Artigo publicado originalmente no Monitor do Oriente.
Neste dia, ha 68 anos, o assalto ao quartel de Moncada marcou uma nova etapa da luta contra a ditadura do ex-sargento Fulgencio Batista, projetando a liderança de Fidel Castro e consolidando o Movimento 26-7 como liderança incontestável deste processo.
O quê: Ataque ao quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, pela juventude do Partido Ortodoxo, em oposição à ditadura de Fulgencio Batista. O ataque foi seguido de outro, ao quartel Carlos Manuel de Céspedes, no município de Bayamo. Ambos foram derrotados militarmente, mas operaram como trunfo político.
Quando: 26 de julho de 1953
Onde: Cuba
O que aconteceu? Cuba é, desde sempre, um farol latino-americano e caribenho. Alvo da mudança de projeção de poder e hegemonia quando da guerra Hispano-Americana, teve sua independência adiada diversas vezes. As palavras e a vida de personagens como José Martí caracterizam essa agonia histórica. Na prática, a ilha só obteve sua derradeira independência quando se liberta do jugo da influência dos Estados Unidos da América, quando da vitória na guerra revolucionária em 1º de janeiro de 1959.
O triunfo foi alcançado após passar uma epopeia em anos muito intensos, lutando contra o tirano de turno, o ex-sargento Fulgencio Batista. Com incidência sobre a tropa, o ex-golpista de 1933 se torna ditador de fato entre 1952 e 1959, antes passando por um período em que foi eleito democraticamente (1940-1944), aproveitando sua posição pró-EUA diante das tensões da 2ª Guerra Mundial.
O ataque ao quartel de Moncada resultou em mortes e prisão dos sobreviventes. Em 1955 houve a anistia e o posterior exílio de uma parcela destes ativistas, liderados pelo advogado Fidel Castro. No final de 1957, 82 militantes do já constituído Movimento 26 de julho cruzam o Golfo do México, desembarcam em Guantánamo e, apesar da emboscada que os atinge, conseguem se estabelecer na Sierra Maestra, dando início das operações das colunas guerrilheiras do Exército Rebelde.
O que aconteceu depois?
A guerrilha da Sierra Maestra, coordenando suas ações com outras organizações políticas e sociais, chegou ao triunfo na guerra revolucionária em 1º de janeiro de 1959. A vitória militar se deu na Batalha de Santa Clara, nos últimos dias de dezembro de 1958.
Além do Movimento 26 de julho, participaram da luta contra Fulgencio Batista o Diretório Revolucionário 13 de março, o Segundo Frente Nacional, o Partido Socialista Popular, e organizações estudantis e sindicais não diretamente vinculadas a estas organizações. Uma parcela destas forças organizadas constituíram as Organizações Revolucionárias Integradas e na sequência a fusão como um só partido político aos moldes da linha soviética, à época ainda existente.
Em 15 de abril de 1961, um conjunto de forças mercenárias financiadas e com apoio aéreo da CIA tentou invadir Cuba através do desembarque na Baía dos Porcos. A invasão foi descoberta pela inteligência cubana, proporcionando a resistência à agressão imperialista através do governo de John F. Kennedy.
Em fevereiro do ano seguinte, o presidente democrata dos EUA implantou o bloqueio econômico contra Cuba, colocando a ilha definitivamente na órbita soviética. O auge da tensão se deu quando da crise dos mísseis da União Soviética instalados sob o aval do governo de Havana, criando um cerco naval e com ameaças de ataque direto estadunidense contra o país soberano.
Após essas tensões, Cuba passou a ser considerada baluarte de uma política internacionalista e anti-imperialista, dentro e fora da América Latina. Com a dissolução da URSS, a situação econômica da ilha agravou-se e o bloqueio econômico promovido por Washington foi ainda mais aprofundado.
O momento atual
Em 2021, o regime cubano foi alvo de protestos internos com grande repercussão midiática, na sequência do aprofundamento das sanções contra a ilha que marcaram o governo dos Estados Unidos no mandato de Donald Trump e que foram mantidas por Joe Biden.
Dois problemas reais da economia cubana atual é o bloqueio econômico imperialista e os efeito das medidas de conversão das duas bases monetárias.
O professor de economia da Unicamp, Fernando Nogueira da Costa, aponta a base do problema atual, com a desvalorização da moeda, escassez de produtos e o risco real de inflação.
“Cuba fez uma reforma cambial, em dezembro de 2020, unificando o padrão vigente desde 1994. Duas moedas circulavam pela Ilha, o peso conversível (CUC), atrelado ao dólar, e o peso cubano (CUP), utilizado em todas as demais transações internas, inclusive o pagamento de salários. Importante para a expansão do turismo, o sistema acentuou a busca por dólares por parte da população, gerando o maior risco para hiperinflação.
A reforma elimina o CUC, unifica as taxas de câmbio, desvaloriza a moeda nacional e resulta em aumentos de preços internos e na eliminação de vários subsídios. A elevação da inflação em moeda local, quando os preços são convertidos da unidade de conta dolarizada para a moeda local, acentua-se diante da escassez de produtos.”
O outro tema real e concreto é o bloqueio imposto pelos Estados Unidos. Ou seja, são duas questões, sendo que a primeira é passível de ser solucionada internamente, por exemplo avançando em acordos de política externa junto à China. O bloqueio que impede o acesso a contas externas em dólar, ou a transacionar na moeda estadunidense, é mais complicado, mas ainda assim pode ter solução no médio prazo, diante de mudanças na arquitetura financeira mundial, que a torne menos atrelada ao dólar e aos EUA, como já vem acontecendo na Ásia Central
Cuba também lida com a diminuição do vigor ideológico de adesão ao movimento iniciado em 26 de julho de 1953 e se defronta com o desafio de promover maior abertura democrática interna, sem abrir mão dos amplos direitos sociais e da economia planificada.
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Bruno Beaklini (Bruno Lima Rocha Beaklini) é cientista político e professor de relações internacionais de origem árabe-brasileira, editor dos canais do Estratégia & Aná[email protected] | facebook.com/blimarocha
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