa de expulsão. O protesto é um libelo contra a omissão da própria ONU para com o povo palestino e a negligência frente a um compromisso firmado e não cumprido.
Repetimos a fórmula, até que seja concretizada: pela libertação dos prisioneiros políticos, o retorno dos cerca de cinco milhões de refugiados, pelas fronteiras anteriores à ocupação israelense dos territórios palestinos em junho de 1967 e Jerusalém Leste como a capital do Estado da Palestina. São posições de princípio das quais o povo palestino não arreda o pé. Por isso, reafirmamos nossa solidariedade total à causa palestina.
Fonte: Resistência.