Resgatar as russas de 17 neste 8M: Mulheres, nos tragam um novo mundo!

Início do século XX. As indústrias do capitalismo se espalham pelo mundo. As fábricas começam a fazer parte da rotina urbana nas cidades mais movimentadas da Europa, com a agitação dos negócios à todo vapor. Mas a empolgação dos grandes burgueses em novos mercados não se fazia presente na vida de grande parcela da população, e nela, menos ainda nas mulheres trabalhadoras. O dia começa ainda escuro, precisando enfrentar uma longa jornada de trabalho que supera as 12 horas, para ainda assim faltar comida para si e os filhos. E não bastasse o trabalho semi-escravo, o serviço doméstico tomava as horas que a mulher nem tinha mais, mas esse, aos olhos da sociedade, nunca existiu.

Assim, saindo dos subúrbios rumo ao chão de fábrica, como não olhar para o engravatado sorridente que cruza na rua, e sentir ódio, apenas muito ódio? Será questão de merecimento? A lógica não permite que seja. A estrutura econômica e social do capitalismo herdou das antigas classes dominantes o patriarcado como forma de dominação, o racismo e a homofobia. De novo, esse modelo societário só nos apresenta seu jeito de enganar, pois seus alicerces são medievais. Foi dessa forma, com um peso de séculos de superexploração nas costas e massacradas pela primeira guerra mundial, que as mulheres russas no duro inverno de 1917 disseram: Chega!

Em janeiro, a primeira fábrica têxtil de Moscou paralisa suas atividades. Mais de 80% dos funcionários são mulheres, e estas exigem melhores condições de trabalho e aumento salarial. Nicolau II, aquele que um dia havia sido Czar do Império Russo, à essas horas fugia para o horizonte tentando se salvar da fúria dos milhões de sublevados. Resta então ao recém formado governo provisório dialogar com as mulheres em luta. Mas o diálogo não têm sucesso, os mencheviques (que assumiram o governo) querem manter o país na guerra e exigem mais sacrifícios dos pobres. A greve se alastra por Moscou e Petrogrado (hoje São Petesburgo), as manifestações tomam conta dos centros urbanos da Rússia. São dezenas de milhares de mulheres, enfrentando a fome e a nevasca, que segurando suas faixas e cartazes em repúdio ao capitalismo não abandonam as ruas mesmo com a repressão à armas de fogo pela Polícia.

O que Kerenski (chefe do governo provisório) e os repressores não entendiam, era que o terror que tentavam instaurar àquelas mulheres já se fazia presente em suas vidas desde sempre. Com os assédios no trabalho e agressões em casa. Só a morte as impediria de seguir em frente.

O Partido Bolchevique, de revolucionárias incontestáveis como Krupskaya e Alexandra Kollontai, dirigiu de forma jamais vista na história, os oprimidos de toda a Rússia. Pois depois de sentir o futuro em suas mãos pela primeira vez nos conselhos populares (Sovietes), não aceitariam menos que isso. O socialismo era o objetivo. Mas para os mencheviques e reformistas, a Rússia como país atrasado e agrícola que era, deveria passar por um período de capitalismo. Em contraponto, Lênin alerta que esse período já aconteceu com a revolução democrática de fevereiro, a Rússia está pronta. Com uma burguesia dependente ao imperialismo como a russa, a tarefa de soberania nacional nunca seria realizada, assim, cabe ao próprio proletariado conquistar o poder para si e resolver as tarefas que a burguesia era incapaz.

8 de março foi o dia que as mulheres que ainda não tinham certeza, tiveram-na, de que os bolcheviques estavam certos. Kerenski negocia com os capitalistas europeus, enquanto os trabalhadores russos são massacrados no front alemão e nas ruas das cidades em manifestações, e foi a partir de uma dessas, que o dia internacional da mulher ficou instituído. Esse não é nosso governo, elas disseram. E passaram a marchar ombro a ombro com os revolucionários bolcheviques exigindo todo o poder aos sovietes. Assim começou uma jornada incansável de greves que estenderam esse conflito aberto até o início de Outubro. Leon Trotski organiza a inssurreição, aos tiros de canhão do cruzador Aurora, na madrugada de 26 de outubro (7 de novembro) milícias operárias invadem o Palácio de Inverno e prendem todos os ministros do governo.

A Revolução havia apenas começado. Acabar com a guerra e combater a fome eram as tarefas mais árduas que o novo governo soviético tinha à frente. Num país atrasado, de economia semi-feudal, se viu nos anos seguintes avanços que hoje no século XXI a burguesia ainda não conseguiu concretizar. Descriminalização e legalização do aborto, creches, lavanderias e restaurantes coletivos para que o trabalho doméstico e o cuidado das crianças fosse responsabilidade de toda a sociedade, direito ao divórcio e salários equiparados. Um novo mundo estava nascendo, fruto da insatisfação das mulheres trabalhadoras.

Mas os sacrifícios têm seus limites, senão mentais físicos. Anos de guerra e fome, somados à um baixo nível cultural graças ao analfabetismo, fez com que as massas se esgotassem. E quando Lênin morreu, era o momento perfeito. Stalin e sua camarilha de burocratas teceram sua teia pelo partido e o Estado. Acabaram com os direitos das mulheres, como o aborto e o divórcio. Criminalizaram a homofobia. Criaram uma imagem de “família soviética” onde as mulheres voltaram a serem donas de casa. A burocracia transformou uma ditadura DO proletariado [1], numa ditadura SOBRE o proletariado. E esse processo teve como resultado final a derrocada da URSS e a restauração do capitalismo 70 anos depois. E hoje, a vida das mulheres nestes mesmos países é mais degradada que 100 anos atrás sob o governo dos sovietes.

Hoje, temos essa história como lição para que os mesmos erros não se repitam. A educação dos trabalhadores é primordial para garantirmos o socialismo verdadeiro de Marx e Engels. Mas o que fica para este 8 de março, é que quando as mulheres se rebelam, é sinal de que um novo mundo está querendo surgir. Centenas de milhares contra o racismo e o machismo de Trump em diversas cidades dos Estados Unidos e mundo afora, centenas de milhares contra o feminicídio e por #NiUnaMenos na Argentina. Assim começou na Rússia, que assim comece hoje no mundo todo.

Mulheres, junto à classe trabalhadora nos tragam um novo mundo. Acreditem, 1917 ainda está por vir.

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