Estes relatos foram levantados por estudantes de jornalismo. A redação do Portal Desacato apenas retirou o nome por extenso dos entrevistados que são identificados por uma letra.
Redação
Na segunda-feira, 25 de outubro, policiais entraram na casa da G. Quebraram e vasculharam seu armário no período da tarde. Ela foi levada para a delegacia.
Ela trabalha de faxineira, tem uma filha e dois meninos.
C: estão com raiva da gente. Eu tenho um neto de dois anos que morre de medo de polícia, chora quando vê. Uma vez ele estava na rua e a polícia chegou dando cavalo de pau. Ele quando vê polícia, e até sonha, diz: “medo vó, medo”. “E é verdade, as crianças as crianças todas saem correndo quando vêem a polícia. Uma vez, a polícia veio, e as bicicletas ficaram todas jogadas, pois as crianças saíram correndo”.
Este relato é de uma senhora que diz que acha positiva a polícia entrar na comunidade, se tiver algo de errado. Ela disse temer reagir aos abusos, com medo de represálias: “olha, eu entendo que eles procurem gente aqui, mas quebrar cavaquinho na cabeça de morador, furar pneus e entrar na casa da G., mãe de bebe e faxineira, achei errado”, concluiu a mãe e avó depois de relativizar inclusive a invasão de domicílio.
“Eu fiz um mutirão em busca de todas as notas fiscais de tudo. Imagina se eles vem aqui, dizem que é roubado e levam tudo”?
Outro morador faz o mesmo relato sobre o medo de perder as coisas. Já aconteceu, com alguém.
A filha de 17 anos da moradora relata os xingamentos, a mãe, primeiro com medo, depois começa a se soltar reiterando e complementando as lembranças da filha. “eu estava olhando, porque os policiais estavam batendo em um homem”. Eles responderam: “tá olhando o que, vagabunda?”. Tinha muita polícia e me chamaram lá na frente, todo mundo foi pra lá. faz tipo uns dois meses que este tipo de operação começou. Antes, era uma ou outra viatura. Segunda feira, dia da invasão da casa da G. Chamaram todo mundo de fofoqueiro. Mostraram a soqueira para as crianças e disseram: “isso é pra pegar vagabundo”. Dias antes, xingaram o gaúcho. Ele estava arrumando a luz e falaram: “vai morrer aì, seu praga. Depois pega fogo e vocês reclamam”
Para uma senhora que chegava à noite, no dia dos pneus furados: “entra pra dentro de casa”.
Segunda-feira: dois carros na parte baixa e três na parte alta. tático, P-2 e PM.
Furo dos pneus:
Era dia do carreteiro da igreja. Galinhada. Segunda-feira. Entre 23h e 24h.
Relato de J.
A maioria estava dormindo eles vieram pelos becos a pé. Encostaram os carros nas entradas. Uns dois carros. PM. Uns a paisana. Estavam armados com uma 9 mm.
Eu estava dormindo. Pai, mãe e irmão. Uma vendinha. Acordei de dia e os pneus estavam furados. Entraram na casa do vizinho lado de cima. A gente escutou barulho, mas não quis sair. De manhã, saímos para buscar coisas para a vendinha até os vizinhos relataram que viram os próprios policiais furando os pneus. Na rua do lado. Furaram uns dois carros e uma moto. Fizeram muito alvoroço, os cachorros latiram muito. Acordamos e vimos. Quem tava pra fora de casa, eles bateram. Não tinha como falar com os policiais. Quem eles puderam intimidar pra entrar em casa, eles fizeram.
Entraram em algumas casas.
Todo mundo fica cabreiro. “eu falo, mas se a comunidade não me ajudar?”.
Eu sou um que tem medo de por o meu na reta. Sozinho não dá pra reclamar. Já levei porrada da polícia, por questão de ocupação. Eles têm memória. Eu nem tenho conhecimento das leis. Como vou enfrentar eles?
Eles deram o nome operação contestado.
Uns três dias antes, eles vieram no bar e abordaram os clientes. Fizeram com que eu saísse de detrás do balcão. Foi um alvoroço. Uma vez até obrigaram o bar a fechar. Eles não falam o motivo. No máximo, perguntam nomes. Se conhece alguém, se tem passagem, nome.
PNEUS – Morador de cima
Eles chegaram, implicaram com as bicicletas. Entraram dentro da minha casa. Era quase meia noite. Eu estava dentro de casa. Jantando. Bateram com o fuzil na porta da minha casa.
Entraram e começaram a revirar minha casa, mas eu não devo nada para eles. Moro eu, minha esposa e minha filha, mas elas não estavam.
Abri a porta, olharam, não acharam nada e foram embora. Não quebraram nada, mas logo que saíram, começaram a furar os pneus ali na frente. Eu vi eles furando os pneus. Eu estava na rua, eles mandaram eu ir pra dentro. Eu vi pela janela. Depois eles entraram na casa do lado. Ali os guris apanharam um monte. Muita coronhada, muito sangue, até na rua ficou sangue. Em mim não bateram.
Eles queriam que eu informasse para eles onde morava umas pessoas que eu nunca vi na minha vida. Eles falaram nomes. Eu falei que essas pessoas não eram daqui. “eu não conheço estas pessoas mesmo. Nunca vi”. Eles estavam procurando essas pessoas, mas entrando em qualquer casa. Á noite, fazer isso eu acho complicado. E se eu tivesse com minha filha de sete anos?”. Minha mulher também não está acostumada a ver polícia. Primeiro furaram o pneu do dono do bar. Depois, o daquele verde, depois daquele marrom e depois da moto. (que tava no beco).
Depois mais duas motos aqui e seguiram para baixo furando pneus. Três casas eles entraram. Eu não me sinto seguro com este tipo de ação. Me sinto inseguro. Com certeza. Não prenderam ninguém aquele dia. Começaram a bater no rapaz já na rua. “aqui não precisa de mandado, porque é invasão”. O rapaz da fábrica deve ter as filmagens, foi bem ali na frente. Pinto e conserto bicicletas. Eles mandaram eu tirar as bicicletas da calçada na hora. Eu só reconheço um do tático, um alemão alto. Quem entrou na minha casa foi o tático. E a PM ficou parada fora, foi ela quem fez a covardia com o rapaz. Eles ficaram enchendo o saco: vocês moram em terreno invadido e ainda ficam enchendo o saco dos outros”. Ficam uma meia hora aqui em casa.
Meia hora de terror. Eu cheguei a pensar em reclamar, mas eu passei por WZ as fotos dos pneus furados. Eu que tirei as fotos, mas eu exclui, tenho medo.
Nunca tinham entrado na minha casa. Eu fui preso uma vez, quando eu era de menor, eu traficava. Nem pegaram meu documento nada. Perguntaram se tinha passagem. Não estavam interessados em mim. “eu tenho passagem, mas tá pago o que eu devo pra vocês”. Não quero nem ver o documento, eles não quiseram ver. Fui preso em 2010, cumpri a pena. Não acharam nada de errado na minha casa.
VIZINHO I
Tava vindo eu e o meu colega. Tava na frente do portão e a viatura abordou. Eles já tavam aqui. A gente tava voltando pra casa. Isso era 22h30 – 23h00. Quase quebraram a minha cabeça. Deram uma coronhada com a pistola. E aqui do lado (mostra as marcas e galos na cabeça). Aí a abordagem foi na base de chute e coronhada. Nem perguntaram se tínhamos passagem ou não. Já foram batendo e perguntando: quem foi que tacou pedra na minha base?”. Eu tava morando aqui há somente uma semana nem sabia onde era a base. Tinha acabado de chegar de Biguaçu. Eu trabalho com pintura. Eu só entrei dentro de casa e já vieram. A tático veio junto. Na rua não chegaram a derrubar no chão. Me bateram no corpo todo. Fui pra casa e logo em seguida a tático chegou. Quem me bateu foi a PM. Palio weekend, a viatura.
Daí a tático entrou e perguntou um monte de coisa. Não bateu em mim. Em seguida, a entrou o PM xingando, mas a tático meio que impediu a agressão. A tático saiu na frente. Ele esperou eles irem embora. Quem me bateu foi o PM. A tático saiu, ele voltou e tocou o terror no barraco. Ali a gente apanhou muito.
Homem 2:
Ameaçou um monte. Ele mostrou um punhal. Ele me deu um monte de soco na cara e chute.
“eu sou cidadão, não tenho problema nenhum com ajustiça”. Ele recuou. O meu amigo tava ali sangrando, todo encolhido. Tinha apanhado já na rua. Daí ele pegou o cavaquinho que tava em cima de um banco e disse: o que tu tais olhando?
Ele atacou ele e só parou quando quebrou o cavaquinho na caebça dele. E ameaçou de novo com o punhal. Dizendo que era para a gente ir embora dali. Ele não vasculhou a casa: “quem tacou pedra na MINHA BASE???” —- De onde que ele tem base???? A base não é dele é do Estado… pensei.